Caso Navalny: Rússia denuncia "campanha de desinformação"
Lusa
9 de setembro de 2020
Declaração de Moscovo surge após um apelo de integrantes do G7 para levar "com urgência" à justiça os autores do envenenamento do opositor russo. Alexei Navalny está em tratamento em Berlim.
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"A vasta campanha de desinformação em andamento é uma prova clara de que os seus iniciadores não se preocupam com a saúde de Navalny (...), mas procuram mobilizar-se para impor sanções", disse a diplomacia russa num comunicado divulgado esta quarta-feira (09.09).
Os ministros dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido disseram na terça-feira, num comunicado conjunto, que estão "unidos na condenação, nos mais fortes termos, do envenenamento confirmado de Alexey Navalny".
"Nós, os ministros dos Negócios Estrangeiros do G7, exortamos a Rússia a usar toda a transparência em relação à identidade dos responsáveis por este hediondo ataque de envenenamento e a levar os seus perpetradores à justiça", referiu a nota, recordando os "compromissos" de Moscovo em relação à Convenção sobre Armas Químicas.
A União Europeia (UE) evocou possíveis sanções e Berlim, mesmo pela primeira vez, indicou que não descarta o congelamento de seu principal gasoduto com a Rússia, o Nord Stream 2.
Envenenamento
Alexei Navalny, de 44 anos, atualmente em tratamento na Alemanha após ter sido inicialmente hospitalizado na Rússia, foi vítima de um ataque com um agente nervoso do tipo Novichok, de acordo com o Governo alemão. O opositor saiu do coma no início da semana,
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Por sua vez, a Rússia insiste que nenhum vestígio de veneno foi detetado pelos médicos russos no corpo de Navalny e exige ter todas as informações, que a Alemanha ainda não forneceu, de acordo com Moscovo. "Nós continuamos a exortar o lado alemão a dar-nos informações sobre o exame médico de Navalny, incluindo os resultados das suas análises bioquímicas", disse o comunicado da diplomacia russa, denunciando "ataques infundados" contra a Rússia.
"Infelizmente, o lado alemão está a travar o processo", portanto "a histeria em torno desse caso continua a aumentar", lamentou a diplomacia russa. Entretanto, o embaixador alemão é aguardado hoje no Ministério dos Negócios Estrangeiros russo para um intercâmbio sobre o caso, segundo Berlim.
O que se sabe (e não se sabe) sobre o caso Navalny
04:48
Rússia não investiga o caso
Apesar dos protestos dos países Ocidentais, a Rússia desde o início do caso recusou-se a abrir qualquer investigação criminal, acreditando que não havia provas de que um crime pudesse ter sido cometido.
Alexei Navalny, conhecido pelos seus inquéritos anticorrupção dirigidos à elite política russa, sentiu-se mal durante uma viagem de avião em 20 de agosto e foi hospitalizado de urgência em Omsk, na Sibéria, antes de ser enviado para Berlim.
Segundo as autoridades alemãs, o principal opositor do Kremlin foi, "sem dúvida", envenenado na Rússia por um agente neurotóxico do tipo Novichok, uma substância concebida na época soviética para fins militares e já utilizada contra o ex-agente duplo russo Serguei Skripal e sua filha Iulia, em 2018, em Inglaterra. O Governo alemão e outros países ocidentais acusam as autoridades russas do crime, mas o Kremlin rejeita qualquer responsabilidade.
Putin e Merkel: Uma relação de altos e baixos
A relação entre a Rússia e a Alemanha atravessa tempos difíceis. No fim de semana, a chanceler alemã, Angela Merkel, esteve no Azerbaijão à procura de um novo parceiro para reduzir a dependência do gás russo.
Foto: picture-alliance/dpa
Líderes em ascensão
Em 2002, Angela Merkel era líder do então principal partido da oposição na Alemanha, a União Democrata Cristã (CDU). Putin era o novo Presidente de uma nova e moderna Rússia. Depois de se encontrar com Putin no Kremlin, conta-se que Merkel terá dito aos seus assessores que passou no "teste da KGB" de manter o olhar fixo - uma alusão à carreira anterior de Putin nos serviços secretos soviéticos.
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A nova chanceler
Vladimir Putin construiu uma amizade com o antecessor de Angela Merkel, Gerhard Schröder, que se mantém até hoje. No final de 2005, já era claro que Merkel iria destronar o social-democrata Schröder. Numa conversa com Merkel na Embaixada russa em Berlim, Putin prometeu aumentar os laços entre os dois países. Merkel descreveu o diálogo como "muito aberto".
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Um "ouvido amigo" para Putin
Cerca de um ano depois, Putin partilhou as suas impressões sobre a mulher que se tornou chanceler da Alemanha: "Não nos conhecemos a nível muito pessoal, mas estou impressionado com a sua capacidade de ouvir", disse Vladimir Putin à emissora pública alemã MDR de Dresden, acrescentando que ouvir era uma qualidade rara entre as mulheres na política.
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Quando Merkel conheceu o cão de Putin...
É conhecido o medo que a chanceler alemã tem de cães. No entanto, Putin deixou que o seu cão, Konni, passeasse livremente em Sochi, no local em que recebeu Merkel, em janeiro de 2007. Tentativa de intimidação? Merkel parece pensar que sim. "Acho que o Presidente russo sabia muito bem que eu não estava entusiasmada com a ideia de conhecer o cão dele, mas ainda assim trouxe-o com ele", disse.
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E a liberdade de imprensa?
Em 2012, Vladimir Putin assumiu uma posição mais dura em relação à imprensa e aos dissidentes políticos. Questionada sobre a liberdade de imprensa, quando estava em São Petersburgo, Angela Merkel respondeu: "Se eu ficasse irritada todas as vezes que abro um jornal, não duraria três dias como chanceler".
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Diálogo na idade do gelo
As relações entre Moscovo e o Ocidente pioraram após a anexação da Crimeia, em 2014. No entanto, Putin disse à imprensa alemã que ainda mantinha uma "relação de negócios" com a chanceler alemã. "Eu confio nela. É uma pessoa muito aberta. Ela, como qualquer outra pessoa, está sujeita a certas limitações, mas está a tentar resolver as crises de forma honesta", disse ao jornal alemão "Bild".
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Sem querer ofender, mas...
"Não pretendo insultar ninguém, mas a declaração de Merkel é a explosão de uma raiva acumulada há muito sobre a soberania limitada", disse Putin à imprensa em São Petersburgo, em 2017, comentando um discurso da líder alemã em Munique, durante a campanha eleitoral. Angela Merkel pediu aos europeus que confiassem em si próprios, numa altura de disputas com o Presidente norte-americano, Donald Trump.
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"Temos de conversar um com o outro"
Quando Merkel chegou a Sochi, em 2018, Putin recebeu-a com um ramo de flores. Uma oferta de paz? Um galenteio? Sexismo? A chanceler apareceu depois ao lado de Putin e disse que o diálogo precisava de continuar. "Mesmo que haja graves diferenças de opinião sobre alguns assuntos, temos de conversar um com o outro", disse Merkel.