RCA: Governo reforça presença militar após confrontos
Lusa | AFP | mjp
24 de fevereiro de 2018
Tropas do Governo e capacetes azuis da ONU tentam travar confrontos entre grupos armados que já fizeram três mortos. ONU diz que é preciso "agir agora" para evitar deterioração da situação humanitária.
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O Governo da República Centro-Africana enviou soldados para os bairros de PK5 e KM5, em Bangui, tal como a missão das Nações Unidas, a MINUSCA, depois de confrontos que fizeram três vítimas mortais, esta semana.
"O Governo tem de restaurar a paz”, disse o ministro da Segurança, o general Henri Wanzet Liguissara, num discurso transmitido pela rádio nacional.
Capacetes azuis da MINUSCA e tropas do Governo foram colocados nos dois bairros da capital "para expulsar todos aqueles que não querem a paz e fazem soar as armas”, explicou o dirigente.
Três pessoas morreram e pelo menos sete ficaram feridas em confrontos no PK5, na noite de quinta-feira. O antigo bastião rebelde muçulmano é agora a base de vários grupos armados que se aproveitaram da fragilidade do estado desde o fim do conflito entre rebeldes muçulmanos e as milícias cristãs anti-Balaka.
Comerciantes rejeitam extorsão
Na semana passada, uma associação de comerciantes de bairro, a ACK, exigiu que os capacetes azuis desmantelassem os grupos armados, acusados de extorsão e violência contra os comerciantes e a população. Fartos de serem extorquidos, em janeiro, os comerciantes locais recusaram pagar aos grupos armados, criando tensão com as milícias e as tropas da MINUSCA, que acusam de passividade.
Os mais recentes confrontos entre grupos armados são "a gota de água que fez transbordar o copo”, disse à AFP Karim Yahtya, secretário-geral de um colectivo de vítimas destes grupos que lança uma ameaça: "Se a MINUSCA não assumir as suas responsabilidades, vamos marchar contra os grupos armados e contra a MINUSCA”.
ONU diz que é preciso "agir agora"
Entretanto, as Nações Unidas alertaram esta semana para a necessidade de "agir agora para evitar uma nova deterioração" da situação humanitária na República Centro-Africana, onde a organização mantém uma missão com mais de 14 mil elementos.
"A República Centro-Africana enfrenta uma crise humanitária de grande escala. Devemos agir agora para evitar uma nova deterioração que necessitaria de uma resposta ainda mais importante", declarou na quinta-feira, numa conferência de imprensa na capital centro-africana, Ursula Müeller, secretária-geral adjunta para as questões humanitárias da ONU, no final de uma visita de quatro dias ao país.
Durante a deslocação à RCA, a representante das Nações Unidas visitou Paoua, no norte do país, onde os combates obrigaram mais de 65 mil pessoas a abandonar as suas casas. "A violência propaga-se rapidamente através do país, enquanto as necessidades críticas e urgentes aumentam e devem ser cobertas", indicou Müeller.
Esta "situação preocupante", acrescentou, "ocorre num momento em que o financiamento da resposta humanitária na República Centro-Africana diminuiu, ao longo dos últimos três anos", sublinhou.
A maioria dos 4,5 milhões de centro-africanos depende de ajuda humanitária, segundo as Nações Unidas, num dos países mais pobres do mundo.
O conflito na República Centro-Africana eclodiu após o afastamento do poder, em 2013, do então Presidente, François Bozizé, pelas milícias Seleka, que pretendiam defender a minoria muçulmana, desencadeando uma contraofensiva dos anti-Balaka, maioritariamente cristãos.
A instabilidade já causou milhares de mortos, apesar de não ser possível indicar números fiáveis, e obrigou cerca de um milhão de pessoas a abandonar os seus lares.
Missões de paz da ONU em África
Os capacetes azuis da Organização das Nações Unidas têm intervido em vários países africanos. A MONUSCO, missão de paz da ONU na República Democrática do Congo, é a maior e mais cara de todas. Mas há várias.
Foto: picture-alliance/AA/S. Mohamed
RD Congo: a maior missão da ONU
Desde 1999, que a Organização das Nações Unidas (ONU) tenta pacificar a região oriental da República Democrática do Congo (RDC). A missão conhecida como MONUSCO conta com cerca de 20 mil soldados e um orçamento anual de 1,4 mil milhões de euros. Ainda que esta seja a maior e mais cara missão da ONU, a violência no país persiste.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Kappeler
Darfur: impotente contra a violência
A UNAMID é uma missão conjunta da União Africana e da ONU na região de Darfur, no Sudão, considerada por alguns observadores um fracasso. “O Conselho de Segurança da ONU deve trabalhar mais arduamente para encontrar soluções políticas, em vez de gastar dinheiro no desdobramento militar a longo prazo”, afirmou o especialista em segurança, Thierry Vircoulon.
Foto: picture-alliance/dpa/A. G. Farran
Sul do Sudão: fechar os olhos ao conflito?
A guerra civil no Sul do Sudão já fez com que, desde 2013, mais de quatro milhões de pessoas abandonassem as suas casas. Alguns estão abrigadas em campos de ajuda da ONU. Mas, quando os confrontos entre as forças do Governo e os rebeldes começaram na capital Juba, em julho de 2016, os capacetes azuis não foram bem sucedidos na intervenção.
Foto: Getty Images/A.G.Farran
Mali: mais perigosa missão da ONU no mundo
As forças de paz da ONU no Mali têm estado a monitorizar o cumprimento do acordo de paz realizado entre o Governo e a aliança dos rebeldes liderada pelos tuaregues. No entanto, grupos terroristas como o AQMI continuam a levar a cabo ataques terroristas que fazem com que a Missão da ONU no Mali (MINUSA) seja uma das mais perigosas do mundo. A Alemanha cedeu mais de 700 militares e helicópteros.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Kappeler
RCA: abusos sexuais fazem manchetes
A missão da ONU na República Centro-Africana (MINUSCA) não ajudou a melhorar a imagem das Nações Unidas no continente africano. As tropas francesas foram acusadas de abusar sexualmente de crianças pela campanha Código Azul. Três anos depois, as vitimas não têm ajuda da ONU. Desde 2014, 10 mill soldados e 1800 polícias foram destacados para o país. A violência diminuiu, mas a tensão mantém-se.
Foto: Sia Kambou/AFP/Getty Images
Saara Ocidental: Esperança numa paz duradoura
A missão da ONU no Saara Ocidental, conhecida por MINURSO, está ativa desde 1991. Cabe à MINURSO controlar o conflito existente entre Marrocos e a Frente Polisário que defende a independência do Saara Ocidental. Em 2016, Marrocos, que ocupa este território desde 1976, dispensou 84 funcionários da MINURSO após um discurso do secretário-geral da ONU que o país não aprovou.
Foto: Getty Images/AFP/A. Senna
Costa do Marfim: um final pacífico
A missão da ONU na Costa do Marfim cumpriu o seu objetivo a 30 de junho de 2016, após 14 anos. As tropas têm vindo a ser retiradas, gradualmente, o que, para o ex secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, significa “um ponto de viragem das Nações Unidas na Costa do Marfim”. No entanto, apenas depois da retirada total das forças e a longo prazo é que se saberá se a missão foi ou não bem sucedida.
Foto: Getty Images/AFP/I. Sanogo
Libéria: missão cumprida
A intervenção da ONU na Libéria chegou ao fim. Desde o fim da guerra civil, que durou 14 anos, que a Missão da ONU na Libéria (UNMIL) tem assegurado a estabilidade na Libéria e ajudado a construir um Estado funcional. O Governo do país quer agora garantir a segurança da Libéria. O país ainda está a lutar com as consequências de uma devastadora epidemia do Ébola que o assolou.
Foto: picture-alliance/dpa/K. Nietfeld
Sudão: Etiópia é promotora da paz?
Os soldados da Força de Segurança Interina da ONU para Abyei (UNISFA) patrulham esta região, rica em petróleo, e que, tanto o Sudão, como o Sudão do Sul, consideram ser sua. Mais de quatro mil capacetes azuis da Etiópia estão no terreno. A Etiópia é o segundo maior contribuinte para a manutenção da paz no mundo. No entanto, o seu exército é acusado de violações de direitos humanos no seu país.
Foto: Getty Images/AFP/A. G. Farran
Somália: Modelo futuro da União Africana?
As forças de paz da ONU na Somália estão a lutar sob a liderança da União Africana numa missão conhecida como AMISOM. Os soldados estão no país africano para combater os islamitas al-Shabaab e trazer estabilidade ao país devastado pela guerra. Etiópia, Burundi, Djibouti, Quénia, Uganda, Serra Leoa, Gana e Nigéria contribuem com as com suas tropas para a AMISOM.