Quenianos temem guerra civil se eleições não forem adiadas
Andrew Wasike | Lusa | rl
25 de outubro de 2017
Quenianos temem escalada do conflito eleitoral se exigências da oposição não forem ouvidas. Supremo Tribunal devia ter analisado esta quarta-feira o adiamento das presidenciais, mas não havia juízes suficientes.
Publicidade
A tensão aumenta no Quénia, um dia antes das eleições presidenciais. A população teme uma guerra civil se o escrutínio não for adiado.
"Não estamos preparados para isso. Recomendo que as eleições sejam adiadas. Quando chegar o dia da votação, muitas pessoas vão morrer. E quem lhes disse para protestar foram os seus líderes", afirmou um queniano ouvido pela DW.
Boicote
O ex-primeiro-ministro e líder da oposição, Raila Odinga, o maior rival do Presidente Uhuru Kenyatta, está fora da corrida eleitoral por considerar que estas eleições estão comprometidas, e pede aos seus apoiantes para boicotarem o escrutínio de quinta-feira (26.10).
Quenianos temem guerra civil se eleições não forem adiadas
Já o Presidente Kenyatta está preparado para uma vitória esmagadora, depois do afastamento do seu principal concorrente, e quer que as eleições prossigam conforme o calendário.
Na terça-feira, a polícia queniana disparou gás lacrimogéneo e tiros de aviso para dissolver um protesto na capital, Nairobi, de manifestantes da oposição. Ativistas dos direitos humanos dizem que, até agora, pelo menos 65 pessoas morreram em confrontos com a polícia no Quénia.
Nas ruas de Nairobi, um residente afirmou que viu "pessoas a lutar à esquerda e à direita". Apelou, por isso, à paz no país: "Os manifestantes e a polícia são filhos e filhas dos quenianos. Não queremos ver ninguém ferido. Questionamo-nos por que voam balas por toda a nação."
Durante a manhã desta quarta-feira, o Supremo Tribunal do Quénia deveria ter ouvido as vozes que pedem o adiamento das eleições, alegando que a Comissão Eleitoral não está em condições de garantir uma votação credível, mas faltou o quórum de juízes necessário para tomar uma decisão. Só dois juízes compareceram no tribunal.
Intervenção da União Africana?
O analista político George Musamali sublinha que a democracia está em jogo no Quénia. Musamali receia igualmente uma guerra civil - no entanto, tudo dependerá da reação das autoridades.
"Estamos a andar para trás. Vemos pessoas que vão ao Parlamento e mudam as leis de acordo com os seus caprichos. Estamos a voltar à ditadura. É agora que a União Africana precisa de vir. Não estou a dizer que a razão está do lado da NASA [coligação da oposição] ou do Jubileu [a coligação do Presidente Uhuru Kenyatta]. Olho para a perspectiva de que estamos a falar de um processo democrático. A minha preocupação é que, se a polícia se desintegrar, não falaremos apenas de violência, mas de uma guerra civil", afirma o especialista.
Nestas segundas eleições no Quénia, sete candidatos disputam a Presidência. Entre eles, o advogado Ekuru Aukot, que se define como uma alternativa "neutra".
"Não sou um tribalista, nunca confiei em números tribais ou hegemonia regional para subir na política. Sou apenas um queniano comum que realmente está interessado em questões políticas. Nós devemos mudar o nosso país", afirmou Ekuru Aukot à DW.
*Artigo atualizado às 11:17 de 25 de outubro de 2017, acrescentando a informação sobre a falta de quórum no Supremo Tribunal.
Os herdeiros de Wangari Maathai - O Movimento Green Belt do Quénia
O Green Belt Movement (Movimento Cinto Verde) planta árvores para melhorar as condições de vida da população. Em 2004, a fundadora do movimento, Wangari Maathai recebeu o Prémio Nobel da Paz.
Foto: DW/P. Sandner
O conceito da plantação de árvores
Plantar árvores – é esta a receita simples do Movimento Cinto Verde do Quénia. O objetivo é melhorar as condições de vida das populações, garantindo o fornecimento de madeira para queimar mas também protegendo os solos de erosão. A fundadora Wangari Maathai recebeu em 2004 o Prémio Nobel da Paz, pela primeira vez discernido a um movimento ecologista.
Foto: DW/Philipp Sandner
O mercado decide
Maathai, que cresceu no planalto central do Quénia, assistiu à alteração da paisagem com o passar dos anos. A floresta cada vez mais teve que ceder o lugar às plantações de café e chá. O país também produz quantidades enormes de flores para a exportação. A agricultura intensiva esgota o solo, o nível do lençol freático desce e os rios secam. Quem mais sofre são os pequenos agricultores.
Foto: DW/Philipp Sandner
Lucros imediatos
Muitas florestas estão ameaçadas pelo abate ilegal. Os ladrões de madeira estão particularmente interessados na oliveira africana. A madeira desta árvore arde uniformemente, de modo que pode ser usada para produzir carvão. E é procurada também pelos escultores. A madeira de uma oliveira pode render várias centenas de euros.
Foto: DW/Philipp Sandner
Sair da sombra da fundadora
Maathai morreu em Setembro de 2011, vitimada por um cancro. Não queria morrer antes de cumprir a sua missão, disse na altura. Mas, mesmo depois da sua morte, o movimento continua muito ocupado. Hoje, a associação é presidida pela filha, Wanjira Maathai, que descreve a mãe como tendo sido carismática: “Era muito apreciada por todos os colaboradores”. Recomeçar sem Maathai foi muito difícil, diz.
Foto: DW/Philipp Sandner
Planeamento estratégico da paisagem
Mas o movimento continua a lutar pelo seu objetivo central: mobilizar as comunidades locais para o consumo mais consciente da água. O conceito foi refinado, diz a presidente, acrescentando que as questões que se colocam hoje são diferentes: “De onde vem a nossa água? Como podemos proteger as áreas em causa? Agora plantamos árvores em determinadas regiões, e não em todo o lado como antigamente”.
Foto: DW/Philipp Sandner
Tudo o que é bom vem do alto
Para conservar as fontes naturais de água em todo o país, o Movimento Green Belt concentra-se nas regiões do planalto, onde originam os rios do Quénia. Hoje, há cinco regiões montanhosas com florestas consideradas as “torres de água” do Quénia. Incluindo o Monte Quénia, com 5200 metros o mais elevado do país.
Foto: DW/Philipp Sandner
Consciência do valor das árvores
O movimento quer que os quenianos tomem mais consciência do valor das suas árvores. Para o que obtém cada vez mais apoio. “Vamos plantar árvores”, apela o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas, PNUD, como aqui na pequena cidade de Nanyuki. Os microcréditos servem de chamariz.
Foto: DW/Philipp Sandner
A utilidade da agricultura sustentável
Muitos quenianos adoptaram a missão de plantar árvores. Entre eles Regina Kitoe (à esquerda) e outros membros da organização comunitária “Vizinhos e Meio Ambiente”. Eles ensinam o valor da agricultura sustentável. O que implica plantar árvores na borda dos campos ou entre as culturas. “As árvores trazem a chuva e fazem baixar a temperatura”, diz Kitoe.
Foto: DW/Philipp Sandner
Semente da esperança
Paula Karanja é ativa na associação de mulheres da igreja anglicana do Quénia. “Nós damos modestamente continuação ao trabalho iniciado por Wangari Maathai”, diz Karanja. “Quem abate uma árvore deve substitui-la por outras cinco”. Karanja acredita que poderá assim travar o desmatamento. Uma vez Maathai disse.”Quem planta árvores planta a semente da paz e esperança”.
Foto: DW/Philipp Sandner
Apoio
Desde o início, o Movimento Green Belt contou com a ajuda do Programa Ambiental das Nações Unidas (UNEP), com sede na capital Nairobi. O diretor do programa, Achim Steiner, salienta a importância do movimento: “Por exemplo, a acácia”, diz, explicando que esta é responsável pela fixação de nitrogénio no solo. “Ao plantar árvores autóctones, o Movimento Green Belt apoia a regeneração dos solos”.
Foto: DW/Philipp Sandner
Grandes objetivos
Antigamente, as florestas cobriam um terço da superfície do Quénia. Hoje, a área florestal é de apenas dois por cento. A intervenção do Movimento Green Belt conseguiu inverter a tendência. Steiner diz que as áreas florestais voltaram a crescer. A nova Constituição do Quénia até obriga o Estado a aumentar esta área para dez por cento do total, para preencher a quota mínima do UNEP.
Foto: DW/Philipp Sandner
Pequenos sinais de esperança
Entretanto, muitos quenianos já reconhecem a importância das suas árvores e florestas. Dentro e fora da capital, Nairobi, comerciantes vendem plântulas. Após a morte da sua mãe, Wanjira Maathai plantou o seu pequeno sinal de esperança muito pessoal: uma árvore na floresta de Karura de Nairobi, que um dia Wangari salvou da ganância de investidores.