Durante três horas, as portas do Conselho Municipal e da empresa de saneamento estiveram encerradas. Trabalhadores acusam edilidade de não canalizar descontos para a Segurança Social desde 2012.
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A greve começou pelas primeiras horas desta segunda-feira (13.08). As portas dos departamentos ficaram encerradas para impedir qualquer expediente administrativo. Posteriormente, houve uma marcha que passou por algumas avenidas de Quelimane.
A paralisação terminou ao fim de três horas, na sequência de uma intervenção do edil Manuel Araújo. As duas instituições tuteladas pela edilidade, nomeadamente o Conselho Municipal e a empresa municipal de saneamento, retomaram os trabalhos.
Manuel de Araújo, diz que os descontos feitos pelos trabalhadores estão a ser canalizados normalmente para segurança social.
"Esta certidão foi feita no dia 6 de junho ao INSS, a pedir se temos dívidas e qual o valor. A resposta que nós temos é essa certidão da quitação, que é pública. Fizemos a mesma coisa com as finanças”.
Nas conversações entre o edil Manuel de Araújo e os trabalhadores ficou acordado que deve ser criada uma comissão de trabalho para averiguar a situação junto das instituições visadas de forma verificar se realmente a edilidade canalizou ou não os descontos dos trabalhadores para a segurança social.
Grevistas querem a verdade
O responsável dos trabalhadores, Arune Aramuge, continua a pedir a "verdade” e provas de que os descontos são, de facto, canalizados para a Segurança Social.
"Quando vamos para os serviços de finanças do município somos informados que o dinheiro já foi canalizado. Mas queremos que nos deem um justificativo uma prova para vermos que o dinheiro de fulano foi canalizado”, disse à DW África.
"Estamos a reivindicar o nosso dinheiro. Suponhamos que estou na reforma, se ficar em casa vou comer o quê, se o dinheiro que eu fui descontando não chegou lá? O meu nome consta mas o dinheiro não chegou lá ao INSS”, conta Tadeu Inácio Afonso, um dos trabalhadores grevistas.
Quelimane: Greve dos Trabalhadores do Conselho Municipal
Para um outro trabalhador, Zecas Ismael o que precipitou a greve foi a saída do Manuel De Araújo do MDM para a RENAMO, pois teme que, se ele não for reeleito pela RENAMO, o assunto volte a ficar esquecido.
"Ele está a sair, vai para um outro partido e se perder as eleições na RENAMO quem estará la para assumir essas responsabilidades?”, questiona-se.
Falta de descontos prolonga-se há vários anos
Arune Aramuge recorda que não é primeira vez que a greve tem lugar e que o problema se arrasta desde 2012. O responsável dos trabalhadores fala em informação diferente entre a que é dada pela edilidade e pelas instituições relevantes.
"Tivemos um encontro, a pedido dos funcionários, e o edil não concedeu. Mandou um representante. Disseram que estava tudo canalizado mas, afinal de contas, fomos às instituições e verificamos que não estavam canalizados estes valores. Durante a semana, toda preparamos esta greve para fazermos perceber ao mundo que estamos a ser prejudicados. Temos colegas que faleceram e as suas mulheres até hoje ainda não receberam as suas pensões”, contou Aramuge à DW África.
Escolas e material degradado na Zambézia
Para além da sobrelotação, há várias escolas sem condições na província da Zambézia, no centro de Moçambique. As infraestruturas encontram-se deterioradas e há falta de material escolar.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Primária de Nacogolone
Aqui as crianças estudam debaixo das árvores, estando as aulas dependentes da meteorologia. A maior parte das crianças que estuda nesta escola foi vítima das cheias de 2015, tendo as suas famílias sido reassentadas nas proximidades do bairro Nacogolone. Foram já várias as iniciativas que surgiram no bairro para a reconstrução de salas convencionais, mas a falta de recursos não as deixou avançar.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Primária de Mutange
As salas de aula desta escola, localizada a 15 quilómetros do extremo sul da vila sede do distrito de Namacurra, foram construídas com material convencional. No entanto, estão deterioradas. As secretárias escolares e o material didático para os professores estão em más condições e os assentos são trazidos e levados pelos alunos todos os dias de e para as suas casas.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Primária 17 de Setembro
Embora se localize na capital da província, as condições desta escola estão muito abaixo das expetativas. Algumas paredes estão corroídas, outras parcialmente destruídas. O mesmo acontece com as carteiras escolares. O teto está deteriorado, o que constitui um perigo para os alunos. A direção da escola recebeu cerca de 200 mil meticais, mas diz não ser suficiente para reabilitar toda a estrutura.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Primária de Quelimane
Localizada no centro, em frente ao edifício do Governo da Província da Zambézia, é umas das escolas mais privilegiadas da cidade. Tem condições favoráveis e adequadas ao ensino e à aprendizagem, possuindo até uma sala de conferências. É a mais antiga escola primária - no tempo colonial, era frequentada pelos filhos dos colonos e filhos de negros assimilados.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Comunitária Mártires de Inhassunge
Fundada pela congregação religiosa Padres Capuchinhos, a Escola Comunitária Mártires de Inhassunge acolhe alunos do 1º ao 10º ano e é muito frequentada por pessoas carenciadas e órfãs. Apesar de ter dificuldades no acesso ao fundo de apoio direto às escolas, a instituição conta com infraestruturas adequadas e salas de aula equipadas com carteiras. Uma realidade diferente das escolas públicas.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Secundária Geral de Sangarriveira
Integrando alunos da 8ª à 12ª classe, esta escola, que começou a funcionar em 2013, apresenta já rachas nas paredes, janelas partidas e chão degradado. A diretora Paulina Alamo afirma que as obras não obedeceram ao que estava estabelecido. A dimensão das salas é pequena para a quantidade de alunos existente. Há estudantes que têm de se sentar no chão.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Primária e Completa de Wazemba
O problema alastra-se também aos professores. Os gabinetes dos diretores e gestores das escolas localizadas em sítios mais distantes das vilas e postos administrativos estão em péssimas condições. Exemplo disso é a Escola Primária e Completa de Wazemba, no distrito de Namacurra. No gabinete do diretor, há atlas geográficos pendurados nas paredes feitas de material de construção local.
Foto: DW/M. Mueia
Pais, alunos e professores garantem manutenção
A estrutura externa do gabinete do diretor da Escola Primária de Wazemba foi construído com materiais locais - paus e folhas de coqueiro para cobrir o teto. As paredes são revestidas por lama. Em muitas outras infraestruturas escolares semelhantes a esta, a reabilitação é garantida pelos próprios alunos, encarregados de educação, lideres comunitários e professores.
Foto: DW/M. Mueia
Governo conhece situação
Carlos Baptista Carneiro, administrador de Quelimane, garante que a reabilitação das escolas e a compra de carteiras escolares está dependente da disponibilidade de fundos, pelo que não será possível reabilitar todas as escolas da cidade ao mesmo tempo. Segundo o administrador, o número das instituições de ensino que aguardam reabilitação é grande e o Governo tem conhecimento da situação.