O ébola já matou mais de 1.700 pessoas na República Democrática do Congo. E o vírus continua a espalhar-se, com novos registos da doença. A OMS já declarou estado de Emergência Internacional.
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Faz um ano, dia 1 de agosto, que foi declarado um surto de ébola na República Democrática do Congo (RDC). Este surto, posteriormente, evoluiu para epidemia e já fez mais de 1.700 mortos. Entretanto, novos casos continuam a ser registados. Na terça-feira (30.07), as autoridades cogelesas confirmaram um segundo caso na cidade de Goma, capital da província de Kivu do Norte, na qual residem mais de um milhão de pessoas e que faz fronteira com o Ruanda.
"As nossas equipas de resposta acabam de detetar e isolar um segundo caso e, 'a priori', sem relação com o primeiro", anunciaram as autoridades num comunicado emitido por funcionários locais e especialistas sanitários.
No ano passado, no início de agosto, foram detetados quatro casos do vírus na província de Kivu Norte, isto depois de dias antes ter sido declarado o fim de um outro surto de ébola. Estes casos, segundo as autoridades de saúde da RDC, tiveram origem na morte e enterro de uma mulher de 65 anos, que contaminou sete familiares. Estes acabariam por falecer devido à febre hemorrágica.
Progressão da doença
A campanha de vacinação começou imediatamente, a vacina admistrada foi a rVSV-ZEBOV, da farmacêutica alemã Merck, da qual dispunham de três mil doses. Passadas apenas umas semanas, no dia 20 de agosto de 2018, o número de mortos atingiu os 55.
O Governo congolês decretou, então, a gratuitidade dos cuidados de saúde durante um período de três meses, num esforço para limitar o contágio. Houve um crescimento do vírus, que se foi alastrando rapidamente e levou os países vizinhos a tomar medidas. Angola através do seu Presidente da República, João Lourenço, avisou logo que estavam a "tomar medidas preventivas".
Depois, em setembro, já com o registo de 85 mortes na RDC, 54 confirmadas em laboratório, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) anunciou que a campanha de consciencialização tinha alcançado 2,5 milhões de pessoas. Esta campanha não foi fácil de realizar devidos ao conflitos armados no país e também devido à resistência da população para receber tratamentos médicos.
A violência nas principais regiões afetadas, como Kivu do Norte e Ituri, levou mesmo a Organização Mundial de Saúde (OMS) a suspender as suas atividades em Beni (Kivu Norte) no final de setembro de 2018. Em outubro o número de mortos a chegou aos 135 e a OMS reuniu-se pela primeira vez para analisar a situação epidémica e discutir uma possível categorização da epidemia como "emergência global de saúde pública", algo que viria a rejeitar.
Em novembro, o Governo da RDC anunciou que a epidemia de ébola passara a ser a maior da história do país relativamente ao número de contágios. "[Este surto] acaba de ultrapassar o da primeira epidemia registada na história [da RDC] em 1976 em Yambuku, na província [noroeste] do Equador", afirmou então o ministro da Saúde congolês, Oly Ilunga.
Um ano depois
Desde o início da campanha de vacinação, já foram administradas 171 mil doses para combater o avanço desta doença epidémica. A produção da vacina por parte da Merck já começou a acelerar e as fábricas situadas na Alemanha e nos Estados Unidos da América já aumentaram a sua produção.
A OMS classificou, no passado dia 17 de julho, esta epidemia como um estado de Emergência Internacional. Também o Banco Mundial decidiu contribuir com mais 300 milhões de dólares, para combater esta doença, tendo já doado 100 milhões anteriormente. A decisão foi tomada depois de se ter confirmado que a doença já tinha chegado a Goma, uma cidade com cerca de dois milhões habitantes e apenas 20 quilómetros da fronteira com o Ruanda, o que aumentou o risco de propagação.
O Presidente congolês, Félix Tshisekedi, assumiu a supervisão do combate ao ébola na RDC, levando à demissão ministro da Saúde na altura. Desde o início controlo, 140 agentes sanitários foram infetados pelo vírus, provocando a morte de 41.
Este surto, o segundo mais mortífero na história, é apenas ultrapassado pela epidemia que entre 2014 e 2016 atingiu a África Ocidental e que matou mais de 11.300 pessoas. A RD Congo foi palco de dez epidemias de Ébola desde 1976.
Ébola em Lagos - entre o pânico e a normalidade
A Nigéria é o país economicamente mais forte de África. Sua capital económica, uma metrópole de negócios. Em julho, foram identificados os primeiros casos de ébola em Lagos. Como a megalópole lida com o vírus mortal?
Foto: DERRICK CEYRAC/AFP/Getty Images
Como a megacidade da Nigéria lida com o vírus mortal?
A Nigéria é o país economicamente mais forte de África. Sua capital económica, uma metrópole de negócios. Em julho, foram identificados os primeiros casos de ébola em Lagos. Como a megalópole lida com o vírus mortal?
Foto: DERRICK CEYRAC/AFP/Getty Images
Verificação de febre antes das compras
Na entrada das lojas, funcionários prontos para medir a febre. Isto ainda é comum em muitas lojas em Lagos, embora até agora nenhum novo caso de ébola tenha sido relatado na megacidade. No entanto, o surto de ébola deixou muitas pessoas cautelosas.
Foto: DW/A. Kriesch
Metrópole em perigo
Cerca de 21 milhões de pessoas vivem em Lagos, a maior cidade da África. Os especialistas haviam alertado que o vírus poderia se espalhar rapidamente na populosa metrópole. "Imaginem se um vendedor de bilhetes de um dos nossos microônibus tivesse ébola ...", escreveu um usuário preocupado no Twitter.
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"Não há razão para pânico"
As autoridades teriam tudo sob controle, diz Yewande Animashaun -Adeshina durante uma visita ao hospital no continente. Lá, são tratados todos os pacientes de ébola da cidade. A consultora de saúde de Lagos estava preocupada que uma grande parte dos funcionários do hospital pudesse se recusar a tratar dos infectados pelo vírus mortal.
Foto: DW/A. Kriesch
Vírus mortal no ambiente de trabalho
"É claro que estamos com medo aqui, não há dúvida", diz Esther Oduwole. A cozinheira prepara a comida para os cuidadores e pacientes com ébola. Muitos funcionários do hospital não vieram mais trabalhar depois da primeira internação de um paciente com ébola, conta ela.
Foto: DW/A. Kriesch
Esclarecimento graças à linha SOS Ébola
Mas há também voluntários que se engajam na luta contra o ébola. A estudante de medicina Hubaidat Olawunmi Tobun recebe até 70 chamadas diárias pela SOS Ébola, uma linha telefônica gratuita para esclarecimentos sobre o ébola. A estudante aconselha os preocupados nigerianos. Dois casos de ébola foram detectados por meio da hotline. "Meu país precisa de mim agora", diz. "Quero elucidar as pessoas."
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Curandeiros, boatos e os eleitos de Deus
Prestar esclarecimentos sobre o ébola é importante, porque a superstição é generalizada. O pastor Golden Ozor fez uma bebida em sua comunidade, nos arredores de Lagos. O líquido protege contra o ébola, afirmou. "Deus revelou-me a receita e vou agora espalhá-la por todo o país", disse o clérigo. Recentemente, 20 fiéis participaram da primeira degustação.
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Lavar as mãos, em vez de superstição
Em frente à igreja, está a barraca de comércio de Emmanuel Abioli. Ele só pode sacudir a cabeça. "É claro que o ébola é perigoso, porque ainda não existem vacinas", diz o jovem. Ele baseia-se na medida de proteção mais simples e importante contra o vírus mortal: lavar as mãos com sabão frequentemente.
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Rumores mortais
A vendedora da barraca ao lado lida com a situação de uma forma bastante diferente. "Não existe ébola", diz ela. "E se existir, apenas os infiéis podem ser infectados." A superstição é um problema na luta contra a doença, em toda a África Ocidental. Quando, na Nigéria, se propagou o boato de que a água salgada ajuda a combater o vírus do ébola, duas pessoas morreram por overdose de sal.
Foto: DW/A. Kriesch
Sanduíche com mensagem
Por isso, as autoridades penduram faixas de advertência por toda a cidade, como aqui na frente de um restaurante. O governo de Lagos fez do extermínio do vírus do ébola uma prioridade. Para tal, o Presidente do país, Goodluck Jonathan, disponibilizou cerca de nove milhões de euros provenientes do orçamento da Nigéria.
Foto: DW/A. Kriesch
Aeroporto em alerta
Um liberiano tinha introduziu o vírus do ébola na Nigéria, em julho. Ele desembarcou no aeroporto de Lagos gravemente doente e morreu pouco tempo depois. Os outros infectados tiveram contato direto ou indireto com o homem. As autoridades nigerianas receberam elogios internacionais por terem reagido rapidamente, monitorando e isolando essas pessoas.
Foto: DW/A. Kriesch
Lição aprendida?
A Nigéria pretende erradicar o vírus em breve. O dano na imagem já está lá. "Os investidores estrangeiros estão com medo, os hotéis estão vazios", observou o empresário Kasumu Garda (foto). O país aprendeu muito com a ameaça. "Finalmente nos unimos para resolver um problema – esta deve ser também a nossa estratégia na luta contra o grupo terrorista Boko Haram", disse Garda.