No banco dos réus está Nilsa Manuel, membro do partido no poder, FRELIMO, que em setembro de 2016 terá dito numa reunião da Assembleia Municipal que o edil de Quelimane "merecia" levar um tiro .
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No julgamento que arrancou esta quarta-feira (11.12), várias testemunhas confirmaram em tribunal que a arguida Nilsa Manuel, atualmente membro da assembleia autárquica de Quelimane pela Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), afirmou publicamente, em 2016, que Manuel de Araújo "merecia" levar um tiro.
No entanto, Simões Domingos, o advogado de defesa da arguida, considera que as palavras usadas não foram uma ameaça de morte, e por isso exige a sua absolvição. "O Ministério Público ad hoc decidiu manter a acusação, e nós respeitamos muito, mas cabe ao tribunal decidir na 'hora H' se somos culpados ou não", disse.
Arranca julgamento sobre ameaça de morte a Manuel de Araújo
Segundo o Tribunal Judicial, a sentença deverá ser conhecida a 27 de dezembro, de forma a haver tempo suficiente para analisar os factos. Também a defesa de Manuel de Araújo disse que só se pronunciará por esta altura, após a leitura da sentença.
Na sessão do tribunal, esta quarta-feira, a arguida Nilsa Manuel referiu que não se arrepende de qualquer afirmação. E no final, em declarações à DW África, afirmou que não se sente intimidada e que confia na Justiça: "Sinto-me bem. Vamos ver. No final, o tribunal é que vai deliberar. Estou segura".
Outros processos
Este não é o primeiro caso em tribunais envolvendo o edil Manuel de Araújo. No início do ano, membros do MDM e da FRELIMO apresentaram queixa contra Araújo, acusando-o de difamação e ofensa moral durante a tomada de posse como edil pela RENAMO, em fevereiro. Ainda não foi anunciada uma data para o julgamento.
O autarca, que concorreu este ano ao cargo de governador da província da Zambézia, denunciou em julho em entrevista à DW que tem sido alvo de intimidações e ameaças de morte de indivíduos desconhecidos desde maio de 2018. Estes casos também não foram esclarecidos até agora.
Moçambique: A polémica exploração de areias pesadas na Zambézia
A exploração de areias pesadas em Inhassunge, na província da Zambézia, continua a gerar polémica. Residentes não querem deixar as suas terras, mas muitos cedem à pressão do Governo e da empresa responsável.
Foto: DW/M. Mueia
Concessionária chinesa
A Africa Great Wall Meaning Company Development, uma empresa de capitais chineses, é a concessionária na prospeção e exploração das areias pesadas na província da Zambézia desde 2014. Segundo o Governo local, a Africa Great Wall atua nos distritos de Inhassunge e Chinde, onde detém propriedades de uso e aproveitamento da terra.
Foto: DW/M. Mueia
Moradores têm que deixar suas terras
A presença da empresa chinesa é polémica. Depois de confrontos violentos com a polícia, que resultaram na morte de pelo menos 4 pessoas em julho de 2018, a população de Inhassunge, que basicamente vive da agricultura, diz que aceita por imposição abrir mão das suas terras para a exploração das areias pesadas.
Foto: DW/M. Mueia
Terras rejeitadas
No entanto, o plano de reassentar as famílias abrangidas pelo projeto de exploração de areias pesadas fracassou. A população recusa-se a mudar para o novo espaço porque, segundo os moradores, as terras são áridas e não servem para a produção de qualquer alimento. Alé disso, não há no local condições para desenvolver a pesca, tal como existem nas suas zonas de origem.
Foto: DW/M. Mueia
"Recuso-me a ceder o meu espaço"
Albrinho Veloso vive na ilha de Mualane e não vê com bons olhos o projeto de exploração das areias pesadas pelos chineses: "Recuso-me a ceder o meu espaço. Há um ditado popular, na língua local, que diz que 'o futuro não é confiável', por isso, quero continuar a viver na minha terra com as condições favoráveis para a minha sobrevivência".
Foto: DW/M. Mueia
Sem energia elétrica
Há um ano, o Governo da Zambézia estendeu uma linha elétrica que parte de Quelimane, capital provincial, para a região de Inhassunge. Porém, a linha de média tensão ainda não cobre todos os lugares, como, por exemplo, as áreas onde estão a ser feitas as explorações de areias pesadas. Mais um problema que os habitantes põem em cima da mesa.
Foto: DW/M. Mueia
Acesso às ilhas
A vida nas ilhas daquela região não é fácil. Para chegar à Olinda e Mualane, em Inhassunge, onde as areias pesadas são exploradas, a principal portagem está ao lado de Quelimane, capital da Zambézia. Os bilhetes são vendidos por agentes da polícia marítima e alguns operadores privados que têm pequenas embarcações a motor. A viagem pode custar até 300 meticais (pouco mais de 4 euros).
Foto: DW/M. Mueia
Barcos de carga
As canoas a remo são os primeiros e únicos meios de transporte de mercadoria e carga para as ilhas. Os produtos de primeira necessidade para a população das ilhas em Inhassunge são adquiridos em Quelimane e transportados pelas canoas por jovens naturais do distrito. A viagem demora de 8 a 10 horas no mar.
Foto: DW/M. Mueia
Transporte de passageiros
Além do transporte de mercadorias, as canoas também são usadas para transportar passageiros. O custo deste transporte ronda entre 10 a 30 meticais (entre 0,10 e 0,40 cêntimos de euro). Além disso, há também serviços de aluguer diário de canoas, cujo preço é mais caro.