Novinte: "Chapo deu uma maçã a Mondlane depois de o cercar"
26 de março de 2025
O Presidente de Moçambique, Daniel Chapo, destacou esta terca-feira (25.03) que o encontro que manteve no domingo (23.03), com o ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane foi um passo essencial para garantir a paz e a estabilidade financeira do país.
O chefe de Estado afirmou ainda que o pensamento divergente impulsiona o desenvolvimento e não deve ser motivo para ódio ou violência.
No entanto, Raúl Novinte, o antigo edil de Nacala pela Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), entende que para além de ser benéfico para o país, rumo à reconciliação nacional, o encontro entre Chapo e Mondlane é vantajoso para a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), o partido no poder desde 1975.
"Porque roubou, fez a fraude eleitoral, está a governar, matou, oprimiu o povo e agora vai ter uma paz tranquila", afirma Novinte em entrevista à DW, acrescentando que os processos judiciais em curso na Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Mondlane são uma ameaça, pelo que não terão a mesma força.
DW África: Como vê este encontro entre Daniel Chapo e Venâncio Mondlane?
Raúl Novinte (RN): É um ato que traz vantagens e desvantagens políticas. Vejo-o como um ato onde o regime do dia está buscando refrescar os nossos corações depois de seis meses de assassinatos e perseguições. Mas eu digo nunca é tarde, valeu a pena ter acontecido o encontro entre o Presidente da República e o engenheiro Venâncio Mondlane. A vantagem é para o povo moçambicano, é para a sociedade moçambicana. Todos ganhamos quando temos a paz, quando temos o silêncio das armas, quando temos tranquilidade e harmonia.
DW África: Mas quais são as desvantagens?
RN: As desvantagens são políticas. Temos de entender que o engenheiro Venâncio Mondlane só hoje é que é convidado a falar com o Presidente da República, devia ter sido antes. Ele devia estar ali naquela assinatura dos termos de compromisso para o acordo definitivo, mas foi excluído e depois foi solicitado para a Procuradoria-Geral da República. Depois da Procuradoria levaram a coordenadora e colocaram-na na cadeia. Tudo isso é opressão, é intimidação e o engenheiro Venâncio Mondlane não tinha outra maneira.
DW África: Significa que Venâncio Mondlane foi encurralado?
RN: Encurralado, sim. Mesmo que seja o Presidente da República a procurar falar com ele, não deviam ter procurado falar com ele depois de fazer essas manobras todas. Intimidaram-no, intimidaram-nos a nós. Primeiro colocaram o cerco, depois chamaram-nos para comer a maçã. O que o Presidente da República fez foi dar uma maçã ao engenheiro Venâncio Mondlane. Não seria assim, seria naquele momento que reconheceriam que este é um ator político moçambicano e é importante. Independentemente do que aconteceu, ele precisa estar à parte, porque o objetivo principal é resolver esses problemas que aconteceram aqui.
DW África: Dizia também no começo desta conversa que o Governo da FRELIMO está a tentar massajar os corações dos moçambicanos. Não acredita na genuinidade desse processo?
RN: Todo o povo moçambicano vai acreditar quando vir que, afinal de contas, o partido FRELIMO, ou o Governo da FRELIMO, ou o Governo saído da FRELIMO tem a capacidade de assinar um acordo, um compromisso e cumprir. O problema é que muitos acordos foram assinados e esse regime nunca cumpriu, simplesmente rasgou e guardou. Nós queremos ver um acordo assinado e cumprido. Então, se analisarmos, até a FRELIMO sai muito mais a ganhar aí.
DW África: Porquê?
RN: Porque já roubou, já fez a fraude, está a governar, oprimiu o povo, matou e agora vai ter uma paz tranquila.