O Governo da República Democrática do Congo (RDC) confirmou quatro mortos em Mbandaka, noroeste do país. O novo surto junta-se à epidemia no nordeste do país.
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"Posso confirmar que temos uma nova epidemia de ébola em Mbandaka", a capital da província do Equador, que já foi em 2018 afetada por esta doença, disse o ministro da Saúde, Eteni Longondo, citado pela agência espanhola de notícias, EFE, esta segunda-feira (01.06).
"Já há quatro pessoas mortas", disse o governante durante uma conferência de imprensa, de acordo com a agência francesa de notícias, France-Presse.
"O Instituto Nacional de Investigação Biomédica acaba de me confirmar que as amostras de Mbandakala são positivas para a doença do vírus ébola", concluiu o governante, confirmando assim que o vírus se espalhou desde o outro lado do país, no qual já matou quase 2.300 pessoas desde agosto de 2018.
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A província do Equador está a mais de dois mil quilómetros da zona do noroeste do país onde se combate atualmente a epidemia desde agosto de 2018, quando se declarou o surto de ébola uma semana depois de ter sido declarado o fim de outro surto na província do noroeste.
O outro surto na província do Equador foi declarado a 08 de maio de 2018, e até ao final foram contabilizados 54 casos, dos quais 33 faleceram e 21 sobreviveram.
Fim do surto?
No passado dia 16 de maio, a RDC confirmou que tinha dado alta ao seu último paciente infetado com ébola no nordeste do país e as autoridade esperam poder declarar o fim oficial do surto, o décimo do país, em finais de junho, depois de 42 dias sem novos casos, de acordo com a EFE, que cita fontes sanitárias.
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O último paciente com ébola recebeu alta hospitalar a 14 de maio em Beni, uma cidade que tinha sido um dos epicentros da pandemia declarada em agosto de 2018. Ainda assim, as autoridades de saúde devem manter-se vigilantes no terreno durante as próximas semanas para confirmar se aparecem novos casos, acrescenta a agência de notícias espanhola.
Em abril passado, quando o país estava a apenas três dias de cumprir o prazo para declarar o fim da epidemia de ébola, um novo contágio positivo obrigou ao adiamento do anúncio e, desde então, o ressurgimento originou quatro mortos.
No total, esta epidemia foi a pior da história da RDC e a segunda mais grave a nível mundial depois da que atingiu a África Ocidental entre 2014 e 2016, deixando 3.462 casos, 2.279 dos quais falecidos, segundo os números da Organização Mundial de Saúde até 21 de maio.
As cicatrizes invisíveis do ébola
O ébola já matou mais de 5 mil pessoas na África Ocidental, mais de metade delas na Libéria. Houve liberianos que perderam a família inteira.
Foto: DW/Julius Kanubah
Ausentes da fotografia
Faltam três pessoas nesta foto de família, diz Felicia Cocker, de 27 anos. O vírus do ébola matou o seu marido e dois dos seus cinco filhos: "A vida tem sido muito dura. Não tenho mais ninguém que me possa ajudar."
Foto: DW/Julius Kanubah
Autoridades falharam
Stephen Morrison perdeu sete irmãos e uma irmã. Ele diz que a culpa do alastramento da doença na Libéria é a falta de informação e os rituais fúnebres tradicionais. "Os meus familiares começaram a morrer depois do falecimento de um idoso", conta. "Na altura, não sabíamos que era ébola. Por todo o lado se negava o surto."
Foto: DW/Julius Kanubah
Um depois do outro
"Eu e três crianças – fomos os únicos a sobreviver", conta Ma-Massa Jakema. Antes da epidemia ela vivia com 13 familiares. O vírus matou a sua irmã mais velha e o seu irmão mais novo, seis sobrinhas e sobrinhos, além de outros parentes afastados. "Morreu tanta gente, é horrível", diz Jakema.
Foto: DW/Julius Kanubah
Futuro incerto
"Não sei como vai ser agora", diz Amy Jakayma. "Primeiro morreu a minha tia, depois o meu marido e os meus filhos. A minha vida está virada do avesso – perdi a família inteira."
Foto: DW/Julius Kanubah
Desespero
Massah S. Massaquoi chora ao lembrar os familiares que morreram infetados com o vírus do ébola. "É difícil viver assim. Eu sobrevivi – fui uma das únicas a sobreviver na minha família mais próxima. Agora estou a viver com o meu avô." Massah perdeu o filho, a mãe e o tio.
Foto: DW/Julius Kanubah
Discriminação
Princess S. Collins, de 11 anos, mora na capital liberiana, Monróvia. Sobreviveu ao ébola mas o vírus roubou-lhe a mãe, o tio e o irmão. Mas agora "os vizinhos começaram a apontar para nós e a chamar-nos de 'doentes com ébola'".
Foto: DW/Julius Kanubah
Ébola também destrói futuros
Mamie Swaray (esq.) tem 15 anos de idade. Na verdade, ela devia estar na escola, mas o tio morreu infetado com o vírus do ébola e, por isso, não tem mais ninguém que lhe possa pagar as propinas escolares. Swaray sobreviveu ao ébola mas agora o seu futuro é incerto.
Foto: DW/Julius Kanubah
"Vontade de Deus"
Oldlady Kamara vive no bairro de Virginia, na zona ocidental de Monróvia. 17 membros da sua família morreram infetados com o vírus do ébola, incluindo o seu marido. "É horrível mas não posso fazer nada contra. É a vontade de Deus", diz Kamara. Ela contraiu ébola mas está muito grata por ter sido tratada num centro de saúde.
Foto: DW/Julius Kanubah
Obrigada aos médicos
Bendu Toure acaba de ter alta do centro de tratamento. O seu corpo conseguiu combater o vírus. Ela contraiu o ébola a partir da sua irmã. Toure cuidou dela até ela morrer. O seu irmão também faleceu. Apesar de tudo, Toure está bastante grata aos médicos: "Estou tão contente por poder sair daqui. Todos os dias tinha de assistir a mortes."