O Governo da República Democrática do Congo não participa na conferência de doadores internacionais em Genebra, na Suíça. Kinshasa acusa o ACNUR de empolar o número de deslocados internos e denegrir a imagem do país.
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Genebra recebe esta sexta-feira (13.04) um encontro de doadores para tentar angariar mais de mil milhões de dólares para responder às crises política, de segurança e humanitária na República Democrática do Congo (RDC).
Desde o início do ano passado, 600 mil congoleses fugiram da violência e da instabilidade no país para Estados vizinhos. Além disso, mais de quatro milhões de pessoas estão agora deslocadas internamente, estima o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA). A RDC abriga ainda cerca de 500 mil refugiados de outros países.
Em março, as Nações Unidas advertiram que a crise congolesa atingiu um "ponto de ruptura". Durante uma viagem ao país na semana passada, o chefe da Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), Filippo Grandi, alertou para a necessidade de mais investimentos na ajuda humanitária no país.
"As operações humanitárias na RDC continuam a ser subfinanciadas", afirmou.
Grandi apelou, por isso, ao Governo congolês que participasse na conferência de doadores internacionais em Genebra, co-presidida pelas Nações Unidas.
Mas o Governo da RDC não participa no encontro. Kinshasa está em desacordo com as organizações humanitárias sobre a gravidade da crise, estimando que os deslocados internos sejam pouco mais de 200 mil - um número quase 20 vezes menor do que as estimativas das Nações Unidas.
"Marketing" humanitário
Em entrevista à DW África, o ministro das Comunicações congolês, Lambert Mende, disse que as organizações "deturpavam" o número de refugiados para conseguir mais dinheiro, e classificou o apoio internacional como "ajuda humanitária de marketing". Ainda de acordo com o ministro, os números devem ser corrigidos pelo ACNUR.
RDC: Crise? Que crise?
"O elevado número de deslocados é assustador para os investidores, e o país depende muito mais do investimento do que da ajuda ao desenvolvimento", afirmou Lambert Mende.
A decisão do Governo irritou os grupos da sociedade civil. Para André Masinganda, vice-secretário da Conferência Episcopal Nacional da RDC, "para além das estatísticas, o crucial é que as pessoas necessitadas sejam ajudadas".
Atualmente, mais de 13 milhões de congoleses precisam de ajuda humanitária, duas vezes mais que no ano passado. Além de questões étnicas, a situação de violência e insegurança na RDC agrava-se também devido à recusa do Presidente Joseph Kabila em terminar o seu mandato em 2016.
Angola: Congoleses denunciam horrores vividos
A província da Lunda Norte, em Angola, está a acolher diariamente centenas de congoleses que continuam a fugir à violência na região do Kasai, na República Democrática do Congo.
Foto: DW/N. Sul d'Angloa
Mais de um milhão de deslocados
Estima-se que, pelo menos, 3.300 pessoas tenham já morrido na sequência do conflito que, desde agosto de 2016, se tem desenrolado nas região do Kasai e Kasai Central, na República Democrática do Congo, (RDC). 1,3 milhões de congoleses foram obrigados a fugir da região devido à violência da milícia Kamuina Nsapu.
Foto: DW/N. Sul d'Angola
Millhares no Campo de Kakanda
Germaine Alomba tem 29 anos e é uma das congolesas que conseguiu atravessar a fronteira rumo a Angola, estando abrigada, atualmente, no centro provisório de Kakanda. Como ela, cerca de 30 mil congoleses estão refugiados em Angola. A este campo chegam, todos os dias, cerca de 500 pessoas, muitas delas transportadas em camiões e autocarros cedidos pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Foto: DW/N. Sul d'Angloa
Acusações a Kabila
Segundo as autoridades católicas no Congo, já foram encontradas mais de 40 valas comuns na região do Kasai. Congoleses em Angola ouvidos pela DW África, revelam que a violência contínua tem sido alimentada pelo Governo de Kabila. "[Ele] está a organizar uma guerra, está a entregar armas aos civis para matar a população. O sofrimento neste momento é muito", denuncia Jimba Kuna, um dos refugiados.
Foto: DW/N. Sul d'Angola
Familiares desaparecidos
Odia Rose é outra das vítimas deste conflito. A sua filha adolescente, de 15 anos, desapareceu quando ambas tentavam fugir à violência no seu país. Hoje, conta à DW, "reza todos os dias para a reencontrar com vida".
Foto: DW/N. Sul d'Angloa
Repetem-se as atrocidades
Mbumba-Ntumba é o espelho das atrocidades que sucedem na região do Kasai. "Estava em minha casa e um grupo de pessoas entrou e começou a bater-me. Cortaram o meu braço com uma catana e bateram-me na cabeça", contou em entrevista à DW África o congolês de 65 anos. Ntumba foi resgatado inconsciente por voluntários da Cruz Vermelha que o levaram até à fronteira com Angola.
Foto: DW/N. Sul d'Angloa
Violência sem fim
As atrocidades não ficam por aqui. Recentemente, o Conselho de Direitos Humanos da ONU voltou a enviar peritos para a região para investigar as denúncias de abusos, incluindo decapitações. Há relatos de refugiados que contam que foram forçados a enterrar vítimas em valas comuns e que afirmam que as milícias terão atacado e mutilado bebés e crianças.
Foto: DW/N. Sul d'Angloa
Crianças sozinhas
Dados da Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) indicam que mais da metade dos deslocados são menores e que, em muitas ocasiões, foram separados dos seus pais e familiares - como é o caso das quatro crianças na fotografia, atualmente refugiadas no Campo em Kakanda, Angola.
Foto: DW/N. Sul d'Angloa
Aulas de Língua Portuguesa
Tanto no Campo de Mussunga, onde se encontram alguns refugiados, como em Kakanda, onde está a maioria, foram criadas escolas improvisadas onde é ensinada às crianças a língua portuguesa.
Foto: DW/N. Sul d'Angloa
Necessária mais ajuda
Em Angola, os centros de acolhimento improvisados estão já sobrelotados. Em entrevista à DW África, o bispo da diocese da Lunda Norte, Estanislau Chindecasse, explicou que é necessária “mais ajuda para que as pessoas possam ter, pelo menos, duas ou três refeições. O que estamos a fazer é o mínimo, porque não há outras possibilidades”, deu conta.