Philipp Sandner | Jonas Gerding | Saleh Mwanamilongo | tm
21 de dezembro de 2018
Mudança na data das eleições para 30 de dezembro assinala problemas na RDC. Cidadãos congoleses e oposição estão indignados. Críticos "apontam dedo" para o atual Presidente, Joseph Kabila.
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A notícia do adiamento das eleições na República Democrática do Congo (RDC) não foi bem recebida pelos cidadãos e tampouco pela oposição. Antes marcadas para 23 de dezembro, as eleições presidenciais, legislativas e provinciais na RDC agora terão lugar no domingo, 30 de dezembro . O país já tem historial de intensos conflitos.
O anúncio foi feito nesta quinta-feira (20.12) pelo presidente da Comissão Eleitoral Independente (CENI), Corneille Nangaa. Mas, se Nangaa esperava boa vontade do povo após o recente adiamento, esta "boa vontade" acabou mesmo na noite desta quinta-feira.
Um cidadão congolês ouvido pela DW indignou-se após o anúncio. "Se estas eleições não forem organizadas, então terão nossas cabeças em um prato para cortar-nos em pedaços. Um homem sozinho não pode tomar um país inteiro como refém para si – isso é insuportável. Tudo o que precisamos são de eleições."
"Truque" Outro cidadão disse que Nangaa está a brincar com a população e que trata-se de apenas um "truque" para manter o Presidente Joseph Kabila no poder por mais tempo, "Kabila está a nos matar. Ele trabalha junto com os rebeldes!", desabafou.
RDC: Clima tenso após adiamento das eleições
O argumento da comissão eleitoral para o adiamento em sete dias foi a destruição de 80 por cento do material eleitoral. Há uma semana, a comissão anunciou que oito mil urnas eletronicas e outros equipamentos eleitorais ficaram destruídos num dos principais armazéns da Comissão Eleitoral.
Em conferência de imprensa, Corneille Nangaa, presidente do CENI, avançara os números e afirmou que o incêndio destruiu o material eleitoral de 19 de 24 municípios. Mas, até agora, não se apresentou evidências - exceto imagens de um depósito queimado.
Oposição
Martin Fayulu, o candidato da coligação de oposição, Lamuka, que também é apoiado pelos pesos-pesados da política Jean-Pierre Bemba e Moise Katumbi, demonstrou pouca compreensão com a comissão eleitoral.
Da oposição também vieram as críticas ao atual Presidente, Joseph Kabila. Patrick Mundeke, consultor do opositor Moise Katumbi, em Goma, disse à DW que "o calendário eleitoral estava claro. Mas o Governo sabe que o seu candidato não tem chance de vencer". Mundeke disse ainda "apostar que não haverá eleições em uma semana" e que "Kabila vai eternizar-se no poder, o que quer a qualquer custo."
O Presidente Joseph Kabila, que há dois anos excedeu seu mandato constitucional, elegeu o ex-ministro do Interior, Ramazani Shadary, como candidato do Governo. Entretanto, críticos vm Shadary como apenas uma "marionete" para continuar garantindo a Kabila acesso aos assuntos do Estado.
Nesta sexta-feira (21.12), um dos principais candidatos da oposição na RDC, Felix Tshisekedi, anunciou que a sua coligação aceitou o adiamento das eleições gerais no país em uma semana, mas sublinhou que não aceitará outras alterações.
Além disso, há incertezas se o curto prazo será suficiente para repor as máquinas de votação perdidas. Enquanto isso, o clima no país continua tenso e a organização de jovens já anunciou novos protestos. Claude Kinyuni, membro da organização civil "Lucha", em Goma, é cético. "Se Kabila não conseguiu organizar as eleições em dois anos, não sei por que deveríamos acreditar nele agora".
Presidentes africanos para sempre
Vários presidentes africanos governam há tanto tempo, que muitos cidadãos não conhecem outro líder do seu país. Teodoro Obiang Nguema é o líder africano há mais tempo no poder: governa a Guiné Equatorial desde 1979.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Alamba
Guiné Equatorial: Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo é atualmente o líder africano há mais tempo no poder, depois de, em 2017, José Eduardo dos Santos ter deixado o cargo de Presidente de Angola, que ocupava também desde 1979. Neste ano, Obiang chegou ao poder através de um golpe de estado contra o seu tio, Francisco Macías. Nas últimas eleições no país, em 2016, Obiang afirmou que não voltaria a concorrer em 2020.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Lecocq
Camarões: Paul Biya
Com o seu nascimento no ano de 1933, Paul Biya é o Presidente mais idoso do continente africano e apenas ultrapassado em anos no poder pelo líder da vizinha Guiné Equatorial. Biya chegou ao poder em 1982. Em 2008, uma revisão à Constituição retirou os limites aos mandatos. Em 2018, Biya, foi declarado vencedor das eleições. Os Camarões atravessam uma crise com a rebelião na parte anglófona.
Foto: picture-alliance/AA/J.-P. Kepseu
Uganda: Yoweri Museveni
Com mais de 30 anos no poder, Yoweri Museveni é, para uma grande parte dos ugandeses, o único Presidente que conhecem. 75% dos atuais 35 milhões de habitantes nasceram depois de Museveni ter subido ao poder em 1986. Em 2017, foi aprovada a lei que retira o limite de idade (75 anos) para concorrer à Presidência. Assim sendo, Museveni já pode concorrer ao sexto mandado, nas eleições de 2021.
Foto: picture alliance/AP Photo/B. Chol
República do Congo: Denis Sassou Nguesso
Foi também uma alteração à Constituição que permitiu que Denis Sassou Nguesso voltasse a candidatar-se e a vencer as eleições em 2016 na República do Congo (Brazzaville). Já são mais de 30 anos à frente do país, com uma pequena interrupção entre 1992 e 1997. Denis Sassou Nguesso nasceu no ano de 1943.
Foto: picture-alliance/AA/A. Landoulsi
Ruanda: Paul Kagame
Paul Kagame lidera o Ruanda desde 2000. Antes, já teve outros cargos influentes e foi líder da Frente Patrifótica Ruandesa (FPR), a força que venceu a guerra civil no Ruanda. Em 2017, Kagame ganhou as eleições com 98,8% dos votos. Assim poderá continuar no poder até, pelo menos, 2034. Assim ditou a consulta popular realizada em 2015 que acabou com o limite de dois mandatos presidenciais.
Foto: Imago/Zumapress/M. Brochstein
Burundi: Pierre Nkurunziza
Em 2005, Pierre Nkurunziza chegou ao poder no Burundi. Em 2015, o terceiro mandato de Nkurunziza gerou uma onda de protestos entre a população que, de acordo com o Tribunal Penal Internacional, terá causado cerca de 1.200 mortos e 400.000 refugiados. Em maio de 2018, teve lugar um referendo para alterar a Constituição, que permitiu ao Presidente continuar no cargo até 2034.
Foto: Reuters/E. Ngendakumana
Gabão: Ali Bongo Ondimba
Ali Bongo ainda está longe de quebrar o recorde do pai, que esteve 41 anos no poder, mas já vai no terceiro mandato, ganho em 2017, no meio de muita contestação. Em 2018, a Constituição do Gabão foi revista para acabar com o limite de mandatos. A nova versão da Constituição também aumentou os poderes do Presidente para tomar decisões unilateralmente.
Foto: Reuters/Reuters TV
Togo: Faure Gnassingbé
Em 2005, Faure Gnassingbé substituiu o pai, que liderou o país durante 38 anos. Ao contrário de outros países, o Togo não impunha um limite aos mandatos. Em 2017, após protestos da população contra a "dinastia" Gnassingbé, foi aprovada a lei que impõe um limite de mandatos. No entanto, a lei não tem efeitos retroativos, pelo que o ainda Presidente poderá disputar as próximas eleições, em 2020.
Foto: DW/N. Tadegnon
Argélia: Abdelaziz Bouteflika
Abdelaziz Bouteflika esteve 20 anos no poder na Argélia (1999-2019). Em 2013, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), mas nem a idade, nem o estado de saúde travaram o Presidente de anunciar que iria procurar um quinto mandato em 2019. Em abril de 2019, face a protestos públicos, anunciou a sua renúncia ao cargo. Nesta altura, já teve 82 anos de idade.