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Quem será o novo líder da NATO?

Teri Schultz
9 de janeiro de 2024

Um dos jogos de adivinhação mais populares em Bruxelas e em outros lugares terminará em breve. O primeiro-ministro holandês cessante, Mark Rutte, lidera uma corrida que ocorre a portas fechadas com regras não escritas.

NATO Secretary General Jens Stoltenberg Visit To Kyiv
Foto: Global Images Ukraine via Getty Images

O atual secretário-Geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO, na sigla em inglês), Jens Stoltenberg, deixará o cargo no final deste ano após quase uma década de serviços à frente da aliança militar do Ocidente.

Ao longo desses anos, dada a relação difícil com a Rússia e as tensões com Donald Trump enquant presidia  os Estados Unidos, não surpreendeu que ninguém quisesse arriscar substituir o estoico Stoltenberg, que ganhou o apelido de "encantador de Trump" pela sua habilidade em acalmar o desbocado líder americano.

O norueguês deve passar o bastão na cimeira dos 75 anos da aliança em Washington, em julho, e encerrar o seu mandato oficialmente a 1 de outubro de 2024.

Sem distrações ou complicações

A ex-porta-voz de Stoltenberg e atualmente pesquisadora no think tank britânico Royal United Services Institute, Oana Lungescu, deu a entender que o novo chefe da NATO deve ser escolhido antes disso, para evitar distrações e complicações.

Lungescu, ela própria a porta-voz mais longeva da entidade, enfatizou que "é realmente importante que a escolha seja feita cedo o suficiente e que seja desvinculada tanto das eleições para a União Europeia [em junho de 2024] quanto da campanha para as eleições nos Estados Unidos".

Segundo ela, "a pior coisa que poderia acontecer seria o secretário-geral da NATO ser uma espécie de 'sobra' de longas negociações sobre a UE ou acabar envolvido numa eleição muito confusa nos Estados Unidos."

Foto: Jonas Walzberg/dpa/picture alliance

Corrida pelo comando acontece nos bastidores

Uma das vagas de emprego de mais alto nível do mundo, a liderança da NATO não vem com descrição formal do cargo, muito menos com uma lista de habilidades requeridas ou instruções sobre como "se candidatar". Os que cobiçam o cargo não serão convidados para uma entrevista, nem devem parecer excessivamente ansiosos para serem escolhidos.

Embora Washington seja amplamente vista como "fazedora de reis", qualquer um dos 31 países da NATO pode atrapalhar. "É realmente muita diplomacia nos bastidores dos dois lados do Atlântico", avalia Ian Lesser, vice-presidente baseado em Bruxelas do think tank German Marshall Fund dos Estados Unidos (GMF). "Tudo é feito por consenso: desde clipes de papel até estratégia nuclear. Faz parte desse processo."

Nesse sentido, o novo secretário-geral da NATO deve se opor à Rússia – mas não de forma tão veemente a ponto de provocar temores de escalada – e estar preparado para defender a própria existência da aliança, sem provocar ainda mais os seus detratores. Ao longo dos muitos anos em que um novo líder foi cogitado, também foram mencionadas qualidades "desejáveis", tais como vir de um país com gastos vultosos em defesa, e de um aliado do sul ou do leste, para variar após mais de 15 anos de liderança nórdica. E que tal finalmente colocar uma mulher no comando?

Porta giratória de esperançosos

Muitos nomes foram mencionados... e caíram. Possíveis favoritos anteriores, como a primeira-ministra dinamarquesa Mette Frederiksen e o ex-secretário de Defesa britânico Ben Wallace, teriam até mesmo discutido pessoalmente as suas chances com o presidente dos EUA, Joe Biden, mas ambos recuaram das suas pretensões posteriormente, sem dar maiores explicações.

Primeira-ministra da Estônia, Kaja KallasFoto: Markus Scholz/dpa/picture alliance

Atualmente, a lista de aspirantes confessos ao cargo inclui a primeira-ministra da Estônia, Kaja Kallas, o ministro das Relações Exteriores da Letônia, Krisjanis Karins, e o atual primeiro-ministro holandês, Mark Rutte.

Segundo o primeiro-ministro mais longevo entre os aliados da NATO – ele só perde para Viktor Orbán, da Hungria –, Rutte foi emergindo gradualmente como o favorito e é considerado uma escolha "mais segura" do que um político báltico, com a guerra do Kremlin contra a Ucrânia dominando a agenda da aliança.

Franca, Kallas é popular e polarizadora, e Karins, embora também seja ex-primeiro-ministro, não está ganhando muita tração.

"Existe a sensação de que ter alguém dos Estados bálticos à frente da NATO seria de alguma forma contraproducente, não ajudaria", afirma Kristi Raik, diretora adjunta do Centro Internacional de Defesa e Segurança em Talin. Ela discorda.

"É difícil ver qual é exatamente o problema, porque as relações com a Rússia a esta altura estão congeladas. De qualquer forma, não estamos a falar sobre a probabilidade de começar a restaurar um relacionamento diplomático tão cedo."

No entanto, e de forma significativa, Rutte é o único candidato que foi discutido pelos embaixadores da NATO, revela Lungescu, em um processo informal paralelo às consultas dos líderes chamado de "café do reitor". Isso ocorre quando o representante nacional mais antigo, atualmente o embaixador croata Mario Nobilo, convoca os seus 30 colegas para discutir questões importantes.

"Há alguns países que ainda precisam finalizar as suas posições, até onde eu sei", afirma Lungescu, "mas estão a trabalhar para um consenso [em relação a Rutte]".

Kallas está determinada

Mesmo que tudo isso aconteça nos bastidores, Kallas não está a fingir que não percebeu. Falando num evento nos EUA em novembro com o site Politico, brincou publicamente sobre o aparente relaxamento de critérios que costumavam ser considerados prioridades num secretário-geral.

Mark Rutte, primeiro-ministro da HolandaFoto: Johanna Geron/REUTERS

"Definitivamente, deveria vir de um país que gastou 2% do PIB em defesa. E seria bom se fosse uma mulher", ela lembrou, ironizando: "então é lógico que seja Mark Rutte". A plateia riu constrangida, e a decepção de Kallas ficou evidente. Os gastos com defesa da Estônia ultrapassarão 3% do PIB no próximo ano, enquanto a Holanda não atingirá os almejados 2%. Ao ser indagada pelo apresentador se ainda quer ser considerada para o cargo, Kallas respondeu com uma palavra: "Sim".

Como gastos militares serão vistos nos Estados Unidos à beira de uma eleição presidencial cujo resultado pode ser, como disse Ian Lesser, do GMF, "muito desafiador politicamente para a Europa"?

Kallas poderia se destacar com o seu orçamento, mas Rutte pode ter a sua própria carta na manga. Numa reunião na Casa Branca em 2019, Rutte e Trump foram vistos a brincar e a bater nos ombros um do outro cordialmente. "Nos tornamos amigos nos últimos anos", disse Trump.

Obstáculo à frente?

Apesar do consenso evidente a ser formado a volta de Rutte, a candidatura do holandês pode ser ameaçada por Viktor Orbán, com quem já protagonizou conflitos em anos anteriores na União Europeia. Há notícias de que o primeiro-ministro da Hungria já anunciou a sua oposição à nomeação.

Observadores não descartam um candidato-surpresa de última hora à chefia da aliança. "Nada é decidido até que tudo seja decidido", adverte Lungescu. Quem "vencer", diz Kristi Raik, "certamente terá um caminho bastante turbulento. De qualquer forma, é nosso trabalho, como europeus, garantir que os Estados Unidos permaneçam comprometidos."

A única coisa que parece certa neste momento é que Stoltenberg terá a oportunidade de se retirar de mais uma corrida: a pelo título de mais longevo secretário-geral da NATO, posto que pertenceu ao holandês Joseph Luns, que ocupou o cargo por 13 anos.

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