Quem é Boubou Cissé, o novo primeiro-ministro do Mali?
Mahamadou Kane | ac | Lusa
24 de abril de 2019
Após a demissão do governo do Mali, o Presidente nomeou um novo primeiro-ministro. Boubou Cissé, ex-ministro das Finanças, tem como missão aliviar a agitação crescente, que surgiu depois de uma onda de violência étnica.
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O ministro cessante da Economia e das Finanças do Mali, Boubou Cissé, foi nomeado para o cargo na sequência da demissão do ex-primeiro-ministro Soumeylou Boubèye Maïga a 18 de abril, após o massacre que ocorreu a 23 de março na aldeia de Ogossagou, no interior do país, que resultou na morte de 160 civis e na sequência de uma série de manifestações contra a gestão do país.
Boubou Cissé é um "político apolítico" que agora toma as rédeas do governo. A escolha de Ibrahim Boubakar Keita (IBK) recaiu pois sobre um parente próximo da família presidencial. O agora ex-ministro da Economia e Finanças é reconhecido pelo seu rigor na gestão dos assuntos públicos.
Uma nomeação apreciada de diferentes maneiras entre a classe política maliana e entre os líderes religiosos. Ao contrário do seu antecessor, Soumeylou Boubeye Maiga, um líder influente líder partidário que tinha ambições para as eleições presidenciais de 2023, Boubou Cissé não pertence a nenhum partido político e, portanto, não tem uma agenda específica.
Quem é Boubou Cissé, o novo primeiro-ministro do Mali?
O Presidente IBK escolheu um homem relativamente jovem, de 45 anos, economista de formação, que participou em todos os governos desde a sua ascensão ao poder em 2013.
"Ele sabe como funciona o Estado do Mali e o que está a acontecer no país. Esperamos que ele faça boas propostas no sentido de formar um governo consensual, que possa permitir ao país emergir dessa crise", afirma Ndoula Thiam, membro do partido RPM.
Oposição surpreendida
A oposição do Mali não partilha essa visão e mostra-se bastante surpreendida com a nomeação de Boubou Cissé. "Achamos que ele não é um chefe de governo consensual. É verdade que a nomeação de um primeiro-ministro continua a ser uma prerrogativa do chefe de Estado, mas dada a situação atual, sentimos que os partidos da oposição deveriam ter sido consultados ", diz em entrevista à DW Amadou Maiga, membro da União para a Democracia e a República (URD).
Thierno Hady Thiam, o segundo vice-presidente do novo gabinete do Alto Conselho Islâmico do Mali (instalado desde 21 de abril em Bamako), saudou a nomeação de Boubou Cissé e apresentou propostas para a constituição de um novo governo.
"As minhas propostas estão de acordo com a formação de um pequeno governo de apenas 16 ministros. Esse governo deveria ser composto por tecnocratas, num período de transição, para encontrar soluções para problemas importantes de segurança, sociais e outros problemas educacionais", revelou. Um governo cuja composição é esperada ainda esta quarta-feira (24.04).
Presidentes a todo o custo
São derrotados nas eleições, mas contestam os resultados. Mesmo depois de esgotarem todos os recursos, estes candidatos à mais alta magistratura continuam a reivindicar a Presidência.
Maurice Kamto: o auto-proclamado "presidente"
O candidato da oposição às presidenciais de 7 de outubro nos Camarões, Maurice Kamto, reivindica a vitória frente a Paul Biya. "Convido o Presidente da República a criar as condições para uma transição pacífica para proteger os Camarões de uma crise eleitoral desnecessária", declarou o líder do MRC - Movimento para o Renascimento dos Camarões.
Foto: AFP/Getty Images
Nelson Chamisa, o "presidente legítimo" do Zimbabué
O líder da oposição zimbabueana contesta a vitória do Presidente Emmerson Mnangagwa nas eleições de 30 de julho de 2018. Considera-se vencedor e reclama a cadeira presidencial numa cerimónia simbólica de tomada de posse, a 15 de setembro.
Foto: Reuters/P. Bulawayo
Cissé rejeita a tomada de posse de Keïta
Soumaïla Cissé não marca presença na cerimónia e fala num vazio de poder no Mali depois da tomada de posse "nula e de efeito nulo" do seu rival, Ibrahim Boubacar Keïta, a 4 de setembro de 2018. A 20 de agosto, o Tribunal Constitucional do Mali declarou Keïta vencedor das presidenciais com 67,16% dos votos na segunda volta de 12 de agosto contra os 32,84% de Soumaïla Cissé.
Foto: DW/K. Gänsler
Raila Odinga, efémero "presidente do povo"
A 30 de janeiro de 2018, o opositor que tinha boicotado as presidenciais de outubro de 2017 contra Uhuru Kenyatta autoproclama-se "presidente do povo" perante milhares de apoiantes, numa cerimónia simbólica em Nairobi. O país é palco de violência pós-eleitoral, mas, a 9 de março, Odinga e Kenyatta surpreendem ao anunciar a sua reconciliação.
Foto: picture-alliance/Anadolu Agency/B. Jaybee
Jean Ping : "Exercerei o poder que me confiaram"
Dois anos após as presidenciais de agosto de 2016, o líder da oposição gabonesa continua determinado. A 31 de agosto, numa cerimónia de "homenagem aos mártires" da violência pós-eleitoral, em Libreville, diz que quer continuar a sua "luta" para "libertar" o Gabão. Jean Ping deposita esperanças nomeadamente no inquérito preliminar do Tribunal Penal Internacional sobre a crise pós-eleitoral no país.
Foto: DW/A. Kriesch
Kizza Besigye, o eterno rejeitado
Em fevereiro de 2016, o opositor histórico enfrenta Yoweri Museveni pela quarta vez no Uganda. Quando Museveni é declarado vencedor e se prepara para prestar juramento para um quinto mandato, Kizza Besigye toma posse como presidente numa cerimónia alternativa. Afirma "ter provas" da sua vitória. Detido e condenado por alta traição, é libertado algumas semanas depois.
Foto: DW/E.Lubega
André Mba Obame, o outro adversário de Ali Bongo
Inspirado pelos acontecimentos na Costa do Marfim, o antigo ministro "AMO" autoproclama-se presidente do Gabão, em janeiro de 2011, 17 meses depois de perder as presidenciais frente a Ali Bongo. Acusado de alta traição, refugia-se numa agência da ONU. Os problemas de saúde põem fim às suas ambições presidenciais. A sua morte, em abrir de 2015, aos 57 anos, leva a confrontos em Libreville.
Foto: cc-by-sa Ernest A. TEWELYO
Étienne Tshisekedi, duas vezes "presidente"
Em 2006 e 2011, o líder do principal partido da oposição congolesa (UDPS) declara-se vencedor frente a Joseph Kabila e "presidente eleito". Toma posse na sua residência em Limete, arredores de Kinshasa. O seu estado de saúde deteriora-se em 2014 e em 2017 morre com o eterno opositor o desejo de ocupar a cadeira presidencial.
Foto: picture-alliance/dpa/T. Roge
Laurent Gbagbo, opositor histórico
No ano 2000, o líder do FPI declara-se vencedor frente a Robert Gueï e pede aos costa-marfinenses que saiam à rua para fazer cair o general. Os manifestantes atacam os agentes de segurança do chefe da junta militar. Os protestos continuam até que a polícia e, mais tarde, o exército, começam a passar para o lado de Laurent Gbagbo.
Foto: AP
John Fru Ndi às portas do palácio presidencial
John Fru Ndi autoproclama-se presidente a 21 de outubro de 1992. Dois dias depois, o Supremo Tribunal declara Paul Biya vencedor do escrutínio presidencial. O fundador do SDF contesta estes resultados nas ruas. É declarado o estado de emergência no nordeste do país e John Fru Ndi fica em prisão domiciliária.