O exército da RDC informou neste sábado (2.1) a perda dois soldados e a morte de pelo menos 14 rebeldes enquanto os dispersou de um vilarejo no leste do país, após novo massacre de civis.
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As tropas da República Democrática do Congo (RDC) informam que ganharam vantagem nesta sexta-feira (1.1) sobre os rebeldes das Forças Democráticas Aliadas (ADF), na aldeia de Loselose, e "os expulsaram após três dias de ocupação e combates intensos", disse o Tenente Antony Mualushayi, porta-voz do exército na região de Beni, à agência de notícias AFP.
"Foram vistos 14 corpos, incluindo dois homens, que são provavelmente árabes. Dois soldados foram mortos", disse o oficial numa declaração neste sábado (2.1).
A aldeia Loselose, a cerca de 50 quilómetros a leste de Beni, e todo o sector Ruwenzori, são conhecidos pelas suas plantações de cacau e bananais. As colheitas começaram na região em novembro.
Massacre
Os oficiais da região alegaram nesta sexta-feira (1.1) que os rebeldes da ADF massacraram pelo menos 25 civis quando os surpreenderam nos seus campos, na véspera de ano novo, na aldeia de Tingwe.
A ADF, que teve origem nos anos 1990, como um grupo rebelde muçulmano ugandês, é uma das dezenas de milícias que assolam as províncias orientais da vasta República Democrática do Congo. É acusada pelas mortes de cerca de 800 civis, ocorridas no ano passado, na província do Kivu Norte, fronteira com o Uganda.
O grupo obtém dinheiro, nomeadamente, através do tráfico de madeira, e os oficiais da República Democrática do Congo suspeitam que alguns militares são cúmplices nas suas violentas rusgas.
A ADF nunca reivindicou a responsabilidade por ataques. Mas, desde abril de 2019, vários dos seus ataques têm sido reclamados pelp chamado Estado Islámico na Província da África Central, sem apresentar provas.
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Nações Unidas
As Nações Unidas afirmaram em julho que os ataques do grupo poderiam constituir crimes contra a humanidade e de guerra.
Um relatório de 23 de dezembro, elaborado por um grupo de peritos da ONU, que abordou a situação de segurança na região, a "caracteriza por focos de violência intensa".
O relatório concluiu que, no Kivu do Norte, as forças armadas "dispersaram as Forças Democráticas Aliadas (ADF) em vários grupos, com a extensão da área de operações da mesma".
A 30 de outubro de 2019, o exército lançou uma operação em grande escala contra os bastiões da ADF, a afirmar que tinham "neutralizado" cinco líderes dos grupos.
Mas isso não impediu um recrudescimento da violência no primeiro semestre de 2020, com dados da ONU mostrando 1.315 mortes em comparação com 416 no primeiro semestre do ano anterior.
RDC: Chocolates de um país em crise
A República Democrática do Congo é conhecida pela violência, pobreza e corrupção. Apesar dos problemas, a primeira empresa de chocolate do país está a produzir doces. Uma visita à "Cocoa Congo", na província de Goma.
Foto: DW/J. Raupp
Grãos do Beni
Adèle Gwet e Matthew Chambers inspecionam um carregamento de grãos de cacau que chegou da zona de Beni, a 300 quilómetros de distância. O casal empreendedor investe muito tempo e dinheiro: Chambers investiu 250 mil dólares na "Cocoa Congo", com a ajuda do Ministério Britânico do Desenvolvimento. Mas "o valor agregado do nosso 'chocolate premium' é produzido na própria RDC", diz Chambers.
Foto: DW/J. Raupp
Matéria-prima em vez de exportação
Grãos de cacau são transportados em autocarros de passageiros através de uma floresta onde milícias atuam. A empresa Cocoa Congo paga aos produtores de cacau - especialmente às mulheres - um quinto a mais pela matéria-prima do que as grandes empresas que exportam diretamente os grãos. Além disso, a empresa treina agricultoras para aumentarem seus rendimentos, atendendo aos padrões ambientais.
Foto: DW/J. Raupp
"Chocolatière" autodidata
"Eu vim ao Congo para trabalhar e ajudar outras mulheres", diz Adèle Gwet, natural dos Camarões. "Eu quero ajudá-las a ter uma vida melhor, por isso eu ensino como fazer chocolates." As receitas, ela buscou na internet. Durante meses, trabalhou com o marido, um americano, provando-as.
Foto: DW/J. Raupp
Ajuda para mulheres
Seis dos dez funcionários do Cocoa Congo, em Goma, são mulheres em risco. Aqui, elas aprendem a ferver a massa de cacau. A cozinha onde trabalham está localizada num edifício residencial. O chocolate está a ser produzido há apenas três meses - até agora, foram algumas centenas de barras. A previsão é de 20 mil por mês no próximo ano!
Foto: DW/J. Raupp
100% congoleses
Mamy Simire embala o chocolate em papel de alumínio. Ela mal consegue acreditar que foi feito aqui. Para a mãe de cinco filhos, comer doces por um longo tempo era impensável: "Eu só conhecia chocolates pela televisão, onde via outras pessoas comendo. Experimentar mesmo não era possível, pois é muito caro para nós". Agora, as crianças dela podem provar: são o controle de qualidade!
Foto: DW/J. Raupp
Produtos artísticos de exportação
A Cocoa Congo quer primeiro vender o chocolate no exterior pela internet. Chambers criou algo especial para entrar no mercado: artistas de Goma pintam quadros para o papel de embalagem. Um pacote de chocolate com três barras de 50 gramas deve custar 20 dólares. "Não exportamos apenas chocolate, mas também uma imagem positiva da RDC", diz Chambers.
Foto: DW/J. Raupp
Ativista
Sylvie Chishungu Zawadi se preocupa com as produtoras de cacau em Beni. Com frequência, milícias estupram mulheres que trabalham nos campos. Algumas são sequestradas e assassinadas. "Sim, é bom trabalhar com elas. Mas até que ponto a segurança delas está garantida? Ou será que elas estão à mercê das milícias?". Para um chocolate verdadeiramente seguro, o Estado também deve fazer a parte dele.