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RDC: Crianças refugiadas em busca da sobrevivência

Tainã Mansani | Lusa | EFE
30 de maio de 2017

Cerca de 9.000 crianças chegaram da RDC a Angola desde que o conflito se intensificou na região. 200 delas estão sem os pais. Alcançar a fronteira é o último recurso para sobreviverem.

Angola flüchtchtlings Kinder aus Kongo
Foto: UNICEF/N. Wieland

São quatro dias de caminhada até chegarem à fronteira com Angola. De Kasai até a cidade de Dundo, capital da província angolana da Lunda Norte, fogem do conflito na República Democrática do Congo RDC. Ali, encontram auxílio nos centros de acolhimento temporários, onde o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) presta os primeiros atendimentos. Muitas crianças chegam com marcas de violência em seus corpos - queimaduras, mutilações e marcas de balas. São lembranças ruins dos ataques sofridos em suas vilas.

A organização internacional das Nações Unidas já atua na região de conflito há mais de uma década, mas segundo o porta-voz da instituição, a situação na região é drástica desde abril deste ano. "Há neste momento 25.000 mil refugiados de Kasai, e muitos são crianças traumatizadas”, explicou à DW Niko Wieland, chefe de Comunicação da UNICEF, atualmente na região.

Muitas dessas crianças chegaram à fronteira sem os pais. São vítimas da violência causada pelos conflitos; mas, sobretudo, para os quais os direitos como crianças estão são sendo violados. Dentre esses, a proteção, o bem-estar, a saúde e a segurança.

"Algumas dessas [crianças] foram vítimas diretas de ataques. Outras tiveram seus corpos mutilados e chegam com parte dos corpos queimados ou com marcas de balas”, relata o representante da UNICEF em Angola em entrevista à DW, Ababucar Sultan.

Assistência

Foto: UNICEF/N. Wieland

Algumas chegam e são levadas diretamente aos hospitais, onde a referida instituição está a prestar assistência aos refugiados. O plano é remanejá-las para áreas onde tenham mais espaço e condições para se recuperarem.

Além dos primeiros socorros, a organização ajuda com nutrição, saneamento e também a localizar as famílias por meio da confirmação da identidade. "Essas são as principais necessidades dessas crianças", relata Ababucar Sultan.

"Há crianças que foram separadas dos pais já na RDC e outras durante o trajeto rumo à fronteira", explica Sultan. Além da identificação  para localizar os pais, aos que chegam são oferecidos 'kits' de reintegração familiar, educacionais e de recreação.

Prevenir surtos, como a cólera e outras doenças epidêmicas são as preocupações sanitárias nos acampamentos. Ali, é fornecida água potável por meio da instalação de tanques e há o teste da qualidade da água para prevenir doenças. Também são distribuídos medicamentos contra a malária e doenças diarréicas.

Em parceria com o Governo angolano, a organização internacional tem fornecido às autoridades da Lunda Norte materiais para apoiar as famílias acolhidas nos dois centros dessa região. Além de capacitar voluntários para proteção e segurança das raparigas e mulheres contra violência de género.

RDC: violência esquecida

Foto: UNICEF/N. Wieland

Cerca de 920.000 pessoas fugiram da RDC no ano passado - o maior número de deslocados internos registado devido a conflitos a nível mundial, segundo dados do Conselho Norueguês para os Refugiados. Na província de Kasai a violência aumenta devidos aos ataques da milícia Kamuina Nsapu, que causa terror nas populações.

Após vinte anos de conflito armado e violência, o país ocupa o 176º lugar entre 188 no Ìndice Mundial de Desenvolvimento Humano (IDH). 

Em comunicado recente, a diretora do Conselho Norueguês para os Refugiados na RDC, Ulrika Blom, afirmou tratar-se de uma crise esquecida. "A crise, em grande parte esquecida na RDC superou todas as demais crises em número de pessoas que se viram obrigadas a fugir de suas casas (...) incluindo a Síria ou as guerras brutais do Iémen", explicou.

 

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