Autarca usou dinheiro do município para fazer obras em estrada que liga Quelimane a distrito adjacente e FRELIMO fala em ilegalidade. "Não fazem e não deixam fazer", responde Manuel de Araújo.
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A bancada da FRELIMO na assembleia municipal de Quelimane, na província central da Zambézia, acusa o edil Manuel de Araújo de agir ilegalmente, ao usar dinheiro do município para reabilitar uma estrada fora da sua área de jurisdição, que pertence ao distrito de Nicoadala.
"Ele [Manuel de Araújo] deixa de construir as nossas estradas e vai tratar de assuntos de outros distritos", diz Rijone Bombino, chefe da bancada da FRELIMO, o partido no poder. "Não sabemos qual é o objetivo e a base legal. Isto é uma ilegalidade, um crime", acusa.
Para Bombino, Manuel de Araújo está a negligenciar Quelimane, "preocupado em fazer coisas para promoção da imagem pessoal e de forma enganosa".
Recolha de lixo também gera polémica
O chefe da bancada da FRELIMO em Quelimane criticou ainda o edil por emprestarà cidade de Nampula veículos de recolha de lixo, alegadamente para ajudar a limpar o muito lixo feito na altura da campanha para as eleições intercalares. O caso remonta a 12 de janeiro e, segundo Rijone Bombino "não houve aval da assembleia municipal para a saída" das viaturas de recolha de lixo.
"É uma ilegalidade proceder dessa maneira. Preocupou-se em levar os carros para Nampula deixando lixo em quantidade aqui", lamenta o líder da bancada, que fala novamente em negligência: "Ao invés de edil do município de Quelimane se preocupar com a vida do povo que o elegeu, preocupa-se com a vida do vizinho".
Manuel de Araújo rejeita críticas
FRELIMO acusa edil de Quelimane de uso indevido de fundos
Em resposta, o edil de Quelimane diz que alugou os carros do lixo e que não há nenhuma lei que o impeça. "Só se eu tivesse oferecido um bem, aí sim, a lei está clara, no caso de um bem deixar de pertencer ao município, aí sim", frisa.
Ao mesmo tempo, Manuel de Araújo confirma que usou dinheiro do município para fazer obras na estrada que liga Quelimane ao distrito de Nicoadala, administrado pela FRELIMO.
O edil sublinha que o fez para atender aos pedidos da população - porque a estrada está em péssimas condições - e critica a FRELIMO: "Eles não fazem e não deixam fazer. O nosso povo é que sofre".
Manuel de Araújo afirma que "a estrada não é do chefe da bancada da FRELIMO, nem do administrador de Nicoadala. A estrada é do povo de Quelimane e de Nicoadala". E conclui: "Os residentes daquela zona vieram pedir apoio. Se tivessem respeito em relação à administração de Nicoadala, teriam ido pedir a Nicoadala. Aquela estrada, quem usa são os munícipes de Quelimane".
Oportunidade ou perigo? A extração de areia em Moçambique
A extração de areia movimenta muito dinheiro na província moçambicana da Zambézia. Ambientalistas alertam para os perigos ambientais. Mas para quem trabalha neste negócio no distrito de Nicoadala, parar seria difícil.
Foto: DW/M. Mueia
O negócio da areia em Nicoadala
Já foram devastadas extensas áreas de terra devido ao negócio da areia no distrito de Nicoadala, no centro de Moçambique. São sobretudo os jovens naturais da região que trabalham aqui.
Foto: DW/M. Mueia
Trabalho duro
Extrair areia é um trabalho duro. Os trabalhadores queixam-se frequentemente de dores na coluna e dores de cabeça, entre outras coisas. Ainda assim, o trabalho dá para "manter a vida" e sustentar a família, afirmam. Conseguem, assim, pagar a escola aos filhos, comprar-lhes roupas e adquirir bicicletas, o principal meio de transporte familiar nesta zona.
Foto: DW/M. Mueia
Longe da escola
Os jovens que trabalham aqui contam que não puderam estudar por falta de condições financeiras. A maioria não concluiu o ensino primário.
Foto: DW/M. Mueia
Areia para a região
A areia do tipo "mina" é extraída e, depois, vendida a camionistas. O número de clientes cresce durante o verão.
Foto: DW/M. Mueia
À espera do camião
Estima-se que, todos os dias, mais de 30 veículos pesados entram na região de extração de areia. A atividade rende diariamente à Associação dos Garimpeiros de Nicoadala entre 20 a 35 mil meticais (entre 280 e 490 euros). O valor é acumulado durante uma semana para posteriormente ser distribuído pelos 26 associados.
Foto: DW/M. Mueia
Contas em dia
Membros da Associação dos Garimpeiros de Nicoadala: na foto, à frente, o presidente da associação, João Mariano (direita) e o fiscal Bito Lucas (esquerda), que tem a função de passar faturas e receber o dinheiro dos camionistas.
Foto: DW/M. Mueia
Preços da areia
O valor da areia é fixo, segundo os "garimpeiros": no terreno, os camionistas compram 1.600kg de areia a 500 meticais (o equivalente a sete euros), mas o valor dispara na revenda. A mesma quantidade de areia é revendida na cidade de Quelimane a 8.000 meticais (mais de cem euros).
Foto: DW/M. Mueia
A caminho da cidade
A areia é transportada pelos camionistas até à cidade de Quelimane, na província moçambicana da Zambézia. A maioria dos imóveis na região é construída com areia de Nicoadala.
Foto: DW/M. Mueia
Blocos de cimento e areia
Para produzir blocos de construção, é preciso juntar um saco de cimento de 50kg a 80kg de areia. Aos poucos, coloca-se água e vai-se misturando com uma pá durante 30 minutos. A massa final é posta em pequenas máquinas manuais para moldar o bloco.
Foto: DW/M. Mueia
Cenário desolador
Para trás, fica um cenário desolador. Estes são os efeitos secundários da extração de areia. Áreas que eram mais elevadas estão agora assim, com pequenas lagoas e vastas planícies. Já foram retiradas dezenas de toneladas de areia para construir edifícios em Quelimane, incluindo edifícios de instituições públicas, no próprio distrito de Nicoadala.
Foto: DW/M. Mueia
Terrenos impróprios
Zonas anteriormente exploradas pelos "garimpeiros" não servem para a prática de agricultura nem para a pastagem de gado. Isso por serem consideradas áreas de difícil acesso em época de chuvas, com solos bastantes arenosos.
Foto: DW/M. Mueia
Para camionistas, parar não é solução
Os camionistas dizem estar conscientes do perigo ambiental, mas sublinham que não têm outra alternativa. Sem este negócio, muitas famílias passariam mal e "deixaria de haver a construção de habitações convencionais", frisa o camionista Carlos Manuel, que diz que quem mais lucra com o negócio são os proprietários das viaturas.