RDC aposta em tratamentos experimentais para conter o ébola
Reuters | Lusa | tms
11 de agosto de 2018
Mais quatro casos da doença foram registados, enquanto as autoridades preparam-se para aplicar novos tratamentos nos próximos dias. Países vizinhos, como Angola, reforçam a prevenção.
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Quatro novos casos de ébola foram confirmados no leste da República Democrática do Congo (RDC), segundo o Ministério da Saúde, enquanto autoridades se preparam para aplicar tratamentos experimentais.
Os últimos casos confirmados perto da cidade de Mangina, na província de Kivu, elevam o total do surto atual para 21 infetados, informou o ministério num comunicado esta sexta-feira (10.08).
Mais duas pessoas - uma perto de Mangina e outra na cidade de Beni - morreram de ébola, disse o Ministério da Saúde. No total, acredita-se que a doença tenha matado 38 pessoas, embora vários desses casos não tenham sido confirmados.
Tratamentos
Esta semana, trabalhadores de saúde e pessoas que tiveram contato com casos confirmados começaram a ser vacinados. A vacina experimental, fabricada pela Merck, mostrou-se eficaz contra um surto no oeste da RDC, que terminou no final do mês passado.
As autoridades também estão prontas para usar um tratamento experimental chamado mAB114 em pacientes com o vírus pela primeira vez, disse Steve Ahuka, um virologista do Instituto Nacional de Pesquisa Biomédica (INRB) na capital Kinshasa, à Reuters.
"É experimental. Então, estamos a seguir o protocolo. O tratamento foi submetido ao comité de ética, e foi aprovado", disse Ahuka, acrescentando que este tratamento poderá ser usado em breve, assim como outros medicamentos experimentais.
Desafios
O ébola matou mais de 11mil pessoas durante o maior surto da doença na África Ocidental, entre 2013 e 2016. As autoridades na RDC, que registam o 10º surto do vírus desde 1976, já tiveram mais sucesso em contê-lo. A atual crise traz novos desafios, já que uma parte do país vive em guerra civil, dominada por milícias.
Até agora, no entanto, a doença não tocou as chamadas "zonas vermelhas", onde os riscos de segurança limitariam severamente o acesso dos profissionais de saúde.
Angola ganha reforço contra o Ébola
Entretanto, o surto de ébola na RDC faz com que os países vizinhos reforcem a prevenção à doença. Em Angola, especialistas de diferentes países vão focar-se na gestão de casos, colheita e transporte de amostras, rastreamento de contatos, descontaminação, investigação de surtos e mobilização social, numa formação transversal que abrange desde a componente laboratorial aos procedimentos a adotar nas fronteiras.
O apoio foi solicitado no âmbito da assistência técnica da Organização Mundial da Saúde (OMS) ao Ministério da Saúde de Angola face à epidemia do ébola, sendo a missão coordenada pela rede internacional de resposta a emergências em Saúde Pública, GOARN (Global Outbreak Alert and Response Network).
Ébola: luta contra o vírus mortal
Apesar das medidas preventivas, algumas pessoas já se contaminaram com o vírus na Europa e Estados Unidos. Cuidadores utilizam trajes para prevenir a propagação, mas na África a proteção ainda deixa a desejar.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Woitas
Traje de proteção
Na luta contra o ebola, roupas de proteção adequadas para médicos e enfermeiros são essenciais. Toda a pele deve ser coberta com material impenetrável pelo vírus. Mas trajes apenas não bastam, também é necessário seguir corretamente as prescrições de segurança.
Trabalho em conjunto
Os profissionais de saúde devem treinar a colocação correta dos trajes protetores. Como aqui, na unidade especial de isolamento de Düsseldorf. Novos trajes são utilizados a cada vez, para que não haja risco de contaminação no processo. Dessa forma, cuidadores sem proteção também podem ajudar os colegas a se vestir.
Foto: picture-alliance/dpa/Federico Gambarini
Isolamento total
Os quartos dos pacientes na unidade de isolamento em Düsseldorf são completamente protegidos do mundo exterior. O ar é filtrado e as águas residuais são tratadas separadamente. As vestes de proteção, que os cuidadores trajam permanentemente, são pressurizadas. Essas medidas de segurança vão além do necessário: o ebola pode ser transmitido por objetos contaminados, mas não pelo ar.
Após o tratamento dos pacientes, todo o traje é aspergido por fora com desinfetante, a fim de eliminar potenciais contaminações viróticas. Somente após essa ducha as vestimentas podem ser removidas, cuidadosamente.
Foto: picture-alliance/dpa/Sebastian Kahnert
Ajuda externa
Durante a remoção dos trajes protetores, os profissionais de saúde devem ser extremamente cautelosos. Luvas de proteção permanentemente instaladas nas aberturas da câmara permitem ajuda externa sem contato direto com o traje. Após o uso, estes são imediatamente descartados e incinerados.
Foto: picture-alliance/dpa/Federico Gambarini
Enfermeiras contaminadas
Apesar dos altos padrões de segurança, , na Espanha e Estados Unidos três enfermeiras contraíram a doença. As circunstâncias da contaminação ainda não foram esclarecidas. As residências das profissionais (na foto, Texas) foram isoladas e desinfetadas após a descoberta do contágio.
Foto: Reuters/City of Dallas
Proteção em África
Agora, médicos e enfermeiros na África Ocidental também foram equipados com trajes protetores. No entanto, estes nem sempre obedecem as normas para uma proteção efetiva. Por vezes, pequenas áreas da pele ficam descobertas ou o material usado é permeável. Além disso, colocar e retirar o traje pode ser arriscado.
Foto: picture alliance/AP Photo
Isolando os mortos
Os funerais das vítimas do ebola também requerem cuidados extremos. Na África Ocidental, a tradição de os familiares de lavarem os corpos dos mortos resultou em numerosas novas infecções. Para família e amigos, costuma ser difícil compreender e acatar as rigorosas medidas de isolamento.
Foto: Reuters/James Giahyue
Isolamento em barracas
Numa região onde os cuidados médicos são extremamente precários, uma epidemia das atuais proporções representa um enorme desafio. Os infectados são tratados em barracas improvisadas, como se vê na foto feita na Libéria. No entanto, até mesmo um país como a Alemanha ficaria sobrecarregado nessas circunstâncias. No momento, há apenas 50 leitos nas unidades de isolamento alemãs.
Foto: Zoom Dosso/AFP/Getty Images
Incineração em vez de sol
Em algumas regiões afetadas na África Ocidental, os trajes contaminados são pendurados para secar ao sol, numa tentativa de desinfetá-los para reutilização. No entanto, é muito mais seguro as roupas serem imediatamente incineradas após o uso, como ocorre na Guiné. Escassez e altos custos dos trajes dificultam essa medida: as roupas de proteção custam entre 30 e 200 euros.
Foto: Cellou Binania/AFP/Getty Images
Controles nos aeroportos
As viagens aéreas são a maior ameaça na transmissão de longa distância do vírus. Por esse motivo, a temperatura dos passageiros está sendo monitorada em alguns aeroportos. Entretanto, o método não oferece garantia absoluta, já que o período de incubação do ebola é de 21 dias.