Moradores de dois bairros de Quelimane, centro de Moçambique, acusam a polícia de ter assassinado um jovem de 18 anos e também de extorsão. O comando da PRM na província da Zambézia refuta todas as acusações.
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Na semana passada, um jovem de 18 anos de idade foi encontrado sem vida no Bairro Icidhua, o bairro mais populoso da cidade de Quelimane. A população atribui a responsabilidade do assassinato aos agentes da Polícia da República de Moçambique (PRM).
Isabel Viegas, tia do jovem, conta à DW África que o sobrinho foi interpelado pela PRM quando comprava comida: "Veio de canoa com carvão, madeira e peixe de Inhassunge para vender em Quelimane. Por volta das 19 horas foi comprar bolo para comer no regresso e encontrou a polícia, que lhe pediu dinheiro e documento".
Com medo, por não ter documentos, explica Isabel, o sobrinho começou a correr: "Os polícias apanharam-no e começaram a bater-lhe. O miúdo desmaiou, levaram-no e deitaram-no para o mangal. Nós corremos para a esquadra e não nos deram nada, nem sequer o caixão".
Não é só no bairro de Icidhua que a população está revoltada com a polícia. Também os residentes no bairro Janeiro, em Quelimane, se queixam das autoridades, a quem acusam de extorsão e tortura.
Os residentes dizem-se cansados deste comportamento: "O que a polícia está a fazer assim não dá. Perguntam às pessoas sobre o documento e se a pessoa não se identifica começam a bater", diz um dos moradores.
"Aqui no Icidhua estamos mal, a polícia vem aqui, bate às pessoas de qualquer maneira, se você não tem dinheiro eles não ajudam nada", reclama uma outra residente.
PRM rejeita acusações
"Não é característica da polícia actuar de tal maneira", diz a PRM, quando confrontada com as queixas da população. "A polícia, no momento da sua atuação, respeita o que é preceituado", sublinha Sidner Lonzo, porta-voz da PRM na província da Zambézia.
E o comando da polícia lança o apelo: "Se se tais situações ocorrerem [os residentes] podem aproximar-se das nossas subunidades para prestarem queixa. Todos os giros da cidade de Quelimane estão controlados e se se identificar que este facto ocorreu numa dada região, saberemos identificar quem esteve a trabalhar nessa região e se se provar que o facto ocorreu saberemos levantar um processo disciplinar contra esses indivíduos".
O chefe de quarteirão, Sérgio Armando Pinho, afirma que a má atuação da Polícia no Bairro Janeiro não é um problema novo: "É por motivo de dinheiro", garante, acrescentando que os moradores são agredidos e ficam sem dinheiro e telemóveis.
"Esta segurança já não está a existir, não sabemos de onde vem a polícia de Icidhua. Não estamos a ver as funções do comandante provincial", diz Sérgio Pinho.
Quelimane: Familiares de doentes queixam-se das condições de acomodação no Hospital
Familiares vêm acompanhar os pacientes transferidos, na maioria, dos hospitais dos distritos e províncias vizinhas. Acompanhantes dormem no chão, alguns sem cobertores, e sem redes mosquiteiras.
Foto: DW/M. Mueia
Acomodação nos sanitários
As autoridades de saúde adjudicaram, recentemente, as obras para a construção de um muro de vedação à volta dos sanitários públicos do Hospital Central Quelimane. É nestes sanitários, e ao ar livre, que uma parte dos acompanhantes dos pacientes deste Hospital dorme. Usam a água do poço para as necessidades diárias, nomeadamente, para preparar refeições, lavar roupa e tomar banho.
Foto: DW/M. Mueia
Dormir em "Muchungué"
"Muchungué" é o nome dado ao local onde, no Hospital Central de Quelimane, se acomodam os acompanhantes dos pacientes que precisam de internamento. A maioria vem transferida dos hospitais distritais da província da Zambézia. À DW, os acompanhantes explicam que este nome se deve às condições do local: "o modo de vida é comparado ao da região de Muchungué, em Sofala, no tempo do conflito armado".
Foto: DW/M. Mueia
Péssimas condições
À DW, os acompanhantes dos doentes queixam-se da falta de dormitórios, cobertores e redes mosquiteiras. Não há também estendais para a roupa. As roupas que são lavadas são expostas nas matas para secar. Já por muitas vezes, asseveram estas pessoas, houve queixas sobre as condições de sobrevivências no local, mas as autoridades nada fizeram para melhorar a situação.
Foto: DW/M. Mueia
Redes mosquiteiras
Cada acompanhante é responsável por criar as suas condições para dormir. Têm por isso que trazer as suas próprias "esteiras e mantas". A fumaça das fogueiras tem sido uma salvação, pois afugenta os mosquitos, uma vez que também não existem redes mosquiteiras no local.
Foto: DW/M. Mueia
Refeições
As refeições são confecionadas individualmente ou em pequenos grupos de quatro elementos, independentemente, do sexo ou idade, e têm como base as pequenas contribuições de arroz e farinha ou valor monetário. Muitas vezes, o caril é feito com peixe seco, localmente conhecido como "Madjembe", e verduras preparadas em água e sal.
Foto: DW/M. Mueia
Entreajuda
Joaquina Oniva veio da Maganja da Costa, a sul da província da Zambézia. Acompanha a sua neta, que está internada há meses. Joaquina Oniva não tem nada para comer, nem para dormir, tal como a maioria dos acompanhantes. Quando a comida acaba, pede ajuda a outros acompanhantes. Algumas vezes, há gente de boa fé que, ao preparar refeições, conta com mais dois ou três elementos.
Foto: DW/M. Mueia
Falta de segurança e luz
Também Eric Semba se queixa das condições do local. À DW, lembra o sofrimento que tem passado: as noites sem cobertor, sem um dormitório convencional e sem comida. Com ou sem chuva, homens e mulheres dormem, juntos, no local. Muitas mulheres reclamam que são assediadas sexualmente por falta de segurança e iluminação.
Foto: DW/M. Mueia
Esperando a alta médica dos familiares...
Beatriz Lourenco Coambe é mais uma das muitas mulheres que aqui se encontra. Veio há três semanas do distrito de Mocuba, para acompanhar o seu irmão, internado devido a um acidente de viação. Beatriz Coambe explica que gostava de abandonar o local devido ao sofrimento que ali passa. Mas não tem alternativa. Terá que esperar até que o seu irmão tenha alta médica.
Foto: DW/M. Mueia
Situações mais críticas
Não revelando a sua identidade, este jovem veio do distrito de Gorongosa, em Sofala, para acompanhar o seu irmão mais novo. Por semana vai duas vezes à lixeira do Hospital à procura de caixas que sirvam de dormitório. Não tem condições para comprar esteiras ou cobertores. O dinheiro que trazia de casa acabou, por isso, de madrugada, circula pelos bairros vizinhos, onde apanha fruta para vender.
Foto: DW/M. Mueia
Sem garantias de melhorias
Em média, e segundo os dados estatísticos da direção do Hospital Central de Quelimane, cinco a dez acompanhantes procuram abrigo neste local, diariamente. A maioria chega dos distritos de Caia, Maganja da Costa, Mocuba, Inhassunge, Madal, Namacurra, Nicoadala e Pebane. Apesar das reclamações serem frequentes, não há garantias de melhoria das condições a curto prazo.
Foto: DW/M. Mueia
Hospital reconhece situação
O diretor do Hospital Central de Quelimane, Ladino Suade, diz estar preocupado com a situação e lamenta a falta de capacidade para solucionar o problema. No entanto, afirma que à sua instituição compete cuidar dos pacientes e não dos acompanhantes. Na sua opinião, a Direção Provincial de Ação Social da Zambézia deveria intervir.
Foto: DW/M. Mueia
Situação arrasta-se desde 2016
Construído com fundos do Governo e parceiros sul-coreanos, o Hospital Central de Quelimane foi inaugurado a 27 de outubro de 2016. É composto por mais de 100 compartimentos e tem ainda uma clínica privada com serviços e tratamentos mais especializados. Durante a construção deste Hospital, não foi periodizada a construção de salas para os acompanhantes dos pacientes.