Na cidade de Quelimane o mar já ameaça as casas e autoridades locais já estão no terreno. Edil de Quelimane, Manuel de Araújo, tem estado em contacto com organizações estrangeiras para perceber o que pode ser feito.
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É uma ameaça eminente, a situação da erosão costeira na cidade de Quelimane, a capital da província da Zambézia.
Autoridades municipais de Quelimane temem que a cidade seja "engolida" pelas águas do oceano Índico e afluentes do rio dos Bons Sinais, se não forem tomadas medidas urgentes para proteger a costa. O edil Manuel de Araújo, diz que a preocupação maior neste momento é a reabilitaçãodomuro da marginal que protege a cidade das águas que invadem os bairros.
Há bairros da cidade de Quelimane que estão a desaparecer aos poucos e a transformarem-se em grandes superfícies de água salgada, como é o caso de Sangarriveira, Murrupoe, Ivagalane Icidhua e Sampene.
Autoridades e cidadãos preocupados
Manuel de Araújo, o edil de Quelimane manifesta-se preocupado face à situação que o levou a solicitar ajuda de organizações não-governamentais italianas, para que sejam encontrados meios financeiros e técnicos com vista a salvar a cidade da invasão das águas do mar e do rio."Temos estado a participar em vários fóruns internacionais para a apresentação dos desafios que temos e um deles é exactamente a questão da avenida marginal da cidade de Quelimane que corre o risco de um dia acordarmos sem a nossa marginal... E pior do que isso sem o elemento número um da proteção da nossa cidade, o muro. A cidade de Quelimane, é considerada uma ilha, a norte está o oceano Índico e a sul o rio Bons Sinais, com os estuários estendidos até aos bairros periféricos".
Muitos moradores de Quelimane já abandonaram alguns bairros e dezenas estão à procura de novos locais para habitarem enquanto permanecem em zonas de risco como é o caso de Angelina Omar, do Bairro Sangarriveira.
"Eu não digo nada, é assim mesmo. Não temos como sair daqui e o governo não nos diz nada..., isso (a erosão) começou há muito tempo".
Uma outra moradora, Joana Domingos ao ser ouvida pela reportagem da DW África lamenta a situação."Estamos muito preocupados com a situação desde 2015... até agora as pessoas vêm aqui e dizem que 'havemos de voltar para consertar o que foi destruído pela erosão' mas até aqui não vimos nada. Antes, as águas eram poucas mas agora muitas casas já foram destruídas. No total foram 8 casas (vizinhas)... Temos medo mas não temos um outro lugar para ficar".
Quelimane: erosão costeira
Para as autoridades municipais, a principal ameaça neste momento é o rio Bons Sinais. O que separa a parte continental e o rio é um muro de betão construído na época colonial e encontra-se atualmente em avançado estado de degradação, ou seja não garante a mínima segurança para a cidade.
Organizações não-governamentais avaliam situação
Uma equipa de ambientalistas da cidade italiana Reggio Emilia, chegou a Quelimane na passada terça-feira (11.06.), para se inteirar da situação e tentar ajudar a edilidade a encontrar soluções concretas para a grave situação em que se encontra a cidade devido à erosão da orla marítima.
Em entrevista à DW África, esta quarta-feira (12.06.) Steffano Cigarini, um dos integrantes da equipa dos ambientalistas italianos, fez o seguinte aviso.
"A situação agora é crítica mas temos tempo para uma intervenção. (A cidade) precisa de infraestruturas e por isso a ideia é trabalharmos em conjunto com o município de Quelimane visando encontrar soluções em termos de políticas locais e depois pesquisar fundos para a implementação das respostas a serem dadas ao problema. É este o trabalho que podemos fazer em conjunto com a cidade de Quelimane".
Um número considerado alto de munícipes da cidade de Quelimane (cerca de 3 mil pessoas), mora nas zonas propensas a inundações. As casas foram construídas nos mangais alegadamente por falta de terrenos adequados para a habitação.
Moçambique: Vila de Chinde ameaçada pela erosão
Não bastava o isolamento de uma vila que é também uma ilha. Chinde luta contra a erosão, e a população local, entre a luta pela sobrevivência, encontra tempo para a oração.
Foto: DW/M. Mueia
Lenta recuperação de batelão
Batelão, em estado obsoleto há dois anos, devido a uma avaria do motor. Os mecânicos tentam a reparação da embarcação, que fazia o trajecto marítimo da região de Luabo a Chinde, na província da Zambézia, por via marítima. A reparação ocorre, mas ainda não há sinais positivos para a sua reativação.
Foto: DW/M. Mueia
A ambulância doente
A ambulância naval está paralisada há cinco anos, devido a graves
problemas mecânicos. Esta ambulância evacuava pacientes das ilhas de
Chinde em estado grave, para Marromeu, na Província de Sofala.
Foto: DW/M. Mueia
Erosão destrói milhares de árvores
Milhares de árvores de frutas ficaram destruídas desde que a situação da erosão se agudizou nos últimos 20 anos. A maioria da população diz estar desesperada, não tendo
onde se refugiar, uma vez que o distrito é uma ilha cercada a norte
pelas águas do Oceano Índico e a sul pelo rio Zambézia, que liga as
províncias de Sofala e Tete.
Foto: DW/M. Mueia
Dez por cento da população de Chinde afetada pela erosão
Informações do governo local indicam que este ano (2018), até ao mês de novembro, 35 casas e três armazéns ficaram destruídos, e que a situação está a afetar pelo menos 10 mil pessoas, num distrito (Chinde) que tem cerca de 100 mil habitantes .
Foto: DW/M. Mueia
Os "Bago Bago" ligam as ilhas
"Bago Bago": assim se chamam vulgarmente as pequenas embarcações a motor. A ilha de Chinde não possui embarcações convencionais, pelo que a população tem recorrido aos ″Bago Bagos” e a canoas a remos para atravessar as principais ilhas da região (nomeadamente Matilde, Salia, Nhangalasse, Marrabau e Pambane).
Foto: DW/M. Mueia
Chinde é vila centenária
A Vila de Chinde, que celebrou, a 13 de Setembro passado, 106 anos da sua elevação à categoria de vila, foi a primeira capital da província da Zambézia, antes da atual cidade de Quelimane. Quase 90 por cento das infra-estruturas foram construídas no tempo colonial, antes da independência de Moçambique.
Foto: DW/M. Mueia
Lembranças da passagem portuguesa
As sucatas dos navios portugueses na histórica oficina naval datam de há mais de 50 anos. Contos populares na Ilha referem que Chinde era um dos pontos de referência dos colonialistas portugueses, ao chegarem, por via marítima, de outros cantos do país ou de África.
Foto: DW/M. Mueia
Carpintaria é arte desenvolvida na ilha
Alem da pesca artesanal, a carpintaria é a outra principal arte da população da ilha de Chinde. Dezenas de jovens e adultos dedicam-se à construção de embarcações de transporte de passageiros e cargas, e de pesca. As maiores embarcações possuem 12
metros de comprimento, e a sua construção demora três meses, segundo explicou um dos artesãos no Bairro Liberdade, em Chinde.
Foto: DW/M. Mueia
Peixe é vendido nas ruas e mercados informais
O Distrito de Chinde é rico em recursos pesqueiros. Mulheres e crianças - essencialmente - dedicam-se à venda a retalho de peixe fresco, depois da sua captura no mar pelos pescadores artesanais. O peixe é vendido pelas ruas e mercados informais por valores que oscilam entre os 10 e os vinte meticais, dependendo da qualidade do produto.
Foto: DW/M. Mueia
A crença comanda a esperança...
A erosão atingiu situações críticas. A população tem-se organizado em grupo para orar, como alternativa em defesa das suas zonas de habitação, machambas e infra-estruturas sociais, que estão a ser destruídas. As orações juntam populares e crentes de diversas igrejas e mesquitas.
Foto: DW/M. Mueia
Chinde luta contra o isolamento
A Vila de Chinde é, na realidade, uma ilha. Dista perto de 400 quilómetros da atual capital da província da Zambézia, a cidade de Quelimane, por estrada, e cerca de uma hora no mar, pelos barcos a motor de pequeno porte. Raras vezes recebe turistas nacionais ou estrangeiros devido à difícil acessibilidade. No interior da vila, as ruas
de acesso aos bairros são de terra batida.