Decisão da Assembleia Municipal é uma reação à saída de Manuel de Araújo do MDM para filiar-se à RENAMO antes do término do seu mandato. Manuel de Araújo diz que decisão é injusta e ilegal.
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A manhã desta quarta-feira (22.08) começou agitada na assembleia municipal de Quelimane. Uma sessão extraordinária, com apoio de membros da FRELIMO e do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), decidiu pelo afastamento de Manuel de Araújo do cargo de edil de Quelimane... Isso porque o autarca filiou-se à RENAMO antes do fim do seu mandato.
A decisão foi anunciada pelo presidente da assembleia autárquica de Quelimane, Abel de Albuquerque, enunciando a lei que sustentou tal conclusão.
Manuel de Araújo não se conforma com essa decisão e diz que vai continuar a liderar. "Continuamos em funções e vamos continuar a tirar Quelimane de buraco em que encontraram rumo aos bons sinais”, afirmou.
Os membros do MDM, partido pelo qual Manuel de Araújo foi eleito a edil de Quelimane, em 2014, ficaram satisfeitos com a decisão. File Salato, o chefe da bancada do MDM, explica que "caberá à lei fazer cumprir o que foi plasmado”.
Quem também saúda esta decisão são os membros da FRELIMO.
"Nós da FRELIMO votamos a favor porque participamos efetivamente da fiscalização da legalidade dentro da autarquia na cidade de Quelimane. Não fica bem que alguém pense da noite para o dia pular de um partido para o outro, senão o exercício da política em Moçambique seria um piquenique”, afirmou Rijone Bombino, o chefe da bancada do partido do Governo.
Quelimane: FRELIMO e MDM destituem Manuel de Araújo da presidência
Presidente interino deverá ser nomeado por MDM
Enquanto decorria a sessão da destituição de Manuel de Araújo, dezenas de simpatizantes da RENAMO amotinaram-se ao redor do edifício do Conselho Municipal de Quelimane, que se encontrava sob forte vigia policial.
Um dos apoiantes da RENAMO disse à DW África que que o MDM será o principal prejudicado com a situação no município.
"Cessar de funções enquanto Araújo continua como cabeça de lista da RENAMO, isso não é nenhum problema, isso é um grande avanço para a RENAMO. Ele só deixou a presidência. O MDM é uma criança. Caso MDM entregue esse município a FRELIMO, o MDM será muito espezinhado, porque ele gozava a FRELIMO. Quando a FRELIMO levar isso, o MDM há de sofrer muito mais que a RENAMO”, disse.
Entretanto, o presidente da assembleia autárquica de Quelimane, Abel de Albuquerque, assegurou que ainda nesta quarta-feira (22.08) será enviada a carta da destituição de Manuel de Araújo ao Conselho de Ministros.
"Hoje mesmo vamos comunicar a tutela administrativa. Caso haja resposta, eu acho que o Conselho de Ministros vai delegar uma equipa para a cidade de Quelimane para questões de auditoria às contas do município e provavelmente para a posse do presidente interino do Conselho Municipal de Quelimane”.
Abel de Albuquerque, considera que a nomeação do presidente interino para município de Quelimane será da escolha do Movimento Democrático de Moçambique, ainda que seja por pouco tempo, pois falta apenas um mês e 20 dias para as eleições municipais no país.
Escolas e material degradado na Zambézia
Para além da sobrelotação, há várias escolas sem condições na província da Zambézia, no centro de Moçambique. As infraestruturas encontram-se deterioradas e há falta de material escolar.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Primária de Nacogolone
Aqui as crianças estudam debaixo das árvores, estando as aulas dependentes da meteorologia. A maior parte das crianças que estuda nesta escola foi vítima das cheias de 2015, tendo as suas famílias sido reassentadas nas proximidades do bairro Nacogolone. Foram já várias as iniciativas que surgiram no bairro para a reconstrução de salas convencionais, mas a falta de recursos não as deixou avançar.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Primária de Mutange
As salas de aula desta escola, localizada a 15 quilómetros do extremo sul da vila sede do distrito de Namacurra, foram construídas com material convencional. No entanto, estão deterioradas. As secretárias escolares e o material didático para os professores estão em más condições e os assentos são trazidos e levados pelos alunos todos os dias de e para as suas casas.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Primária 17 de Setembro
Embora se localize na capital da província, as condições desta escola estão muito abaixo das expetativas. Algumas paredes estão corroídas, outras parcialmente destruídas. O mesmo acontece com as carteiras escolares. O teto está deteriorado, o que constitui um perigo para os alunos. A direção da escola recebeu cerca de 200 mil meticais, mas diz não ser suficiente para reabilitar toda a estrutura.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Primária de Quelimane
Localizada no centro, em frente ao edifício do Governo da Província da Zambézia, é umas das escolas mais privilegiadas da cidade. Tem condições favoráveis e adequadas ao ensino e à aprendizagem, possuindo até uma sala de conferências. É a mais antiga escola primária - no tempo colonial, era frequentada pelos filhos dos colonos e filhos de negros assimilados.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Comunitária Mártires de Inhassunge
Fundada pela congregação religiosa Padres Capuchinhos, a Escola Comunitária Mártires de Inhassunge acolhe alunos do 1º ao 10º ano e é muito frequentada por pessoas carenciadas e órfãs. Apesar de ter dificuldades no acesso ao fundo de apoio direto às escolas, a instituição conta com infraestruturas adequadas e salas de aula equipadas com carteiras. Uma realidade diferente das escolas públicas.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Secundária Geral de Sangarriveira
Integrando alunos da 8ª à 12ª classe, esta escola, que começou a funcionar em 2013, apresenta já rachas nas paredes, janelas partidas e chão degradado. A diretora Paulina Alamo afirma que as obras não obedeceram ao que estava estabelecido. A dimensão das salas é pequena para a quantidade de alunos existente. Há estudantes que têm de se sentar no chão.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Primária e Completa de Wazemba
O problema alastra-se também aos professores. Os gabinetes dos diretores e gestores das escolas localizadas em sítios mais distantes das vilas e postos administrativos estão em péssimas condições. Exemplo disso é a Escola Primária e Completa de Wazemba, no distrito de Namacurra. No gabinete do diretor, há atlas geográficos pendurados nas paredes feitas de material de construção local.
Foto: DW/M. Mueia
Pais, alunos e professores garantem manutenção
A estrutura externa do gabinete do diretor da Escola Primária de Wazemba foi construído com materiais locais - paus e folhas de coqueiro para cobrir o teto. As paredes são revestidas por lama. Em muitas outras infraestruturas escolares semelhantes a esta, a reabilitação é garantida pelos próprios alunos, encarregados de educação, lideres comunitários e professores.
Foto: DW/M. Mueia
Governo conhece situação
Carlos Baptista Carneiro, administrador de Quelimane, garante que a reabilitação das escolas e a compra de carteiras escolares está dependente da disponibilidade de fundos, pelo que não será possível reabilitar todas as escolas da cidade ao mesmo tempo. Segundo o administrador, o número das instituições de ensino que aguardam reabilitação é grande e o Governo tem conhecimento da situação.