Raiva mata em Maputo
19 de agosto de 2014 O Ministério da Saúde está preocupado com as estatísticas das mortes por raiva em Maputo. Doze mortos na capital moçambicana até pode ser pouco, diz o Ministério.
O setor da saúde indica que há famílias que menosprezam as mordeduras de cães, não levando as vítimas às unidades sanitárias, onde se faz o encaminhamento tanto do ferido como do animal.
Os casos mais dramáticos acontecem nas zonas periféricas. Pelo facto nas últimas semanas de julho foi desencadeada uma campanha de vacinação contra a raiva que atingiu 1900 cães.
Não há números exatos de cães existentes em Maputo. Mas sabe-se que a maior parte deles está nas zonas suburbanas.
Historial de vacinação é duvidoso
Segundo Cristolde Salomão, do Instituto Nacional de Saúde, os donos dos cães desconhecem o estado de saúde dos seus animais: "Nos registos do Centro de Exames Médicos, onde se faz este tipo de perguntas, que tipo de cão está envolvido e se o cão foi vacinado, a maior percentagem não sabe dizer se o cão foi ou não vacinado, embora fosse um cão conhecido."
O Instituto Nacional de Saúde divulgou por outro lado que a maior parte dos cães que morderam os cidadãos é doméstico.
Contudo, poucos são os cães confirmados como tendo um historial de vacinação atualizado, o que revela a falta de cuidado dos criadores para com a saúde do animal.
Segundo a funcionária do Instituto Nacional de Saúde "muitos dos cidadãos que foram mordidos pelos cães dirigem-se aos donos do animal que muitas vezes fogem à responsabilidade."
O médico veterinário e investigador da Faculdade de Veterinária da Universidade Eduardo Mondlane, Alberto Dimande, diz não haver explicações para tantas mortes por mordeduras de cães.
Dimande está preocupado pelo fato de os cidadãos que criam animais numa cidade, como a de Maputo, não observarem os requisitos básicos como a obrigatoriedade de vaciná-los.
O médico veterinário fala da situação na capital moçambicana: "se olharmos por exemplo para Maputo, esta era uma cidade que tinha uma população, há muitos anos, que não atingia os 2 milhões de habitantes e, provavelmente, agora estamos um pouco acima. Se as pessoas souberem viver numa cidade tem custos, se criamos animais há custos adicionais."
Alberto Dimande destaca ainda a responsabilidade dos donos dos cães: "Temos pessoas com animais dentro dos quintais, outros vagueam pelas ruas, são cães com donos, mas que muitas vezes estão nas ruas. Se temos 3, 4 cães mal conseguimos alimentarmo-nos a nós mesmos e, depois não podemos alimentar também os nossos cães logicamnete que esses cães vão sair à rua."
Facilidade de contaminação
As principais vítimas das mordeduras de cães são crianças até aos 14 anos, na sua maioria vivendo nas zonas suburbanas, onde é comum vê-las a hostilizar os animais.
Nas periferias da cidade de Maputo é igualmente comum ver cães soltos, vagueando pelas ruas, colocando em perigo a população.
Dimande explica que "se um animal destes que vaguea na rua entra em contato com um animal rábido vai contrair a doença, depois volta para os meios urbanos, para aqueles meios onde convive habitualmente, logicamente que aí vamos ter mordeduras com fatalidades."
Em 2010, o Governo moçambicano aprovou uma Estratégia de Controlo da Raiva para o período 2010/2014, orçada em 50 mil euros com o objetivo de reduzir a incidência da raiva no país.
Dentre as ações inclui-se a sensibilização da população sobre a importância de vacinação contra a raiva, recolha de cães vadios, realização de campanhas de vacinação de cães, entre outras.