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Estado de DireitoBurkina Faso

Quem é o novo homem forte no Burkina Faso?

Martina Schwikowski
31 de janeiro de 2022

Paul-Henri Damiba assumiu o poder no Burkina Faso. O tenente-coronel com formação de topo no Ocidente pertence à elite militar do país. Agora apresenta-se como um perito na luta contra o terrorismo.

Burkina Faso | Paul-Henri Sandaogo Damiba
Foto: Facebook/Präsidentschaft von Burkina Faso

O novo dirigente do Burkina Faso assumiu um tom duro sem muitas palavras. Paul-Henri Damiba prometeu livrar o Estado da crise. O tenente-coronel de 41 anos expulsou o seu antigo chefe, o Presidente Roch Marc Christian Kaboré, e mantém-no em cativeiro num local desconhecido.

Na quinta-feira passada (27.01), Damiba falou pela primeira vez sobre as razões do golpe da junta militar "Movimento para a Proteção e Restauração" (MPSR): "A chegada ao poder do MPSR foi forçada pelo curso dos acontecimentos no nosso país, que foi enfraquecido por tantos acontecimentos e ataques de grupos armados radicais de todos os lados. A gravidade da situação impôs ao nosso exército uma postura que é o seu dever".

"Restaurar a integridade do Burkina Faso"

Damiba disse que queria apontar o caminho - inclusive em diálogo com o povo e personalidades do regime cessante - para "restaurar a integridade" do país. Mas, deixou em aberto quando o Burkina Faso regressará à ordem constitucional.

Cidadãos manifestam apoio ao líder da junta que assumiu o poder no Burkina FasoFoto: Olympia de Maismont/AFP

Mesmo antes do golpe, Damiba havia deixado claro que não gostava da política de segurança do então Governo. O terrorismo no Burkina Faso tem vindo a aumentar há anos: desde os primeiros ataques jihadistas em 2015, cerca de 2.000 pessoas morreram no país. E cerca de 1,5 milhões fugiram para os países vizinhos.

Nesta situação, Damiba tinha-se apresentado como um perito na luta contra o terrorismo. Sublinhou as suas competências com uma publicação em junho de 2021, na qual analisa as estratégias antiterroristas no Sahel e nas suas fronteiras.

Promovido por Kaboré

Kaboré havia promovido Damiba há apenas dois meses: tornou-se comandante da terceira região militar, que se estende desde a capital Ouagadougou até ao leste do Burkina Faso e inclui algumas das zonas de conflito mais importantes do país.

Presidente Roch Marc Christian KaboréFoto: facebook.com/Presidence.bf

Damiba já havia construído a sua carreira: serviu na guarda presidencial do antecessor de Kaboré, Blaise Compaoré, que se demitiu em 2014.

O político da oposição Victorien Tougouma condena a tomada do poder pela força das armas. "Sempre que há um problema, os militares são incitados a tomar o poder", diz em entrevista à DW. "Ouvi dizer que Damiba é o homem forte no Burkina. Não há um homem forte no Burkina. O homem forte é o povo".

Jovens governantes militares

O novo comandante no Burkina Faso faz parte de um grupo de pessoas que pensam da mesma maneira e que querem ter impacto como governantes na região da África Ocidental: O tenente-coronel Mamady Doumbouya da Guiné-Conacri, também de 41 anos de idade, que protagonizou o golpe de Estado em setembro de 2021, e, no Mali, o governante militar Assimi Goïta, que é dois anos mais novo.

Até agora, as forças de segurança do Burkina Faso não conseguiram conter o terrorismoFoto: Ahmed Ouoba/AFP/Getty Images

Como muitos oficiais militares no Sahel, Damiba tem laços estreitos com a antiga potência colonial França. A sua formação é semelhante à de muitos membros da elite militar do Burkina Faso: em 2015, estudou na academia militar da École de Guerreie em Paris e licenciou-se em criminologia numa universidade de renome.

Os líderes militares que estão a dar golpes, especialmente agora no Burkina Faso e no Mali, todos tiveram treino militar no estrangeiro, diz Denis Tull, da Fundação Alemã de Ciência e Política (Stiftung Wissenschaft und Politik) em entrevista à DW.

"Não só no Ocidente, mas frequentemente também noutros países como a China e a Rússia. Dificilmente encontrará hoje um militar no Sahel com a patente de coronel que não tenha tido qualquer forma de treino militar no estrangeiro".

Insatisfação com os Governos civis

"Mas não é uma nova geração de governantes militares", salienta Tull. Pelo contrário, o apoio internacional às forças armadas é enormemente amplo e tem aumentado no Sahel, em parte devido à crise de segurança, ressalta. Os soldados sentem-se praticamente capacitados - dado o envolvimento maciço de parceiros externos - para entrar na arena política em tais crises e tomar as rédeas da situação.

A insatisfação contra o Governo aumentou nos últimos mesesFoto: Sophie Garcia/AP Photo/picture alliance

A razão mais profunda dos quatro golpes recentes no Mali, Guiné-Conacri e Burkina Faso nos últimos meses é uma crise de confiança nas instituições estatais, diz Tull: "O aparente apoio popular aos golpistas não é tanto um apelo aos militares como uma rejeição dos Governos civis falhados que se mostraram incapazes de enfrentar as crises multinacionais".

Mas agora os militares têm de provar que podem controlar o problema do terrorismo - e se serão bem sucedidos é uma dúvida de muitos especialistas.

Burkina Faso: Celebrações pro-junta nas ruas de Ouagadougou

02:06

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