Diretor defende entrega de manuais com erros a professores
28 de junho de 2022O Ministério da Educação de Moçambique mandou retirar manuais escolares com erros do sistema de ensino, depois da descoberta de falhas graves no livro de Ciências Sociais da sexta classe. Entre os muitos erros crassos encontrados nos livros está a localização geográfica de Moçambique, que é citado como um país localizado fora da África Austral. É dito também que o rio dos Bons Sinais é o mesmo que o rio Inharrime.
O tema tem feito correr muita tinta no país, tendo o Governo e a Porto Editora trocado já acusações sobre a responsabilidade do sucedido. Entretanto, esta terça-feira (28.06), o Gabinete Central de Combate à Corrupção (GCCC) de Moçambique anunciou ter aberto um inquérito ao caso, com o objetivo de apurar indícios de corrupção na produção do manual.
Em declarações ao Notícias, fonte do GCCC garantiu que "caso haja indícios e provas de ter havido corrupção, será instaurado um processo-crime, a fim de responsabilizar os infratores".
O que fazer aos livros?
No entanto, nem todos concordam que os livros devem ser enviados para trás. Rijone Bombino, diretor de educação em Quelimane, na província da Zambézia, defende que os manuais em causa não devem ser recolhidos, mas sim entregues aos professores.
Bombino explica que, "havendo a orientação da recolha do livro" por parte do Governo, isso será feito, mas frisa que "o professor não está proibido de usar o livro para a sua orientação".
Segundo este responsável, "um professor formado, que tem conhecimento, pode saber aproveitar o conhecimento dele para lecionar e dirigir o processo de ensino e aprendizagem com base nas orientações do livro".
Vários professores contactados pela DW dizem que o problema dos erros nos manuais escolares já é antigo e que estão habituados.
Neste sentido, acrescenta o diretor de educação de Quelimane, não é porque o livro contém erros que deve deixar de ser lido. Bombino insiste que o "livro como tal é como a literatura! Há literatura que não é útil para ler, mas, para uma pessoa que está a perseguir o conhecimento, ele tem que ler para saber tudo. As pessoas que descobriram que o livro está mal, leram. Então, o livro tem que ser lido. Não vai ser usado nas salas de aula".
Qualidade da educação
Mas o presidente da Comunidade Muçulmana Nativa de Moçambique, Zeferino Ismael, diz que é um absurdo não recolher os livros dos professores, mesmo que não sejam usados nas escolas.
Ismael questiona mesmo a capacidade de todos os professores de perceberem os erros em causa.
"Um instrumento de trabalho, quando tem defeito, pode ferir o próprio dono e os outros. Sabemos hoje em dia que a nossa formação é defeituosa… Será que todos os professores terão a capacidade de observar que, de facto, este ou outro ponto está errado?".
A mesma opinião tem o ativista cívico Sílvio Silva, que defende que, para garantir a qualidade da educação das crianças, a matéria deve estar correta. Até porque, nota, uma coisa são pequenas gralhas, outra completamente diferente, são os erros crassos encontrados nos livros escolares.
Segundo Sílvio Silva, os "erros dos livros sujeitam-nos à má formação".
"Não faz sentido irem-se buscar limites, terminologias desajustadas e inadequadas para ensinar as crianças moçambicanas. Que alunos, que estudantes vamos ter se forem beber dos erros ortográficos, de concordância e do desajustamento dos limites geográficos [que constam nestes livros]? Estamos a situar o rio dos Bons Sinais num local impróprio… esses cenários todos, o que é que retratam para o desenvolvimento da criança?", alerta.