RDC: Corpo de Tshisekedi continua numa morgue em Bruxelas
Wendy Bashi | António Rocha
1 de fevereiro de 2018
Comemora-se esta quinta-feira (01.02) o primeiro aniversário da morte de Etienne Tshisekedi. Família e autoridades congolesas ainda não chegaram a acordo sobre o repatriamento do corpo do "esfinge de Limete”.
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A República Democrática do Congo (RDC) comemorou esta quinta-feira (01.02) o primeiro aniversário da morte do seu opositor histórico, Etienne Tshisekedi. O seu corpo continua numa morgue em Bruxelas, na Bélgica, a aguardar o repatriamento e enterro na "terra dos seus antepassados", segundo a expressão consagrada na RDC.
Enquanto isso, muitas interrogações continuam sem resposta: Como reage a esta situação a família Tshisekedi que foi até agora impedida de render uma verdadeira homenagem ao seu ente-querido? Que medidas poderão ser tomadas um ano depois da sua morte, quando o corpo do defunto não é repatriado?
À DW, Gregory Schmit, médico legista no Hospital Universitário de Saint-Luc, na Bélgica, explica que "quando um corpo não é enterrado imediatamente, existem várias possibilidades para o conservar", sendo o mais conhecido o embalsamento, mas que só é possível "com uma decisão da família". Segundo o médico, "o corpo é colocado num caixão especial e fechado. Este caixão tem uma dupla cobertura de chumbo e depois de fechado não é possível abri-lo. A partir desta operação, não há perigos a nível sanitário".
RDC: Corpo de Tshisekedi ainda se encontra em Bruxelas
Neste caso concreto, existem algumas preocupações dos familiares e que dizem respeito à conservação do corpo e aos custos desta operação. Sandrine Heijens trabalha numa empresa funerária e explicou também à DW os procedimentos desta fase. Segundo a especialista, "são necessárias pelo menos 24 horas entre a morte e a exumação do corpo, mas depois disso não há um período temporal fixo aqui na Bélgica. O corpo pode ser guardado o tempo que os familiares decidirem. A exceção é feita quando as autoridades locais exigem o enterro do defunto. Também, não existe uma lei que fixe às agências funerárias qual a tarifa a ser aplicada. Isso fica à escolha da empresa".
Uma situação aleatória que começa a pesar no orçamento da família do opositor histórico da RDC. Roger Tshisekedi, filho de Etienne Tshisekedi, adianta que a família "acaba de receber uma fatura da morgue" na qual o corpo do seu pai se encontra há um ano. "Tenho provas que já pagámos o que devíamos. A fatura é elevada sim, porque foram incluídas as taxas de visita, da guarda, etc... E é por isso que a fatura ficou tão elevada", explica.
Governo sem "boa vontade"
Para a viúva de Tshisekedi, só o regresso ao país dos restos mortais do seu esposo interessa. "O corpo de Etienne continua ainda na morgue porque existe um bloqueio. O governo congolês não quer que os restos mortais de Tshisekedi sejam repatriados para a RDC. Mas do nosso lado estamos prontos para regressar com o corpo ao país. Se nos disserem que podemos levar o corpo já hoje, vamos fazer isso imediatamente", garante a viúva, acrescentando que "infelizmente do lado do Governo não existe essa boa vontade".
Recorde-se que poucas semanas antes de falecer Tshisekedi supervisou o acordo político de "Saint-Sylvestre 2016" com a maioria no poder sob a égide da Conferência Episcopal. O desafio era encontrar uma saída para a crise política criada pela recusa do Presidente Kabila de abandonar o poder para além de um segundo mandato que expirou em dezembro de 2016, após uma sangrenta repressão de várias manifestações que ocorreram no país em setembro e dezembro de 2016.
O acordo previa a nomeação de um primeiro-ministro oriundo das fileiras da oposição, medidas para diminuir a crispação política e a realização de eleições o mais tardar em dezembro do ano transato. Mas a situação degradou-se depois da morte de Tshisekedi. As eleições foram marcadas para dezembro do corrente ano (2018) pelas autoridades que justificaram "que as violências no Kasai (centro do país) atrasaram o recenseamento dos eleitores".
O eterno segundo lugar: uma vida na oposição em África
Não são apenas os presidentes que não mudam durante décadas nalguns países africanos. Também os chefes da oposição ocupam o cargo toda a vida, vedando o caminho às novas gerações. Conheça alguns eternos oposicionistas.
Foto: Reuters
O guerrilheiro moçambicano
Afonso Dhlakama é um veterano entre os oposicionistas africanos de longa duração. Em 1979 assumiu a liderança do movimento de guerrilha Resistência Nacional Moçambicana, RENAMO. Este tornou-se num partido democrático. Mas Dhlakama é famoso pelo seu tom combativo. Por vezes ameaça pegar em armas contra os seus inimigos. E concorreu cinco vezes sem sucesso à presidência do país.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Catueira
Morgan Tsvangirai - o resistente
O ex-mineiro tornou-se num símbolo da resistência contra o Presidente vitalício do Zimbabué, Robert Mugabe. Foi detido, torturado, sofreu fraturas do crânio e uma vez tentaram, sem sucesso, atirá-lo do décimo andar de um edifício. Após as controversas eleições de 2008, o líder do Movimento pela Mudança Democrática chegou a acordo com Mugabe sobre uma partilha do poder.
Foto: Getty Images/AFP/J. Njikizana
O primeiro jurista doutorado na RDC
Étienne Tshisekedi foi nomeado ministro da Justiça antes de terminar o curso. Só mais tarde se tornou no primeiro jurista doutorado da República Democrática do Congo. Teve vários cargos na presidência de Mobuto, mas tornou-se crítico do regime. Foi preso e obrigado a abandonar o país. Liderou a oposição de 2001 até a sua morte em fevereiro de 2017. Perdeu as eleições de 2011 contra Joseph Kabila.
Foto: picture alliance/dpa/D. Kurokawa
Raila Odinga: a política fica em família
Filho do primeiro vice-presidente do Quénia, Raila Odinga nunca escondeu a ambição de um dia assumir a presidência. Foi deputado ao mesmo tempo que o pai e o irmão. Mas não se pode dizer que seja um militante fiel de algum partido: já mudou de cor política por quatro vezes. Após a terceira derrota nas presidenciais de 2013, apresentou queixa em tribunal contra o resultado e ... perdeu.
Foto: Till Muellenmeister/AFP/Getty Images
O Dr. Col. Kizza Besigye do Uganda
Besigye já foi um íntimo de Museveni, para além do seu médico privado. Quando começou a ter ambições de poder, transformou-se no inimigo número um do Presidente do Uganda. Foi repetidas vezes acusado de vários delitos, preso e brutalmente espancado em público. Voltou a candidatar-se nas presidenciais de maio de 2016, durante as quais ocorreram novamente distúrbios violentos.
Foto: picture-alliance/dpa/D. Kurokawa
Juntos por um novo Chade
Saleh Kebzabo (esq.) e Ngarlejy Yorongar são os dois rostos mais importantes da oposição no Chade. Embora sejam de partidos diferentes, há muitos anos que lutam juntos pela mudança política no país. Mas desavenças no ano de eleições 2016 enfraqueceram a aliança. A situação beneficiou o Presidente perene Idriss Déby, que somou nova vitória eleitoral.
Foto: Getty Images/AFP/G. Cogne
O Presidente autoproclamado
Desde o início da sua atividade política que Jean-Pierre Fabre se encontra na oposição do Togo. O líder da “Aliança Nacional para a Mudança” concorreu por duas vezes à presidência. Após a mais recente derrota, em abril de 2015, rejeitou os resultados do escrutínio e autoproclamou-se Presidente. Sem sucesso.
O pai foi Presidente do Gana na década de 70. Nana Akufo-Addo demorou muitos anos até seguir-lhe as pisadas. Muitos ganeses não levam muito a sério as tentativas desesperadas para chegar à presidência, tendo dificuldades em identificar-se com este membro das elites. Mas em novembro de 2016, Akufo-Addo candidatou-se pela terceira vez e venceu as eleições. Desde janeiro de 2017 é Presidente do Gana.