Secretário-geral da ONU está "indignado" com a morte de duas pessoas pelas forças de manutenção da paz da organização – a MONUSCO – num posto fronteiriço na RDC. Uma investigação está em curso, mas já há detenções.
Publicidade
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, disse estar "indignado" depois de duas pessoas terem sido mortas e várias outras feridas na sequência de tiros disparados pelas forças de manutenção da paz da organização contra um posto fronteiriço com o Uganda, na República Democrática do Congo (RDC), no domingo (31.07).
A força da ONU, a MONUSCO, admitiu que alguns dos seus soldados de manutenção da paz abriram fogo "por razões inexplicáveis", acrescentando que já foram efetuadas detenções.
Guterres ficou "entristecido e consternado" ao tomar conhecimento do tiroteio, disse uma declaração da ONU.
"O secretário-geral sublinha nos termos mais veementes a necessidade de estabelecer a responsabilidade por estes acontecimentos. E congratula-se com a decisão do seu representante especial na República Democrática do Congo de deter o pessoal da MONUSCO envolvido no incidente e de abrir imediatamente uma investigação", acrescentou.
Violência registada em vídeo
O vídeo do incidente, partilhado nos meios de comunicação social, mostrou homens, pelo menos um em uniforme policial e outro em uniforme do exército, indo em direção ao comboio da ONU, no posto fronteiriço em Kasindi.
A cidade encontra-se no território Beni da República Democrática do Congo Oriental, na fronteira com o Uganda.
Depois de uma troca verbal, as forças de manutenção da paz atiraram antes de abrirem a barreira e atravessarem de carro enquanto as pessoas se dispersavam ou se escondiam.
"Durante este incidente, soldados da brigada de intervenção da força MONUSCO que regressavam de licença abriram fogo no posto fronteiriço por razões inexplicáveis e forçaram a sua passagem", disse a missão das Nações Unidas em Kasindi, no domingo.
Publicidade
Governo congolês quer "sanções severas"
A República Democrática do Congo "condena e lamenta vivamente este infeliz incidente em que dois compatriotas morreram e outros 15 ficaram feridos de acordo com uma lista provisória", disse o porta-voz do Governo Patrick Muyaya num comunicado.
Ataques terroristas espalham medo no leste da RDC
02:11
O Governo disse que lançou uma investigação com a MONUSCO para estabelecer quem foi o responsável, por que razão o tiroteio teve lugar e que garantiria a aplicação de "sanções severas".
O enviado da ONU na República Democrática do Congo, Bintou Keita, disse estar "profundamente chocado e consternado com este grave incidente", de acordo com a declaração da missão.
"Face a este comportamento indizível e irresponsável, os autores do tiroteio foram identificados e detidos na pendência das conclusões da investigação que já começou em colaboração com as autoridades congolesas", disse a MONUSCO.
A missão da ONU afirmou que os países de origem das tropas foram contactados para que se pudesse iniciar rapidamente uma ação judicial, com o envolvimento de testemunhas e sobreviventes, o que poderia conduzir a sanções exemplares.
Presente na RDC desde 1999, a Monuc (Missão da ONU na RDCongo) que se tornou MONUSCO (Missão da ONU para a Estabilização na RDC) com a evolução do seu mandato em 2010, é considerada uma das maiores e mais caras missões da ONU, com um orçamento anual de mil milhões de dólares (cerca de 980 milhões de euros, ao câmbio atual).
A missão da ONU conta atualmente com mais de 14.000 capacetes azuis e recentemente tem enfrentando a rejeição da população do leste congolês. Há dias a região tem sido palco de protestos violentos, que resultaram na morte de dezenas de pessoas e vários feridos.
O dia-a-dia no leste do Congo
Há cinco anos, os rebeldes do M23 invadiram Goma, no leste da República Democrática do Congo. Na região multiplicavam-se os confrontos entre o grupo e o exército congolês e milícias de autodefesa. Hoje é muito diferente.
Foto: DW/Flávio Forner
Amanhece em Goma
Amanhece cedo em Goma, a capital de Kivu do Norte, no leste da RD Congo. As ruas enchem-se de comerciantes e do vaivém das motos. Esta é uma área de comércio junto à fronteira com o Ruanda. Muitos congoleses e ruandeses atravessam diariamente a fronteira para compras e trabalho. Goma vive um relativo clima de paz desde que o grupo rebelde de origem tutsi M23 foi desmantelado em 2013.
Foto: DW/Flávio Forner
Peixes do Lago Kivu
Ao nascer do sol, começa a azáfama em Goma. Nesta foto, mulheres colocam ao sol peixes frescos do Lago Kivu para preparar a refeição do dia num abrigo que acolhe crianças e adolescentes que estiveram envolvidos em grupos armados no leste do Congo. O abrigo fica num subúrbio de Goma, numa área populosa chamada Keshero.
Foto: DW/Flávio Forner
Trabalho de braços
O sol está a pique, mas o trabalho não pára. Junto à vila de Sake, trabalhadores retiram areia de um canteiro em redor da base militar da Missão de Paz das Nações Unidas na República Democrática do Congo, a MONUSCO. A vila de Sake, com uma população empobrecida, fica a uma hora (25km) a leste de Goma. Muitos dos seus habitantes dependem do comércio na cidade.
Foto: DW/Flávio Forner
Estrada de volta à vida
Estrada de terra que liga Goma a Kiwanja. Camiões cheios de trabalhadores e militares percorrem diariamente os 70km que separam as duas cidades. O trajeto demora em média quatro horas. Há menos de cinco anos, a estrada que corta a zona sul do Parque Nacional Virunga era extremamente perigosa devido aos ataques das milícias Mai-Mai e do grupo rebelde M23.
Foto: DW/Flávio Forner
Estradas esburacadas
Área rural junto à vila de Sake. As estradas que ligam as vilas e as cidades em Kivu do Norte estão esburacadas. Só veículos todo-o-terreno são capazes de passar por aqui, mesmo para trajetos curtos. Nesta foto, uma carrinha transporta passageiros e, no tejadilho, um homem aconchega-se entre um colchão e maços de folhas de mandioca que são vendidas em mercados em Goma.
Foto: DW/Flávio Forner
Fonte de sustento
Mulheres e crianças vendem folhas de mandioca na beira da estrada. A cidade de Kiwanja é circundada por áreas de cultivo de legumes. Muitas famílias dependem da venda de alimentos para garantir o seu sustento.
Foto: DW/Flávio Forner
Trabalho social
Militares do Batalhão de Operações Especiais da Guatemala, que integram a Missão de Paz da ONU no Congo, ajudam igrejas e centros comunitários na vila de Sake, a 25km de Goma. As crianças da vila recebem material escolar e brinquedos.
Foto: DW/Flávio Forner
Desnutrição infantil e materna
Bebés que sofrem de desnutrição são internados no Hospital Muungano La Résurrection, nos arredores de Goma. O hospital depende de doações e tem falta de medicamentos e suplementos alimentares. Muitas mães também estão desnutridas e chegam a ficar internadas dez dias.
Foto: DW/Flávio Forner
No hospital
Nos corredores do Hospital Panzi, em Bukavu, capital de Kivu do Sul. Fundado pelo conhecido ginecologista congolês Denis Mukwege, o hospital fica na zona de Ibanda e tornou-se uma referência no tratamento de vítimas de violência sexual e reparação de fístulas obstétricas. Desde que foi fundado em 1999, a equipa médica já tratou 85.000 pacientes, incluindo 50.000 vítimas de violência sexual.
Foto: DW/Flávio Forner
Festa no hospital
Este adolescente congolês vestiu-se a rigor para participar nas atividades culturais do Hospital Heal Africa, no centro de Goma. Esta foto foi tirada no Dia Internacional da Criança Africana (16 de junho). O hospital promoveu neste dia uma série de apresentações de dança e teatro.
Foto: DW/Flávio Forner
Publicidade "VIP"
Nas ruas de Bukavu, Kivu do Sul, destaca-se a publicidade de um cabeleireiro para homens. O 'Salon VIP' tem nas paredes uma pintura com o rosto de Patrice Lumumba (à esq.) e Nelson Mandela (à dir.). Mandela simbolizou a luta anti-apartheid na África do Sul; Lumumba foi o pai da independência do Congo Belga e primeiro-ministro do recém país independente, tendo sido assassinado em 1961.
Foto: DW/Flávio Forner
De volta da escola
De uniforme, Pierre de 7 anos exibe o seu manual escolar e uma garrafa de plástico que serve como estojo para guardar os lápis. Tinha acabado de regressar da escola e seguia a pé para a sua casa na pequena vila de Mumosho, no interior de Kivu do Sul. O ensino público no Congo não é gratuito. Para manter uma criança na escola, as famílias têm de conseguir pagar cerca de 300 dólares por ano.
Foto: DW/Flávio Forner
Curso para mulheres no interior
Mulheres participam em cursos de empreendedorismo na vila de Mumosho, a 50 minutos de Bukavu. Muitas sofreram violência doméstica e abriram agora o seu próprio negócio, ganhando dinheiro com atividades artesanais e agricultura. Os cursos são oferecidos pela organização Women for Women International, que também realiza sessões para homens da comunidade com debates sobre o respeito pelas mulheres.
Foto: DW/Flávio Forner
Futebol em Goma
Os congoleses amam futebol. Ao final da tarde, depois do trabalho, muitos reúnem-se em campos de terra batida em bairros próximos do centro de Goma para jogar partidas de futebol.
Foto: DW/Flávio Forner
Missão de Paz
Capacetes azuis da MONUSCO são responsáveis por patrulhar as ruas de Goma. Esta foto foi tirada no alto do Monte Goma, no centro da cidade. O Uruguai tem uma base militar no topo da colina, um ponto estratégico. Ao fundo fica o vulcão Nyiragongo, 20 km a norte da cidade - o vulcão mais ativo de África. A sua última erupção foi em 2002 e arrasou Goma.
Foto: DW/Flávio Forner
Uma geração de crianças de rua
Centenas de crianças de rua deambulam pelas ruas de Goma. Segundo os Médicos Sem Fronteiras (MSF), há mais de 2.000 crianças sem tecto, muitas delas perdidas ou abandonadas pelas famílias, que vivem de esmolas e roubos. De dia, vagueiam pelas ruas do centro e, de noite, abrigam-se em terrenos baldios ou debaixo dos buracos de esgoto das principais rotundas.
Foto: DW/Flávio Forner
Clínica móvel para crianças de rua
Os Médicos Sem Fronteiras (MSF) têm uma clínica móvel, o 'Bobo Mobile', para atender os meninos órfãos ou que foram expulsos de casa. "Goma é um hub humanitário, mas surpreendeu-me que não havia nenhum projeto dedicado às crianças de rua", disse Carla Melki, coordenadora deste projeto dos Médicos Sem Fronteiras na RDC (República Democrática do Congo).
Foto: DW/Flávio Forner
Inspiração para os mais novos
De farda e boina cobrindo os dreadlocks, o artista congolês Wanny S-king conversa com crianças de rua em Goma. O rapper costuma dedicar-lhes canções. Conhecido entre os mais novos, Wanny é dos poucos que, sem medo, lida diariamente com eles e faz concertos, divulgando uma mensagem de paz. Inspirados pelo rapper, muitos começaram a compor letras e sonham ter a sua própria banda.