RDC: Antigo primeiro-ministro apela à guerra contra o Ruanda
Lusa
24 de dezembro de 2019
Opositor e ex-primeiro-ministro da RDC, Adolphe Muzito, apelou nesta segunda-feira (23.12) a Kinshasa para "declarar guerra contra o Ruanda" e até "anexá-lo", como forma de terminar a instabilidade no leste do país.
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"É preciso lançar uma guerra contra o Ruanda para restabelecer a paz na região. Esse país influencia a política congolesa, assim como o Uganda", declarou Adolphe Muzito numa conferência de imprensa em Kinshasa.
O ex-primeiro-ministro acrescentou que apenas seria possível alcançar a paz se a República Democrática do Congo (RDC) ameaçasse o Ruanda, ocupando o seu território e, se possível, "anexando-o".
Adolphe Muzito foi primeiro-ministro entre 2007 e 2012 e ocupa desde o início de dezembro a presidência rotativa da Lamuka, a principal plataforma política da oposição na RDC.
Palco de guerras
A RDC foi palco de duas guerras regionais (1996-1997 e 1998-2003) e mantém relações tensas com os dois vizinhos, Ruanda e Uganda, que acusa de a destabilizarem. Em contrapartida, tanto Kigali como Kampala acusam Kinshasa de dar guarida às milícias hostis a ambos os regimes no território da RDC.
A região oriental da RDC, sobretudo as províncias do Kivu e Ituri, vive desde há 25 anos em clima permanente de insegurança, provocada pela presença de dezenas de grupos armados locais e estrangeiros.
Entre estes constam as milícias ugandesas das Forças Democráticas Aliadas (ADF, na sigla em inglês), as Forças Democráticas para a Libertação do Ruanda (FDLR) ou os rebeldes das Forças Nacionais de Libertação (FNL) do Burundi, todos eles acusados de numerosos crimes na RDC.
"Estratégia"
Em outubro, o Presidente da RDC, Félix Tshisekedi, deslocou-se a Kampala, onde, com o seu homólogo Yoweri Museveni, abordou a questão estratégica da luta contra os grupos armados no leste da RDC.
A aproximação entre Kinshasa e Kampala foram antecedidas pelo restabelecimento das relações de boa vizinhança entre a RDC e o Ruanda na primavera deste ano.
Os três países anunciaram no final de outubro esforços comuns para combater os grupos armados e milícias a atuar na região dos Grandes Lagos.
No passado sábado (21.12), um grupo de 71 rebeldes ruandeses capturados pelas forças armadas congolesas e cerca de 1.500 apoiantes foram repatriados para o Ruanda a partir da província do Kivu do Sul.
RDC: Chocolates de um país em crise
A República Democrática do Congo é conhecida pela violência, pobreza e corrupção. Apesar dos problemas, a primeira empresa de chocolate do país está a produzir doces. Uma visita à "Cocoa Congo", na província de Goma.
Foto: DW/J. Raupp
Grãos do Beni
Adèle Gwet e Matthew Chambers inspecionam um carregamento de grãos de cacau que chegou da zona de Beni, a 300 quilómetros de distância. O casal empreendedor investe muito tempo e dinheiro: Chambers investiu 250 mil dólares na "Cocoa Congo", com a ajuda do Ministério Britânico do Desenvolvimento. Mas "o valor agregado do nosso 'chocolate premium' é produzido na própria RDC", diz Chambers.
Foto: DW/J. Raupp
Matéria-prima em vez de exportação
Grãos de cacau são transportados em autocarros de passageiros através de uma floresta onde milícias atuam. A empresa Cocoa Congo paga aos produtores de cacau - especialmente às mulheres - um quinto a mais pela matéria-prima do que as grandes empresas que exportam diretamente os grãos. Além disso, a empresa treina agricultoras para aumentarem seus rendimentos, atendendo aos padrões ambientais.
Foto: DW/J. Raupp
"Chocolatière" autodidata
"Eu vim ao Congo para trabalhar e ajudar outras mulheres", diz Adèle Gwet, natural dos Camarões. "Eu quero ajudá-las a ter uma vida melhor, por isso eu ensino como fazer chocolates." As receitas, ela buscou na internet. Durante meses, trabalhou com o marido, um americano, provando-as.
Foto: DW/J. Raupp
Ajuda para mulheres
Seis dos dez funcionários do Cocoa Congo, em Goma, são mulheres em risco. Aqui, elas aprendem a ferver a massa de cacau. A cozinha onde trabalham está localizada num edifício residencial. O chocolate está a ser produzido há apenas três meses - até agora, foram algumas centenas de barras. A previsão é de 20 mil por mês no próximo ano!
Foto: DW/J. Raupp
100% congoleses
Mamy Simire embala o chocolate em papel de alumínio. Ela mal consegue acreditar que foi feito aqui. Para a mãe de cinco filhos, comer doces por um longo tempo era impensável: "Eu só conhecia chocolates pela televisão, onde via outras pessoas comendo. Experimentar mesmo não era possível, pois é muito caro para nós". Agora, as crianças dela podem provar: são o controle de qualidade!
Foto: DW/J. Raupp
Produtos artísticos de exportação
A Cocoa Congo quer primeiro vender o chocolate no exterior pela internet. Chambers criou algo especial para entrar no mercado: artistas de Goma pintam quadros para o papel de embalagem. Um pacote de chocolate com três barras de 50 gramas deve custar 20 dólares. "Não exportamos apenas chocolate, mas também uma imagem positiva da RDC", diz Chambers.
Foto: DW/J. Raupp
Ativista
Sylvie Chishungu Zawadi se preocupa com as produtoras de cacau em Beni. Com frequência, milícias estupram mulheres que trabalham nos campos. Algumas são sequestradas e assassinadas. "Sim, é bom trabalhar com elas. Mas até que ponto a segurança delas está garantida? Ou será que elas estão à mercê das milícias?". Para um chocolate verdadeiramente seguro, o Estado também deve fazer a parte dele.