Rebeldes na República Centro-Africana atacaram e controlam Bangassou neste domingo (3.1), semanas depois de terem sido acusados de tentativa de golpe, e antes dos resultados parciais de uma eleição presidencial tensa.
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"Os rebeldes controlam a cidade [de Bangassou]", disse o chefe do gabinete regional da missão da ONU, MINUSCA, Rosevel Pierre Louis, à agência de notícias francesa AFP neste domingo (3.1). "Eles estão em todo o lado", afirmou, e acrescentou que "as tropas governamentais tinham abandonado a sua posição e agora estão na nossa base".
A MINUSCA veiculou uma mensagem na manhã deste domingo (3.1), através da rede social Twitter, a informar que as forças de manutenção da paz da ONU tinham estado a proteger a cidade e que tinham sido encontrados os corpos de cinco combatentes. Além disso, que os combatentes que atacavam a cidade eram aliados do ex-presidente François Bozize.
O Governo do Presidente Faustin Archange Touadera acusou Bozize de fomentar uma tentativa de golpe - uma acusação que este último negou.
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Confrontos em Bangassou
Bangassou, que fica na fronteira com a República Democrática do Congo (RDC), está localizada a cerca de 750 quilómetros da capital da RCA, Bangui. A cidade tem estado sob ataque desde as 5h25 da manhã deste domingo (3.1), e sendo palco de "confrontos por todo o lado", disse Rosevel Pierre Louis à AFP.
O Bispo Aguirre de Bangassou confirmou que os confrontos tinham começado a partir das 5h da manhã e que havia "tiros e detonações em torno do centro da cidade".
O país, que não tem costas litorâneas, é um dos mais pobres do mundo e um dos mais vulneráveis. Sofre com golpes e guerras desde a sua independência da França, em 1960.
Em 2013, a RCA entrou novamente num espiral de violência e derramamento de sangue, quando o então Presidente Bozize, que tinha tomado o poder através de um golpe uma década antes, foi expulso por uma coligação maioritariamente muçulmana, chamada Seleka.
Entretanto, a cidade de Bangassou já foi alvo de agressões brutais anteriores. Em 2017, milicianos "anti-balaka", provenientes principalmente de comunidades cristãs, atacaram a cidade, e massacraram dezenas de civis muçulmanos, bem como 12 membros da forças de manutenção da paz da ONU.
"O ataque era esperado"
Um residente em Bangassou, denominado Ismail, disse que o ataque deste domingo (3.1) era esperado localmente há cerca de duas semanas, e muitos tinham fugido pela fronteira para a República Democrática do Congo (RDC).
"Os meus filhos partiram, eu fiquei com a minha mulher", disse Ismail à AFP, de modo que os tiros podiam ser ouvidos pelo telefone. O ataque ocorreu um dia depois de grupos armados terem atacado a cidade de Damara, cerca de 70 quilómetros a norte da capital Bangui.
O porta-voz da MINUSCA, Vladimir Monteiro, disse à AFP que houve uma "incursão" em Damara, no sábado (2.1), mas que após intervenção dos soldados da RCA os "grupos armados fugiram". Ele acrescentou que a MINUSCA, que tem 11.500 soldados de manutenção da paz no país, tinha enviado patrulhas para a cidade.
Faustin Archange Touadera é o favorito para ganhar as eleições do fim-de-semana passado, que os grupos da oposição apelaram à anulação porque - entre outras razões - alegam que a votação apenas teve lugar numa fracção do país.
Os resultados definitivos da primeira volta não são esperados antes de 18 de Janeiro, e se não houver vencedor absoluto, realizar-se-á um segundo turno, a 14 de fevereiro.
Antigas crianças-soldado lutam agora contra o coronavírus
A guerra civil na República Centro-Africana (RCA) envolveu milhares de crianças em grupos armados. Aquelas que tiveram a sorte de escapar estão agora a ajudar vizinhos a protegerem-se da pandemia de Covid-19.
Foto: Jack Losh
Coronavírus: Um novo inimigo
Uma equipa de antigas crianças-soldados e crianças de rua cava um poço para beneficiar moradores de um bairro pobre na capital da República Centro-Africana, Bangui. Os jovens ajudam a melhorar a higiene em áreas onde moradores vivem amontoados. O projeto da UNICEF instalou poços para 25 mil pessoas e começou antes de o coronavírus chegar à região. Agora ajuda a RCA a lutar contra a pandemia.
Foto: Jack Losh
Perfuração pela paz
Um jovem pressiona um mecanismo que os seus companheiros giram manualmente para perfurar um poço. O projeto da UNICEF é também uma forma de reabilitação social, porque oferece aos adolescentes um trabalho remunerado enquanto superam o passado violento. Também encoraja a comunidade a aceitá-los de volta. O programa foi criado em 2015, e agora integra o plano de resposta ao coronavírus.
Foto: Jack Losh
Trabalho sujo
Crianças-soldados agacham-se para retirar a terra à mão. Existem mais de 3,9 mil casos confirmados de coronavírus na RCA, embora a limitação de testes no país leve a crer que o número real seja maior. O grupo de trabalho de escavação de poços acelera a instalação de novos tubos e furos a nível nacional. Quase 80% dos lares na RCA não dispõem de instalações para lavagem das mãos.
Foto: Jack Losh
Corações e mentes vencedoras
Crianças reúnem-se para observar a escavação dos poços. As antigas crianças-soldados enfrentam rejeição - o que pode aumentar as suas hipóteses de serem novamente recrutadas. As intervenções que promovem a aceitação são cruciais. Como explicou uma delas: "Este trabalho pode mudar a minha vida. Finalmente tenho algum dinheiro. E estou a ajudar estas comunidades e o meu país".
Foto: Jack Losh
Terra marcada
Sepulturas não marcadas na periferia de Bossangoa, no noroeste da RCA. Civis massacrados no conflito foram enterrados aqui. Após décadas de instabilidade, a guerra eclodiu em 2013, quando uma aliança principalmente muçulmana de grupos rebeldes, a Séléka, varreu o país e derrubou o Presidente. Em resposta, comunidades cristãs e animistas mobilizaram-se para formar as milícias "anti-balaka".
Foto: Jack Losh
Acordo de paz desgastado
Um soldado rebelde da "FPRC" fica de guarda num posto de controlo no norte da RCA. Os rebeldes controlam grande parte do país e - apesar da assinatura de um acordo de paz em fevereiro passado entre o governo e 14 grupos armados - a instabilidade persiste. Nos últimos meses, intensificaram-se confrontos entre grupos armados rivais pelo controlo da zona rica em minerais.
Foto: Jack Losh
"Crianças, não soldados"
Uma placa de sinalização da UNICEF em Bossangoa alerta contra o recrutamento de crianças em conflitos armados. Entre 2014 e 2019, mais de 14,5 mil crianças-soldado foram libertadas das milícias da RCA. No entanto, estima-se que 5,550 crianças permaneçam nas mãos de grupos armados. Muitas são vítimas de abuso sexual, outras são combatentes e outras servem como cozinheiras, guardas ou mensageiras.
Foto: Jack Losh
Educação contra estatísticas
Crianças reúnem-se dentro de uma sala de aula improvisada debaixo de lonas, num acampamento para famílias deslocadas pelo conflito em Kaga Bandoro. Mais de 1,3 milhões de pessoas foram forçadas a deixar suas casas. Em média, uma em cada cinco crianças não frequenta a escola. Mas nas áreas mais afetadas, o número chega a quatro em cada cinco.
Foto: Jack Losh
Civis sitiados
Uma força de manutenção da paz da ONU dirige-se em patrulha por um campo de deslocados na cidade de Bria, no leste, capturada por rebeldes. Uma placa à entrada adverte guerrilheiros sobre a entrada de armas. As condições apertadas e insalubres de campos como estes também aumentam o risco de propagação do coronavírus.
Foto: Jack Losh
Resiliência face à guerra
Os civis sentam-se na parte de trás de um camião enquanto conduzem através do território detido pela facção FPRC no nordeste da RCA. A ONU adverte que o país está muito mal preparado para fazer face a um surto de coronavírus. O conflito complexo e sectário devastou o fraco sistema de saúde da RCA e forçou o pessoal médico a fugir. Atualmente, metade da população depende do apoio humanitário.
Foto: Jack Losh
Uma luta penosa
Uma criança leva água e passa por um soldado das forças de manutenção da paz perto de um campo de deslocados em Bria, uma área controlada por rebeldes. O ACNUR está a instalar pontos de água nos campos e explica aos residentes a importância da lavagem das mãos. Encarregados pela ajuda humanitária advertiram que há pouco recurso para satisfazer as necessidades da população.
Foto: Jack Losh
Tentar manter a paz
Mulheres passam por um veículo blindado da ONU, que foi retido por rebeldes em Kaga Bandoro. Há receios de que a Covid-19 intensifique as tensões entre as comunidades, gerando aumento de preços e paralisando o fornecimento de ajuda. Com as eleições presidenciais marcadas para dezembro, este é um ano crucial para a RCA. Observadores temem que as hostilidades aumentem na campanha eleitoral.
Foto: Jack Losh
Atacar violadores
Os adolescentes jogam futebol num campo de terra, numa área para deslocados em Kaga Bandoro. Embora os números possam ser muito mais elevados, mais de 500 violações graves dos direitos da criança foram relatadas no ano passado. Estão em curso esforços para levar os senhores da guerra à justiça, mas a corrupção generalizada torna tudo mais difícil.
Foto: Jack Losh
Um lampejo de esperança
Antigas crianças-soldados terminam a perfuração do seu novo poço em Bangui. A terapia profissional está fora do alcance de muitos por aqui. Mas projetos como este ajudam a lidar com sentimentos de vergonha e de culpa e a criar uma sensação de normalidade. Embora não seja de modo algum uma solução perfeita, iniciativas de base como esta oferecem às crianças da RCA um pouco mais de esperança.