Bureau Político do MPLA realiza jornada em Cabinda. Deputado Raúl Tati critica marketing e cartazes do partido, que não resolvem problemas. "A população não vai comer cartazes. Tem fome e precisa de medicamentos", diz.
Raúl Tati: "Não é esse marketing todo que estão a fazer do MPLA que vai resolver os problemas de Cabinda"Foto: DW/C. Luemba
Publicidade
A terceira jornada política do secretariado do Bureau Político do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) está a decorrer na província de Cabinda, com o objetivo de avaliar a situação política, económica e social da província.
Apesar de ser a província que produz grande parte do petróleo de Angola, Cabinda continua a registar conflitos políticos e sociais. E não é com "marketing e cartazes do MPLA" que se resolvem os problemas em Cabinda, afirma em entrevista à DW África Raúl Tati, deputado independente apoiado pela bancada parlamentar da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA).
"A população tem fome e precisa de medicamentos", lembra Tati, que é natural do enclave. O deputado também critica o Presidente angolano, João Lourenço, que acusa de estar "simplesmente a ignorar o problema de Cabinda".
DW África: Sob a presidência de João Lourenço, será que o MPLA, o partido no poder em Angola, adotou uma política mais conciliadora e dialogante?
Raúl Tati (RT): Infelizmente, a presidência de João Lourenço é mesmo uma presidência que não vai de encontro aos problemas de Cabinda. Até devo dizer que o Presidente José Eduardo dos Santos talvez tenha sido um pouco mais pró-ativo nesse sentido, pois embora não tivesse acertado nas estratégias para a solução do problema de Cabinda e o conflito que ainda está aqui vigente, pelo menos admitia que havia um problema e em várias entrevistas, em vários momentos, foi, de facto, falando dessa questão do problema de Cabinda. Inclusivamente, tentou usar estratégias para a solução do problema, que não deram certo. Agora, o Presidente João Lourenço o que está a fazer simplesmente é ignorar esse problema, tentando tapar o sol com a peneira. Para nós continua a ser uma desilusão o MPLA. Tudo aquilo que se podia esperar que o MPLA fizesse para melhorar as coisas em Cabinda, não conseguiu fazer.
Raúl Tati: João Lourenço "ignora" o problema de Cabinda
This browser does not support the audio element.
DW África: O que é que os moradores de Cabinda podem ganhar com esta reunião do Bureau Político do MPLA, que conta com os mais destacados membros do partido, a começar pela vice-presidente, Luísa Damião?
RT: Não conheço bem qual é a agenda desta reunião em Cabinda, mas já se começa a dizer que vão visitar certas obras, certas infraestruturas que estão em construção. São sempre as mesmas visitas, que não resolvem absolutamente nada.
DW África: E nota-se a presença do MPLA? Há muitos cartazes do MPLA nas ruas?
RT: Está tudo cheio de cartazes, com a cara do Presidente João Lourenço. Mas é claro que a população ignora isso. Isso não diz absolutamente nada à população local. A população não vai comer cartazes, não vai comer bandeirolas. A população tem fome, precisa de medicamentos, de assistência médica, precisa de tudo aquilo que é básico para se ter uma vida condigna. Isso é que é fundamental, não são esses cartazes, não é esse marketing todo que estão a fazer do MPLA que vai resolver os problemas.
DW África: Se bem entendi, não foram corrigidos nenhuns erros do passado? O MPLA continua a não fazer um mea culpa?
RT: Nem o erro mais colossal foi corrigido, nem sequer os mais pequenos. Portanto, continuamos na mesma.
Angola: Jovens desempregados marcham em Luanda
O elevado índice de desemprego levou os jovens angolanos novamente às ruas. Durante a caminhada de sábado (08.12) os "kunangas", nome atribuído aos desempregados, exigiram políticas para a criação de postos de trabalho.
Foto: DW/B. Ndomba
Caminhar por mais emprego
Onde estão os 500 mil empregos que o Presidente da República, João Lourenço, prometeu durante a campanha eleitoral de 2017? Foi uma das questões colocadas pelos jovens desempregados que marcharam nas ruas de Luanda. A marcha decorreu sob o lema "Emprego é um direito, desemprego marginaliza".
Foto: DW/B. Ndomba
Apoio popular
Populares e vendedores ambulantes apoiaram o protesto deste sábado, que foi também acompanhado pelas forças de segurança. Participaram na marcha algumas associações como o Movimento Estudantil de Angola (MEA) e a Associação Nova Aliança dos Taxistas. Os angolanos que exigem criação de mais postos de trabalho marcharam do Cemitério da Sant Ana até ao Largo das Heroínas, na Avenida Ho Chi Minh.
Foto: DW/B. Ndomba
Níveis alarmantes
O Governo angolano reconhece que o nível de desemprego é preocupante no país. 20% da população em idade ativa está desempregada, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgados no ano passado. Os jovens em Angola são os mais afetados - 46% não têm emprego.
Foto: DW/B. Ndomba
Palavras de ordem
Os manifestantes exibiram vários cartazes com mensagens dirigidas ao Presidente e ao Governo: "João Lourenço mentiroso, onde estão os 500 mil empregos?", "Ser cobrador de táxi não é minha vontade" e "Por kunangar perdi respeito em casa”, foram algumas das questões levantadas.
Foto: DW/B. Ndomba
Estágios, inclusão e subsídios
Além de empregos, os manifestantes exigem políticas de estágio - para que os recém formados tenham a experiência exigida pelas empresas – e programas que beneficiem pessoas com deficiência física. Este sábado, pediram também ao Governo que atribua subsídio de desemprego aos angolanos que não trabalham.
Foto: DW/B. Ndomba
Sem perspetivas de trabalho
O índice do desemprego piorou com a crise económica e financeira em Angola, desde 2015. O preço do crude caiu no mercado internacional, e, como o país está dependente das exportações de petróleo, entraram menos divisas. Muitas empresas foram obrigadas a fechar as portas e milhares de cidadãos ficaram desempregados.
Foto: DW/B. Ndomba
Formados e desempregados
Entre os manifestantes ouvidos pela DW África em Luanda, histórias como a de Joice Zau, técnica de refinação de petróleo, repetem-se. Concluiu a sua formação em 2015 e, desde então, não teve quaisquer oportunidades de emprego: "Já entreguei currículos em várias empresas no ramo petrolífero e nunca fui convocada", conta. Gostaria de continuar a estudar, mas, sem emprego, são muitas as dificuldades.
Foto: DW/B. Ndomba
É preciso fazer mais
Para a ativista Cecília Quitomebe, o Executivo está a "trabalhar pouco para aquilo que é o acesso ao emprego para os jovens". No final da marcha, a organização leu um "manifesto" lembrando que a contestação à política de João Lourenço começou a 21 de julho, quando o mesmo grupo de jovens exigiu mais políticas de emprego. Na altura, a marcha realizou-se em seis cidades. Este sábado, ocorreu em 12.