A Comissão Eleitoral Nacional Independente (CENI) adiou este sábado (05.01) para "a próxima semana" a divulgação dos resultados das eleições na República Democrática do Congo (RDC).
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A publicação dos números do escrutínio estava prevista para domingo (06.01), mas o presidente da CENI, Corneille Nangaa, em declarações reproduzidas pela BBC, assumiu este sábado o adiamento, que tinha já sido admitido na sexta-feira (04.01).
Nangaa remeteu para a próxima semana a divulgação dos resultados, mas não indicou qual o dia programado para a publicação, porque, sublinhou, falta apurar metade dos boletins de voto de um universo de cerca de 40 milhões de eleitores, em 75.781 colégios eleitorais. Até quinta-feira, afirmou o presidente da CENI, apenas um quinto dos votos (20%) tinha sido escrutinado.
Risco de insurreição popular
A Conferência Episcopal Nacional do Congo (Cenco) alertou para a possibilidade de "insurreição" popular caso sejam falseados os resultados das eleições de 30 de dezembro. Em carta enviada à CENI, a que a Associated Press teve acesso, a Cenco voltou a manifestar preocupação quanto ao apuramento de votos do sufrágio, destinado a eleger o Presidente, deputados e representantes provinciais.
Na quarta-feira, a Cenco afirmou ter tido indicações verbais recolhidas em locais de voto que permitem definir a identidade do novo Presidente, sucessor de Joseph Kabila, no poder desde janeiro de 2001 e impedido constitucionalmente de recandidatar-se.
A Cenco, com 40.000 observadores nas eleições do passado domingo, instou a CENI para que "publique, com toda a responsabilidade, os resultados das eleições, no respeito pela verdade e justiça", com a comissão eleitoral a acusar a Igreja de estar a incitar à revolta.
Em resposta, a CENI acusou a Cenco de estar a "incitar" ao protesto.
Nos últimos dias, foram várias as intervenções da comunidade internacional para que os resultados eleitorais sejam fidedignos e não resultem de manipulações e falseamentos. No entanto, observadores e oposição referem que as primeiras eleições livres desde a independência da Bélgica, em 1960, registaram irregularidades.
EUA mobiliza militares
Os Estados Unidos, que também pediram um escrutínio "exato", deslocaram 80 militares para o Gabão, vizinho do Congo, que tem fronteira com a RDC, para que, num possível "violento protesto" por causa dos resultados, possa garantir segurança as cidadãos norte-americanos, pessoal de representações diplomáticas e diplomatas na nação africana presidida por Kabila.
O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, adiantou que mais militares poderão viajar para o Gabão.
As eleições na RDC, com 21 candidatos presidenciais, não se realizaram em todo o território, uma vez que a CENI decidiu adiar para 19 de março o ato eleitoral nas cidades de Beni, Butembo e Yumbi, devido à epidemia do Ébola e aos conflitos dos grupos armados.
Nesta região, atua o grupo armado Forças Democráticas Aliadas, que tem desenvolvido várias ações, o que afeta as operações de socorro às vítimas do vírus Ébola. Inicialmente previstas para 2016, as eleições de domingo passado tinham sido adiadas duas vezes.
Presidentes africanos para sempre
Vários presidentes africanos governam há tanto tempo, que muitos cidadãos não conhecem outro líder do seu país. Teodoro Obiang Nguema é o líder africano há mais tempo no poder: governa a Guiné Equatorial desde 1979.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Alamba
Guiné Equatorial: Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo é atualmente o líder africano há mais tempo no poder, depois de, em 2017, José Eduardo dos Santos ter deixado o cargo de Presidente de Angola, que ocupava também desde 1979. Neste ano, Obiang chegou ao poder através de um golpe de estado contra o seu tio, Francisco Macías. Nas últimas eleições no país, em 2016, Obiang afirmou que não voltaria a concorrer em 2020.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Lecocq
Camarões: Paul Biya
Com o seu nascimento no ano de 1933, Paul Biya é o Presidente mais idoso do continente africano e apenas ultrapassado em anos no poder pelo líder da vizinha Guiné Equatorial. Biya chegou ao poder em 1982. Em 2008, uma revisão à Constituição retirou os limites aos mandatos. Em 2018, Biya, foi declarado vencedor das eleições. Os Camarões atravessam uma crise com a rebelião na parte anglófona.
Foto: picture-alliance/AA/J.-P. Kepseu
Uganda: Yoweri Museveni
Com mais de 30 anos no poder, Yoweri Museveni é, para uma grande parte dos ugandeses, o único Presidente que conhecem. 75% dos atuais 35 milhões de habitantes nasceram depois de Museveni ter subido ao poder em 1986. Em 2017, foi aprovada a lei que retira o limite de idade (75 anos) para concorrer à Presidência. Assim sendo, Museveni já pode concorrer ao sexto mandado, nas eleições de 2021.
Foto: picture alliance/AP Photo/B. Chol
República do Congo: Denis Sassou Nguesso
Foi também uma alteração à Constituição que permitiu que Denis Sassou Nguesso voltasse a candidatar-se e a vencer as eleições em 2016 na República do Congo (Brazzaville). Já são mais de 30 anos à frente do país, com uma pequena interrupção entre 1992 e 1997. Denis Sassou Nguesso nasceu no ano de 1943.
Foto: picture-alliance/AA/A. Landoulsi
Ruanda: Paul Kagame
Paul Kagame lidera o Ruanda desde 2000. Antes, já teve outros cargos influentes e foi líder da Frente Patrifótica Ruandesa (FPR), a força que venceu a guerra civil no Ruanda. Em 2017, Kagame ganhou as eleições com 98,8% dos votos. Assim poderá continuar no poder até, pelo menos, 2034. Assim ditou a consulta popular realizada em 2015 que acabou com o limite de dois mandatos presidenciais.
Foto: Imago/Zumapress/M. Brochstein
Burundi: Pierre Nkurunziza
Em 2005, Pierre Nkurunziza chegou ao poder no Burundi. Em 2015, o terceiro mandato de Nkurunziza gerou uma onda de protestos entre a população que, de acordo com o Tribunal Penal Internacional, terá causado cerca de 1.200 mortos e 400.000 refugiados. Em maio de 2018, teve lugar um referendo para alterar a Constituição, que permitiu ao Presidente continuar no cargo até 2034.
Foto: Reuters/E. Ngendakumana
Gabão: Ali Bongo Ondimba
Ali Bongo ainda está longe de quebrar o recorde do pai, que esteve 41 anos no poder, mas já vai no terceiro mandato, ganho em 2017, no meio de muita contestação. Em 2018, a Constituição do Gabão foi revista para acabar com o limite de mandatos. A nova versão da Constituição também aumentou os poderes do Presidente para tomar decisões unilateralmente.
Foto: Reuters/Reuters TV
Togo: Faure Gnassingbé
Em 2005, Faure Gnassingbé substituiu o pai, que liderou o país durante 38 anos. Ao contrário de outros países, o Togo não impunha um limite aos mandatos. Em 2017, após protestos da população contra a "dinastia" Gnassingbé, foi aprovada a lei que impõe um limite de mandatos. No entanto, a lei não tem efeitos retroativos, pelo que o ainda Presidente poderá disputar as próximas eleições, em 2020.
Foto: DW/N. Tadegnon
Argélia: Abdelaziz Bouteflika
Abdelaziz Bouteflika esteve 20 anos no poder na Argélia (1999-2019). Em 2013, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), mas nem a idade, nem o estado de saúde travaram o Presidente de anunciar que iria procurar um quinto mandato em 2019. Em abril de 2019, face a protestos públicos, anunciou a sua renúncia ao cargo. Nesta altura, já teve 82 anos de idade.