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ReligiãoAngola

Raúl Tati: Igrejas africanas devem emancipar-se de Roma

Simão Lelo
28 de maio de 2021

O antigo vigário-geral da diocese de Cabinda, Raúl Tati, considera que a igreja africana precisa começar "a caminhar com os seus próprios pés" e emancipar-se de Roma. A aposta deve ser na auto-sustentabilidade, defende.

Aktivisten sprechen über die angolanische Enklave Cabinda in Portugal
Foto: DW/J.Carlos

Raúl Tati, que durante muitos anos esteve à frente da casa de formação de sacerdotes na diocese de Cabinda, aponta alguns caminhos que podem ajudar a igreja africana a conseguir mais independência.

"Algo mais se devia fazer nessa perspetiva para que a igreja africana pudesse emancipar-se. Para tal, os padres e clérigos africanos já defendiam há bastante tempo um concílio para África e não um sínodo. Deveria haver um concílio para África para suscitar vários assuntos. Porém, o concílio é onde são tomadas várias decisões definitivas, diferentemente do sínodo onde o papa, bispos e outros consultam", explica em entrevista à DW.

Atualmente, muitas denominações religiosas em África são consideradas instituições comerciais. E várias franjas da sociedade veem-se dominadas por várias religiões e as chamadas seitas religiosas. Em causa está a formação e o comprometimento daqueles que estão à frente destes grupos, afirma Raúl Tati.

Revisão do modelo de formação dos sacerdotes

O antigo secretário-geral da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST) teme que a má formação de alguns agentes religiosos seja um grande empecilho e pede uma revisão do modelo de formação dos sacerdotes na Igreja Católica Apostólica Romana.

Igreja de Tchiowa em CabindaFoto: picture alliance/robertharding/M. Runkel

"O próprio modelo de formação de sacerdote tem que ser revisto. Este modelo romano hoje já põe em causa. Cada contexto tem os seus desafios e é preciso rever estes modelos. Hoje na Europa, por exemplo, já não se encontram vários seminários albergando vários seminaristas, ou seja, os seminaristas estão numa determinada paróquia e estes, por sua vez, frequentam a faculdade normalmente. Nós africanos devemos, sobretudo, ser um pouco mais compatíveis e isto não significa pôr em causa a obediência a Pedro".

Numa altura em se registam várias crises nas mais variadas igrejas em África - e muitas servem de trampolim para extorquir os crentes mais pobres - o antigo vigário-geral da diocese de Cabinda afirma que a emancipação africana passa pela aposta na auto-sustentabilidade das igrejas africanas.

"As igrejas africanas estão super dependentes da congregação para a evangelização dos povos. Se houver emancipação económica e financeira, certamente vamos passar para outro tipo de emancipação. Roma continua a controlar as igrejas de África por causa disso", conclui.

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