RCA: Grupo rebelde promete desarmamento em duas semanas
AFP | tms
1 de junho de 2019
Grupo responsável pelo massacre de mais de 50 civis na República Centro-Africana, em maio, prometeu silenciar suas armas nas próximas duas semanas. Informação foi confirmada pelo Governo.
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O líder da milícia 3R, Bi Sidi Souleymane, também conhecido como Sidiki, "deu sua palavra sobre o desarmamento de suas tropas, o que deve acontecer dentro de duas semanas a partir desta sexta-feira", disse o ministro do Interior Henri Wanzet, esta sexta-feira (31.05), numa conferência de imprensa em Bangui.
Wanzet reuniu-se com o líder do grupo armado em Niem-Yelewa, no oeste do país, junto com outros ministros do Governo e representantes da missão da ONU na República Centro-Africana (RCA), a MINUSCA, e da União Africana.
"Conhecemos Sidiki, que reconheceu a responsabilidade de seu grupo pelo massacre", disse Wanzet aos jornalistas. O massacre a 21 de maio em aldeias no entorno da cidade de Paoua, perto da fronteira com o Chade, foi o pior desde que o Governo e 14 milícias assinaram um acordo em fevereiro visando restabelecer a paz no país.
De acordo com uma fonte da ONU, o grupo 3R - que alega representar os Fulani, um dos muitos grupos étnicos do país - organizou uma reunião com a população local e depois a matou.
Acordo com o Governo
A milícia já entregou três membros às autoridades, descrevendo-os como elementos desonestos que assassinaram os civis, mas o Governo manteve um ultimato para o grupo entregar outros seis suspeitos e desmantelar seus bloqueios.
Na quinta-feira, o 3R concordou em derrubar os bloqueios nas estradas e Wanzet disse que o grupo também concordou em procurar os outros suspeitos "que fugiram do país".
A missão da ONU, apoiada por forças especiais portuguesas, deve supervisionar o processo de desmantelamento, disse na sexta-feira o vice-chefe da missão, Kenneth Gluck.
Em fevereiro, as partes em conflito assinaram um acordo de paz negociado na capital do Sudão, Cartum, com o trabalho de base feito pela União Africana desde 2017. Este é o oitavo acordo destinado a resolver o conflito na RCA, que se prolonga desde 2013.
Fuga e sofrimento na República Centro-Africana
Desde o golpe de Estado, há um ano, a situação na República Centro-Africana está fora de controle. Aqueles que podem, fogem. Aqueles que permanecem, lutam todos os dias pela sobrevivência.
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Refúgio no aeroporto de Bangui
Desde o golpe de Estado, há um ano, a situação na República Centro-Africana está fora de controle. Milícias cristãs e muçulmanas promovem amargos combates. Um milhão de pessoas estão em fuga. Quase todos os muçulmanos deixaram a capital, Bangui. Entre os que permaneceram, algumas centenas encontram abrigo num velho hangar do aeroporto.
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Perder tudo
O marido de Jamal Ahmed tinha guardado dinheiro suficiente para a fuga de sua família, quando as milícias cristãs chamadas "Anti-Balaka" invadiram sua aldeia natal. As poucas economias não foram suficientes - ele pagou com a vida. Jamal Ahmed vive no acampamento que surgiu no aeroporto: "Não conheço ninguém aqui. Não tenho mais nada. Não sei como será daqui para a frente.”
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Ver os netos mais uma vez
Aos 84 anos, Fatu Abduleimann está entre os moradores de idade mais avançada do campo de refugiados do aeroporto. Nas últimas décadas, Fatu assistiu a muitas dificuldades em sua terra natal. Mas nunca foi tão ruim quanto agora, diz a idosa. Seu único consolo: a maioria dos seus filhos conseguiu fugir para o Chade. Seu maior desejo: "ver os meus netos mais uma vez."
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Quilómetro Cinco, uma cidade fantasma
Exceto o acampamento de refugiados no aeroporto, quase todos os muçulmanos deixaram a cidade. Há alguns meses, o chamado "Quilómetro Cinco" era um animado centro da comunidade muçulmana. Mais de 100.000 pessoas moravam e trabalhavam aqui, a cinco quilómetros do centro da capital, Bangui. Agora, restaram apenas algumas centenas de pessoas. As lojas estão fechadas até nova ordem.
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Esperar o momento certo
Quase todos os muçulmanos que ainda restam no "Quilómetro Cinco" querem apenas uma coisa: sair daqui. Os caminhões para a fuga estão prontos. Eles esperam que um comboio tenha como destino os países vizinhos como os Camarões ou o Chade.
Foto: Kriesch/Scholz/DW
A cidade de campos de refugiados
Não apenas os muçulmanos temem por suas vidas. Por toda a cidade de Bangui pode-se encontrar acampamentos provisórios em que a maioria da população, cristãos e animistas, procura proteção - por medo de um retorno das milícias islamistas ou simplesmente porque não têm o que comer - e espera por doações de alimentos.
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Ajuda sobrecarregada
O Pastor David Bendima recebeu, na sua igreja, mais de 40 mil pessoas que fugiram dos combates no centro da cidade. Mas ele também não pode garantir-lhes segurança suficiente. "Todas as noites ouvimos tiros e granadas explodindo. As pessoas estão com muito medo", diz o pastor. Ele parece cansado.
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Últimas reservas
Chancella Damzousse, de 16 anos, vive em uma aldeia a meia hora de distância de Bangui. Ela prepara o jantar. "Tudo o que resta são alguns grãos de feijão e um pouco de gergelim", diz a jovem. 15 pessoas terão que se satisfazer com a refeição. Desde que milícias muçulmanas destruíram o lugar há alguns meses e mataram muitos cristãos, a família de Chancella recebeu vários vizinhos.
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Vítimas, autores, centinelas
Ao lado da casa de Chancella, há um guarda da milícia Anti-Balaka. Os amuletos em seu corpo o tornam invulnerável contra balas, explica ele. A milícia tomou o controle da região. Seu trabalho é proteger os moradores da aldeia do ataque de outros rebeldes. No entanto, a sua proteção aplica-se apenas aos cristãos - há muito tempo os muçulmanos deixaram o local ou foram mortos.
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Presença internacional
Sete mil soldados da União Africana e da França têm a responsabilidade de garantir a segurança no país dilacerado. A situação humanitária está piorando a cada dia, no entanto. Em 1 de abril, a União Europeia lançou oficialmente a sua operação militar na República Centro-Africana, com um contingente de até mil homens para reforçar as tropas francesas e africanas por um período de até seis meses.