Rússia envia tropas e formadores militares para o Níger
DW (Deutsche Welle) | DPA | Reuters
12 de abril de 2024
Militares russos já se encontram em Niamey para treinar soldados do Níger e instalar um sistema de defesa aérea. A Rússia tem tentado estabelecer laços mais fortes com países africanos governados por juntas militares.
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O Ministério da Defesa da Rússia enviou pessoal militar e formadores para o Níger na quarta-feira (10.04) para instalar sistemas e formar soldados, informou a televisão estatal RTN.
O canal nigerino mostrou pessoas e bens a serem descarregados de um avião de carga militar, com imagens de aviões russos Ilyushin-76.
O envio de pessoal russo para o país africano faz parte de um acordo recente entre o líder da junta militar do Níger, Abdourahamane Tchiani, e o Presidente russo, Vladimir Putin. Os dois países estão a tentar aumentar a cooperação.
"Estamos aqui para treinar o exército nigerino" e "para desenvolver a cooperação militar entre a Rússia e o Níger", disse à RTN um instrutor vestido com camuflagem e com a maior parte do rosto coberto.
O canal informou ainda que a Rússia também planeia instalar um sistema antiaéreo.
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Laços tensos com o Ocidente
A crescente proximidade da junta com a Rússia suscitou o alarme dos Estados Unidos da América. Em março, a junta nigerina declarou ter revogado um acordo com o governo dos EUA que permitia a presença de tropas americanas em duas das suas bases
Cerca de 1000 militares norte-americanos operaram a partir do país até 2023, e o governo dos EUA também construiu uma base de drones que custou mais de 100 milhões de dólares (92,7 milhões de euros).
Cimeira Rússia-África: Amizades em tempos de guerra
04:52
Entretanto, a Alemanha continua a operar uma base aérea na capital do Níger, Niamey.
Golpes de Estado multiplicam-se
O Níger e os seus vizinhos Mali e Burkina Faso assistiram a vários golpes militares nos últimos anos. As juntas destes países puseram termo a acordos militares de longa data com a antiga potência colonial, a França, e formaram a Aliança dos Estados do Sahel (AES).
A Rússia intensificou os seus esforços para estabelecer relações mais fortes com as nações africanas, posicionando-se como uma potência militar sem passado colonial.
Antes do golpe militar de julho passado, o Níger e os EUA, a França e alguns outros países europeus estavam a cooperar na luta contra as milícias islamistas na região do Sahel.
A violência tem aumentado na região desde os golpes, com um aumento de 38% registado na região central do Sahel em 2023, de acordo com o Projeto de Dados sobre Localização e Eventos de Conflitos Armados (ACLED), com sede nos EUA.
A Organização Internacional das Migrações (OIM) revelou na segunda-feira (08.04) que há 3 milhões de pessoas deslocadas, à medida que se instala uma crise humanitária na região.
Golpes de Estado em África: Um mal endémico
Em menos de um ano, o continente africano viveu oito golpes e tentativas de golpe de Estado. A maior parte aconteceu na África Ocidental, região do continente mais fértil para as intentonas. Não há fator surpresa.
Foto: Radio Television Guineenne/AP Photo/picture alliance
Níger: Tentativa de golpe fracassada
A tentativa de golpe de Estado aconteceu a 31 de março de 2021, dois dias antes da tomada de posse do Presidente Mohamed Bazoum. Na capital, Niamey, foram detidos alguns membros do Exército por detrás da tentativa. O suposto líder do golpe é um oficial da Força Aérea encarregado da segurança na base aérea de Niamey. O Níger já sofreu 4 golpes de Estado: o último, em 2010, derrubou Mamadou Tandja.
Foto: Bernd von Jutrczenka/dpa/picture alliance
Chade: Uma sucessão com sabor a golpe de Estado
Pouco depois do marechal Idriss Déby ter vencido as presidenciais, morreu em combate contra rebeldes. A 21 de abril de 2021, o seu filho, o general Mahamat Déby, assumiu a liderança do país, sem eleições, nomeando 15 generais para o Conselho Militar de Transição, entre eles familiares seus. Idriss governou o Chade por mais de 30 anos com mão de ferro e o filho dá sinais de lhe seguir os passos.
Foto: Christophe Petit Tesson/REUTERS
Mali: Um golpe entre promessas de eleições
O coronel Assimi Goita foi quem derrubou Bah Ndaw da Presidência do Mali a 24 de maio de 2021. Justifica que assim procedeu porque tentava "sabotar" a transição no país. Mas Goita prometeu eleições para 2022 e falou em "compromisso infalível" das Forças Armadas na defesa da segurança do país. Pouco depois, o Tribunal Constitucional declarou o coronel Presidente da transição.
Foto: Xinhua/imago images
Tunísia: Um golpe de Estado sem recurso a armas
No dia 25 de julho de 2021, Kais Saied demitiu o primeiro ministro, seu rival, Hichem Mechichi, e suspendeu o Parlamento por 30 dias, o que foi considerado golpe de Estado pela oposição, que convocou manifestações em nome da democracia. Saied também levantou a imunidade dos parlamentares e garantiu que as decisões foram tomadas dentro da lei. Nas ruas de Tunes, teve o apoio da população.
Foto: Fethi Belaid/AFP/Getty Images
Guiné-Conacri: Um golpista da confiança do Presidente
O dia 5 de setembro de 2021 começou com tiros em Conacri, uma capital que foi dominada por militares. O Presidente Alpha Condé foi deposto e preso pelo coronel Mamady Doumbouya - que dissolveu a Constituição e as instituições. O golpista traiu Condé, que o tinha em grande estima e confiança. Doumboya tinha demasiado poder e não se entendia com a liderança da ala castrense.
Foto: Radio Television Guineenne via AP/picture alliance
Sudão: Golpe compromete transição governativa
A 25 de outubro de 2021, os golpistas começaram por prender o primeiro ministro, Abdalla Hamdok, e outros altos quadros do Governo para depois fazerem a clássica tomada da principal emissora. No comando estava o general Abdel Fattah al-Burhan, que dissolveu o Conselho Soberano. Desde então, o Sudão vive manifestações violentas, com a polícia a ser acusada de uso excessivo de força.
Foto: Mahmoud Hjaj/AA/picture alliance
Burkina Faso: Golpe de Estado festejado
A turbulência marcou o começo do ano, mas a intentona foi celebrada em grande nas ruas da capital, Ouagadougou. A 23 de janeiro de 2022, o tenente-coronel Paul Damiba liderou o golpe de Estado ao lado do Exército. Ao Presidente Roch Kaboré não restou outra alternativa se não demitir-se. Tal como os golpistas de outros países, comprometem-se a voltar à ordem constitucional após consultas.
Foto: Facebook/Präsidentschaft von Burkina Faso
Guiné-Bissau: Intentona ou "inventona"?
Tiros, alvoroço, mortos e feridos no Palácio do Governo marcaram o dia 1 de fevereiro de 2022 em Bissau. O Presidente Umaro Sissoco Embaló diz que os golpistas queriam matá-lo e ao primeiro ministro, Nuno Nabiam. Houve algumas detenções, mas até hoje não se conhece o líder golpista. No país, acredita-se que tudo não passou de um "teatro" orquestrado pelo próprio Presidente, amplamente contestado.