Rússia: Dezenas de milhares em protesto por eleições livres
mjp | com agências
10 de agosto de 2019
ONG conta 40 mil manifestantes nas ruas de Moscovo, no quarto fim de semana consecutivo de protestos contra a exclusão de candidatos da oposição às eleições municipais.
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Dezenas de milhares de manifestantes reuniram-se este sábado, na capital russa, para denunciar a exclusão de candidatos às eleições municipais de setembro, incluindo aliados do principal crítico do Presidente Vladimir Putin, Alexei Navalny.
Segundo uma organização não-governamental especializada em contagem de manifestantes, a Beliye Schetchik, cerca de 40 mil pessoas participavam ao início da tarde no protesto que teve lugar na ausência de vários líderes da oposição, detidos em manifestações anteriores e condenados a penas de prisão curtas. Já a polícia aponta para 20 mil participantes.
Ao contrário dos dois últimos protestos – marcados por episódios violentos e mais de 2 mil detidos - as autoridades de Moscovo autorizaram esta manifestação. No entanto, algumas figuras da oposição apelaram à realização de uma marcha não-autorizada após o protesto no centro da cidade.
Munidos de faixas e bandeiras, os manifestantes realizaram o seu quarto grande protesto no espaço de um mês, exigindo que seja dada permissão para concorrer aos candidatos excluídos das eleições de setembro, vistas por muitos como um ensaio para as eleições legislativas de 2021. As autoridades afirmam que os candidatos da oposição não conseguiram reunir as assinaturas necessárias para concorrer, mas os visados denunciam uma mentira e insistem em participar.
Horas antes do início da manifestação, a polícia deteve uma das principais ativistas da oposição, Lyubov Sobol, atualmente em greve de fome. Homens de cara tapada realizaram uma rusga no seu escritório e a polícia alega ter informações de que Sobol e outros ativistas estariam a planear uma "provocação" para o protesto deste sábado.
O principal opositor do Kremlin, Alexei Navalny - alvo de uma investigação por "lavagem de dinheiro" através de um fundo de luta contra corrupção - e pelo menos sete dos seus aliados estão atualmente detidos por violarem a lei da manifestação.
Putin e Merkel: Uma relação de altos e baixos
A relação entre a Rússia e a Alemanha atravessa tempos difíceis. No fim de semana, a chanceler alemã, Angela Merkel, esteve no Azerbaijão à procura de um novo parceiro para reduzir a dependência do gás russo.
Foto: picture-alliance/dpa
Líderes em ascensão
Em 2002, Angela Merkel era líder do então principal partido da oposição na Alemanha, a União Democrata Cristã (CDU). Putin era o novo Presidente de uma nova e moderna Rússia. Depois de se encontrar com Putin no Kremlin, conta-se que Merkel terá dito aos seus assessores que passou no "teste da KGB" de manter o olhar fixo - uma alusão à carreira anterior de Putin nos serviços secretos soviéticos.
Foto: picture-alliance/dpa
A nova chanceler
Vladimir Putin construiu uma amizade com o antecessor de Angela Merkel, Gerhard Schröder, que se mantém até hoje. No final de 2005, já era claro que Merkel iria destronar o social-democrata Schröder. Numa conversa com Merkel na Embaixada russa em Berlim, Putin prometeu aumentar os laços entre os dois países. Merkel descreveu o diálogo como "muito aberto".
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Um "ouvido amigo" para Putin
Cerca de um ano depois, Putin partilhou as suas impressões sobre a mulher que se tornou chanceler da Alemanha: "Não nos conhecemos a nível muito pessoal, mas estou impressionado com a sua capacidade de ouvir", disse Vladimir Putin à emissora pública alemã MDR de Dresden, acrescentando que ouvir era uma qualidade rara entre as mulheres na política.
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Quando Merkel conheceu o cão de Putin...
É conhecido o medo que a chanceler alemã tem de cães. No entanto, Putin deixou que o seu cão, Konni, passeasse livremente em Sochi, no local em que recebeu Merkel, em janeiro de 2007. Tentativa de intimidação? Merkel parece pensar que sim. "Acho que o Presidente russo sabia muito bem que eu não estava entusiasmada com a ideia de conhecer o cão dele, mas ainda assim trouxe-o com ele", disse.
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E a liberdade de imprensa?
Em 2012, Vladimir Putin assumiu uma posição mais dura em relação à imprensa e aos dissidentes políticos. Questionada sobre a liberdade de imprensa, quando estava em São Petersburgo, Angela Merkel respondeu: "Se eu ficasse irritada todas as vezes que abro um jornal, não duraria três dias como chanceler".
Foto: picture-alliance/dpa
Diálogo na idade do gelo
As relações entre Moscovo e o Ocidente pioraram após a anexação da Crimeia, em 2014. No entanto, Putin disse à imprensa alemã que ainda mantinha uma "relação de negócios" com a chanceler alemã. "Eu confio nela. É uma pessoa muito aberta. Ela, como qualquer outra pessoa, está sujeita a certas limitações, mas está a tentar resolver as crises de forma honesta", disse ao jornal alemão "Bild".
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Sem querer ofender, mas...
"Não pretendo insultar ninguém, mas a declaração de Merkel é a explosão de uma raiva acumulada há muito sobre a soberania limitada", disse Putin à imprensa em São Petersburgo, em 2017, comentando um discurso da líder alemã em Munique, durante a campanha eleitoral. Angela Merkel pediu aos europeus que confiassem em si próprios, numa altura de disputas com o Presidente norte-americano, Donald Trump.
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"Temos de conversar um com o outro"
Quando Merkel chegou a Sochi, em 2018, Putin recebeu-a com um ramo de flores. Uma oferta de paz? Um galenteio? Sexismo? A chanceler apareceu depois ao lado de Putin e disse que o diálogo precisava de continuar. "Mesmo que haja graves diferenças de opinião sobre alguns assuntos, temos de conversar um com o outro", disse Merkel.