A República Centro-Africana anunciou hoje que a Rússia e o Ruanda enviaram "várias centenas" de soldados para o país, após uma alegada tentativa de golpe de Estado denunciada pelo Governo antes das eleições no domingo.
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"A Rússia enviou várias centenas de soldados e armas pesadas" no âmbito de um acordo de cooperação bilateral, disse esta segunda-feira (21.12) o porta-voz do governo da República Centro-Africana (RCA), Ange Maxime Kazagui.
"Os ruandeses também enviaram várias centenas de homens que estão no terreno e já começaram a lutar", acrescentou.
No sábado (19.12), o Governo centro-africano acusou o ex-Presidente François Bozizé de uma "tentativa de golpe de Estado", enquanto uma coligação de grupos armados lança uma ofensiva em várias localidades do oeste do país.
"François Bozizé encontra-se nos arredores da cidade de Bossembele (a 150 quilómetros a noroeste da capital) com a clara intenção de marchar com os seus homens sobre a cidade de Bangui", disse o porta-voz.
"Isto é claramente uma tentativa de golpe de Estado que o Governo tem quer denunciar neste período eleitoral", declarou Kazagui, referindo-se às eleições presidenciais e legislativas do próximo domingo (27.12).
Oposição exige adiamento das eleições
A oposição já exigiu o adiamento das eleições presidenciais e legislativas de 27 de dezembro, depois de o Governo ter denunciado uma tentativa de golpe de Estado.
A Coligação da Oposição Democrática (COD-2020), liderada até há pouco tempo por François Bozizé, "exige o adiamento das eleições até que a paz e a segurança sejam restabelecidas".
O COD-2020 reúne os partidos e movimentos mais importantes da oposição ao Presidente Faustin Archange Touadéra, que é o favorito do escrutínio para um segundo mandato. A coligação exige também "a convocação sem demora" das "forças vivas da nação".
Num comício eleitoral em Bangui, no sábado (19.12), o Presidente Faustin Archange Touadéra afirmou que "a autoridade eleitoral nacional e o Tribunal Constitucional asseguraram que as eleições se realizarão a tempo".
África em 2021: Ano novo, vida nova... ou nem por isso?
A luta contra a Covid-19, eleições em vários países, conflitos não resolvidos e a maior zona de comércio livre do mundo. Eis a agenda que irá marcar o ano de 2021 no continente africano.
Foto: Isaac Kasamani/AFP
Lançamento da maior zona de comércio livre do mundo
No primeiro dia de 2021, as economias africanas vão entrar numa nova era: o lançamento oficial da Área de Comércio Livre Continental Africana (AfCFTA). Será criada nos próximos meses e anos a maior zona de comércio livre do mundo, semelhante ao mercado único europeu. Os peritos acreditam que o acordo tem um enorme potencial, mas a pandemia de Covid-19 está a dificultar a sua implementação.
Foto: Getty Images/AFP/S. Kambou
"Showdown" político no Uganda
Operações policiais contra a oposição, tiroteios, protestos com dezenas de mortos: As imagens da campanha eleitoral do Uganda estão a causar preocupação em todo o mundo. A 14 de Janeiro, o povo vai votar entre o Presidente no poder desde 1986, Yoweri Museveni, e o músico, Robert Kyagulanyi, também conhecido por Bobi Wine. No entanto, os analistas duvidam que as eleições sejam livres e justas.
Foto: Lubega Emmanuel/DW
Ano fatídico no Corno de África
Estarão os etíopes unidos após a campanha do governo contra a Frente Popular de Libertação do Tigray (TPLF)? Ou será que o país se vai dividir devido aos seus muitos conflitos internos? 2021 poderá determinar se o primeiro-ministro, Abiy Ahmed Ali, pode trazer um equilíbrio democrático à Etiópia. Há eleições (ainda sem data definida) para o início do verão.
Foto: Amanuel Sileshi/AFP
Crises de refugiados
Uma consequência do conflito em Tigray é clara: dezenas de milhares de pessoas fugiram da região para o Sudão, cujo governo recém-criado está a lutar pelo sustento dos deslocados. Noutros lugares, também se teme que os conflitos em curso em 2021 conduzam a novas crises de refugiados e deixem as antigas por resolver: nos Camarões, no norte da Nigéria e na República Democrática do Congo.
Foto: Mohamed Nureldin Abdallah/REUTERS
Eleições num ambiente difícil
Uganda, Etiópia, Benim, Somália, Sul do Sudão, Zâmbia, Cabo Verde, Chade e Gâmbia elegerão novos chefes de Estado ou governo em 2021. Enquanto em alguns lugares se espera que as eleições sejam comparativamente calmas, a situação na Somália e no Sul do Sudão, por exemplo, já está tensa devido à difícil situação de segurança no terreno.
Foto: Cellou Binani/AFP
Esperança na vacina para a Covid-19
Embora os países africanos estejam a atravessar a pandemia melhor do que o esperado, as consequências sanitárias e económicas são inúmeras. As vacinas alimentam esperanças, mas África ainda não está preparada para a "maior campanha de vacinação de sempre", disse Matshidiso Moeti, da OMS. Os peritos não esperam que a vacinação comece antes de meados de 2021, devido a dificuldades logísticas.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Mednick
O corte da dívida será uma realidade?
As consequências da pandemia não desaparecerão, mesmo após uma imunização bem sucedida: o iminente incumprimento soberano de alguns países africanos. Embora o G-20 tenha iniciado o alívio da dívida no início da crise, as ONG estão a pedir um corte abrangente da dívida para amortecer as consequências humanitárias da crise da Covid-19.
Foto: Getty Images/AFP/T. Karumba
A crise climática em África
Secas, pragas de gafanhotos, inundações: nenhum continente sofre tanto com a crise climática como África. Mas jovens ativistas como Vanessa Nakate (foto), do Uganda, já não querem aceitar o serviço pago pelo norte global. Ela está a lutar para que o seu continente seja ouvido. Um exemplo será a Cimeira Mundial das Nações Unidas sobre o Clima, que deverá ter lugar em novembro de 2021.