Assinala-se este sábado (11.02) o dia de libertação de Nelson Mandela. Este ato trouxe à nação sul-africana a democracia e o fim do apartheid. Trinta e três anos depois, ainda se questiona quem libertou Mandela.
"Eu lutei contra a dominação branca e lutei contra a dominação negra. Apreciei o ideal de uma sociedade democrática e livre, na qual todas as pessoas convivam em harmonia e com oportunidades iguais. É um ideal pelo qual espero viver e alcançar. Mas, se necessário, é um ideal pelo qual estou preparado para morrer", disse.
Para Jardel de Andrade, antigo estudante na África do Sul e analista para questões internacionais, este é "um discurso que fica para história".
"A sua soltura trouxe uma nova luz à África do Sul, servindo como ponto de partida para uma nova era que mudou por completo o rumo da nação arco-íris, servindo de exemplo para o mundo inteiro", acrescentou.
Trinte e três anos depois, o mundo continua a refletir sobre a vida e obra de Nelson Mandela.
Libertação de Mandela trouxe "esperança”
José Gama, jornalista angolano residente na África do Sul, explica que o "11 de fevereiro representa para os sul-africanos o virar da página da história porque foi a data em que o presidente Mandela foi colocado em liberdade. E Mandela ser colocado em liberdade trouxe esperança", afirmou.
"Os sul-africanos concluíram que mais liberdades e mais direitos civis e políticos estavam a caminho", considera.
Alguns países lusófonos como Angola e Moçambique também contribuíram positivamente na libertação de Nelson Mandela.
"Com a independência de Angola e Moçambique as bases do ANC foram transferidas para estes países e isto facilitou a luta do ANC, e neste período começa-se a assinalar a queda do regime, porque o ANC estava perto e começa a fazer actos de sabotagem", conta Gama.
Por esta razão, há angolanos homenageados na África do Sul. "O presidente Agostinho Neto e o presidente José Eduardo dos Santos são, seguramente, as figuras que representam o Estado angolano na luta de libertação de Mandela e do povo sul-africano", comenta.
Mas há outras figuras: "Também Jonas Savimbi o fez, porque tinha relações privilegiadas com o apartheid. Savimbi vinha para aqui e, uma vez, no parlamento sul-africano, apelou aos dirigentes do regime para que libertassem Mandela, sugerindo que "se Mandela morresse na cadeia seria mais perigoso, porque surgiriam outros cem Mandelas".
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O que diz a história?
Victor Muhungo é autor do livro intitulado "Os Angolanos que Libertaram Mandela", lançada em 2016. Muhongo explica, resumidamente, o que a sua obra retrata:
"A obra é um retrato do que os angolanos têm sobre a sua própria história e o entendimento que tem sobre Mandela. Existem jovens inclusivamente fora do continente africano que pensam que Nelson Mandela libertou o continente africano. Há uma exacerbação do papel histórico do pPresidente Mandela no continente africano. Mas isso não ocorre apenas fora do continente, também em Angola muito como resultado de uma fraca divulgação da história de Angola", comentou.
Victor Muhongo explica também que procura no seu livro desconstruir a ideia de que "Mandela libertou-se sozinho". "Era preciso provar por factos históricos e referências históricas que Angola, povo angolano, pessoas, líderes militares. prestaram maior tributo para que Nelson Mandela saísse da cadeia, para que a Namíbia fosse independente, para que o apartheid ruísse", opina.
Em 1994, Nelson Mandela viria a ser o primeiro Presidente negro na história da nação sul-africana.
Em novembro de 2009, a Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas proclamou o 18 de julho como Dia Internacional Nelson Mandela.
José Gama entende que o mundo tem estado a reconhecer os feitos de ‘Madiba'. "Esta é a forma que o mundo encontrou para sinalizar e refletir sobre os feitos e legado do Presidente Mandela não só para África, mas para todo o mundo, porque foi um homem de perdão, um homem que usou a palavras para substituir as armas. Portanto, é um homem de referência global", concluiu.
Nelson Mandela: Uma vida pela liberdade
Sorridente: assim a maior parte dos sul-africanos pensa em Mandela. Carinhosamente apelidado de "Madiba" (seu nome xhosa), foi símbolo da nova África do Sul, de paz e tolerância. No dia 18/7/2018 teria cumprido 100 anos.
Foto: Getty Images
Primeiro escritório de advocacia para negros
Nelson Rolihlahla Mandela nasceu em 18 de julho de 1918 na província do Cabo Oriental, na África do Sul. Já durante os estudos de Direito, mostrava-se politicamente ativo, lutando contra o sistema de segregação racial apartheid. Em 1952, passou a trabalhar no primeiro escritório de advocacia do país dirigido por negros – que oito anos mais tarde seria consumido por um incêndio.
Foto: AP
Apartheid
O apartheid – a separação estrita entre negros e brancos na África do Sul, na época governada pela minoria branca – marcou a infância e juventude de Nelson Mandela. Seu pai lhe deu o nome Rolihlahla, que na língua xhosa significa "o que quebra ramos", ou, figurativamente, "agitador". A placa mostra uma "área branca" numa praia sul-africana.
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O boxeador
Na juventude, Mandela foi um entusiasta do boxe. "No ringue, classe, idade, cor da pele e prosperidade não representam nada" – assim ele explicava o seu amor pelo esporte. Mesmo durante os anos de prisão, ele se manteve em boa forma física. Treinamento com pesos, abdominais e flexões faziam parte de seu programa diário.
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Prisão perpétua
A polícia contém uma multidão reunida diante do tribunal onde se realizam as audiências contra Mandela e outros ativistas anti-apartheid, em 1964. No chamado Processo Rivonia, Nelson Mandela é condenado à prisão perpétua por suas atividades políticas.
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Décadas de confinamento
A vida em cinco metros quadrados: nesta pequena cela na Ilha de Robben, Mandela passa 18 de um total de 27 anos de pena. Ele é o detento número 46664. "Lá, eu só era conhecido como um número", comentou, após sua libertação em 1990.
Foto: cc-by-sa- Paul Mannix
A luta continua
Enquanto Nelson Mandela estava na prisão, outros faziam avançar a luta contra o apartheid, sobretudo a sua então mulher, Winnie Mandela (c.). Ela se tornou líder ativista contra o governo minoritário branco.
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Apoio mundial
No Estádio de Wembley, em Londres, promove-se em julho de 1988 um concerto beneficente por Mandela. Músicos de renome internacional celebram seu 70º aniversário e protestam contra a segregação racial. Cerca de 70 mil espectadores assistem no estádio às dez horas de show, outras centenas de milhares acompanham pela televisão o evento transmitido para 60 países.
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Enfim, livre
Após 27 anos de prisão, Nelson Mandela é libertado em 11 de fevereiro de 1990. Ele e a esposa Winnie erguem os punhos em sinal de orgulho pela luta de libertação negra contra o regime de minoria branca do apartheid.
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Retorno à política
De volta à liderança do Congresso Nacional Africano (CNA), em maio de 1990 Mandela inicia as primeiras conversas com o então presidente sul-africano, Frederik Willem de Klerk (e.). Juntos, eles preparam o caminho para uma África do Sul sem apartheid. Por esses esforços, ambos são laureados com o Prêmio Nobel da Paz em 1993.
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Companheiros de luta
Oliver Tambo (e) und Walter Sisulu (d) contam entre os companheiros mais próximos de Mandela. Em 1944, fundaram a ala jovem do CNA e organizaram manifestações contra o regime racista. Sisulu foi condenado à prisão perpétua, juntamente com Mandela; Tambo passou 30 anos no exílio, principalmente em Londres. Após 1990, todos os três ocuparam cargos de liderança no CNA.
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Posse como presidente
Em 10 de maio de 1994, a África do Sul escreve história: após as primeiras eleições livres e democráticas, Nelson Mandela é eleito primeiro chefe de Estado negro do país. Ele permanece no cargo até 1999, quando passa a presidência ao seu herdeiro político, Thabo Mbeki.
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Reconciliação em vez de vingança
Para esclarecer os crimes do apartheid, Mandela cria a Comissão da Verdade e Reconciliação em 1996. O arcebispo sul-africano e futuro Prêmio Nobel da Paz Desmond Tutu é indicado para presidi-la. A atuação da comissão não fica livre de críticas: muitas vítimas não conseguem aceitar que basta os criminosos admitirem seus atos publicamente para ficarem impunes.
Foto: picture-alliance/dpa
A caminho da Copa 2010
Em 15 de maio de 2004, a África do Sul é escolhida como sede da Copa do Mundo de Futebol de 2010. Orgulhoso, Nelson Mandela ergue a taça. O país inteiro o aclama, em júbilo, como aquele que abriu os caminhos para o grande evento esportivo. Tratou-se do primeiro Mundial de futebol realizado em solo africano.
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Sombras sobre a Nação do Arco-Íris
Em 2008, a xenofobia e a violência eclodem em diversos bairros pobres das metrópoles sul-africanas. A brutal caça aos imigrantes leva à morte de várias pessoas. Muitos se perguntam: terá fracassado a "Nação do Arco-Íris" fundada por Mandela, em que todos deveriam conviver em paz?
Foto: AP
Da política à família
Nos últimos anos de vida, Nelson Mandela ficou mais afastado dos palcos públicos, recolhendo-se cada vez mais ao círculo familiar. Aqui, em 2011, ele festeja seus 93 anos, ao lado dos netos e bisnetos.
Foto: dapd
Funeral de Nelson Mandela
A 5 de dezembro de 2013, "Madiba" morreu em Joanesburgo. Dez dias mais tarde, teve lugar a cerimónia de despedida de Mandela na localidade de Qunu onde passou a sua juventude. Velas iluminaram um perfil do líder sul-africano. O luto foi universal: nos EUA, o então Presidente Barack Obama mandou hastear as bandeiras a meio mastro. Em 18 de julho de 2018, teria festejado o seu 100° aniversário.