A província de Inhambane, sul de Moçambique, perde anualmente cerca de 900 quilómetros quadrados de floresta. As autoridades comunitárias prometem levar à justiça os responsáveis.
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A caça de ratazanas, a produção de carvão vegetal e o corte de madeira para comercialização fora e dentro do país são as principais causas da desflorestação. "Estamos a falar anualmente de uma área de queima descontrolada de 900 quilómetros quadrados", afirma Imede Falume, delegado provincial da floresta e fauna bravia em Inhambane.
A causa número um é pois "o homem com 90%" de responsabilidade, devido à "agricultura intinerária, produção de carvão e afugentamento de animais". As pessoas "praticam a queimada e essa queimada depois alastra-se para áreas extensas", acrescenta Imede Falume.
A redução de áreas de floresta afeta a produção de madeiras. Pedola Pedro, comerciante de mobílias, produzidas a partir da madeira de Inhambane, lamenta a dimunuição de rendimentos.
A queima de "floresta está a afetar-nos muito. Ultimamente não temos madeira. Temos de nos desenrascar. Não temos muitas encomendas por falta de madeira", explica Pedola Pedro.
Com a escassez de matéria-prima aumentam os preços: "os custos são elevados e assim os clientes também não conseguem comprar a nossa mobília". "Se parassem com as queimadas sem controlo talvez, nos próximos anos, poderíamos arranjar madeira e os preços voltem à normalidade", espera Pedola Pedro, comerciante de mobílias.
Autoridades dizem estar a trabalhar
Rodrigue Forquisso, líder comunitário em Inhambane, promete levar à justiça quem for encontrado a queimar a floresta, sem que tenha motivos claros."Sobre as queimadas descontroladas, nós controlamos as pessoas. Se apanharmos uma pessoa a fazer esse trabalho e se o caso for grave, temos que a levar ao comando [da polícia]", afirma Rodrigue Forquisso. O problema deve ser resolvido "através do tribunal", acrescenta o líder comunitário.
Moçambique / Queimadas - MP3-Mono
José Sinequinha, residente em Maxixe, aponta o dedo às autoridades. "Um dos maiores problemas é que o próprio Governo não faz o fomento das técnicas de reposição [da floresta]. O Governo, como o maior agente económico, devia comprar essa madeira a madeireiros nacionais e produzir carteiras [escolares]. Isto estaria a impulsionar a economia nacional".
Por outro lado, as autoridades garantem estar a trabalhar, a fim de combater o problema da desflorestação na província de Inhambane.
"Nós estamos a usar vários meios, estamos a falar das rádios comunitárias onde a componente de sensibilização está patente, formação dos comités de gestão e estes são os grandes vinculadores junto das comunidades", assegura Imede Falume, delegado provincial da floresta e fauna bravia em Inhambane.
Nigéria: Auto-estrada no meio da floresta?
A floresta Ekuri, no sul da Nigéria, uma das últimas florestas tropicais intactas do país, está em perigo. O governo local quer construir uma estrada de seis faixas a atravessar a vegetação. A população está indignada.
Foto: DW/A. Kriesch
Protesto no paraíso
Até agora, nenhum meio de comunicação internacional veio até esta pequena aldeia, na floresta Ekuri. "É a primeira vez que alguém nos ouve", diz um dos habitantes que espontaneamente organizaram um protesto. O governo do estado de Cross River, no sul da Nigéria, quer construir uma auto-estrada gigante, no coração da floresta. Estes manifestantes temem perder a casa e os meios de subsistência.
Foto: DW/J. P. Scholz
Sem luz e sem estradas
Aqui, muitas pessoas sentem que foram deixadas ao abandono: Foram elas que tiveram de construir as pontes que dão acesso à aldeia. Não há água canalizada, nem eletricidade. Antes das últimas eleições, houve um político que os visitou - de helicóptero. Os habitantes dizem que ele ofereceu dinheiro e fez várias promessas. Mas, depois das eleições, nunca mais apareceu.
Foto: DW/J. P. Scholz
Terras confiscadas
Os habitantes receberam a notícia no início do ano. Ao ler o jornal, descobriram que não só o governo regional planeava construir uma auto-estrada no estado de Cross River, como também expropriar todas as terras num perímetro de 10 quilómetros em redor da nova rodovia.
Foto: DW/J. P. Scholz
A primeira super-estrada da Nigéria
A estrada deverá ligar um novo porto em Calabar, a capital do estado de Cross River, ao norte da Nigéria - o plano é construir uma das estradas mais modernas de África, com 260 quilómetros, seis faixas e internet de alta velocidade para todos os condutores. O projeto custará 800 mil milhões de nairas, quase quatro mil milhões de euros. Não se sabe ainda ao certo como será financiada.
Destruindo o verde da floresta
Algumas árvores começaram a ser cortadas mesmo sem se saber como o projeto iria ser pago. O governo local nem esperou pelo estudo de impacto ambiental, exigido por lei. Entretanto, o estudo já deu entrada, mas não cumpre as normas internacionais, informa o Ministério nigeriano do Ambiente.
Foto: DW/A. Kriesch
Bulldozers à espera
O Ministério ordenou que se parasse de imediato o abate de árvores antes de receber o estudo de impacto ambiental e depois dos protestos de ambientalistas e habitantes. Os bulldozers estão parados na floresta, à espera de "luz verde".
Foto: DW/A. Kriesch
Natureza ímpar
Na floresta Ekuri habitam animais ameaçados de extinção, como o mandril ou o gorila de Cross River. Há aqui mais de 1.500 espécies de plantas. Esta é uma das florestas tropicais mais diversas do planeta.
Foto: DW/A. Kriesch
"Estão a esconder alguma coisa"
Odigha Odigha é ex-presidente da Comissão Florestal de Cross River e está agora a tentar travar a construção da auto-estrada, com a organização "Coligação pelo Meio Ambiente" - "Ao todo, são 520.000 hectares de terras que serão nacionalizadas, 25% da área deste estado", diz Odigha. "Ainda ninguém nos disse por que estão interessados numa área tão grande - estão a esconder alguma coisa."
Foto: DW/A. Kriesch
Comércio de madeira em vez de desenvolvimento?
Alguns ativistas e habitantes suspeitam que, além da construção da estrada, há também interesse em comercializar a valiosa madeira da floresta. Por isso é que não se expande a estrada principal que já existe, dizem. A nova estrada gigante serviria, assim, como pretexto para poder cortar a madeira e vendê-la ao exterior, a preços inflacionados.
Foto: DW/A. Kriesch
Governo local desmente
A ministra da Informação de Cross River nega. "Vamos plantar duas árvores por cada árvore cortada", diz Rosemary Archibong. Mas continua a não ser claro por que é necessário nacionalizar 10 quilómetros de cada lado da rodovia. "As pessoas deverão beneficiar do desenvolvimento ao longo da estrada, por exemplo através da agricultura", responde Archibong. "Mas esse tema ainda vai ser debatido."
Foto: DW/A. Kriesch
Habitantes continuam protesto
Os habitantes da floresta Ekuri queixam-se que ninguém falou com eles. Margret Ikimu está desiludida com a política: "Primeiro, deviam melhorar esta estrada decrépita que passa por aqui", diz. "O governo regional já está há um ano no poder e ainda não vimos mudanças. E agora querem levar o único que nos resta, a floresta."