Vital Kamerhe, ex-chefe do gabinete do Presidente Tshisekedi, foi condenado por desviar mais de 50 milhões de dólares de fundos públicos pelo tribunal de Kinshasa, no sábado (20.06). Defesa irá recorrer.
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Grande parte do dinheiro desviado por Vital Kamerhe, de 61 anos, ex-chefe do Gabinete do Presidente, era destinada à construção de 1.500 unidades de habitação social no âmbito de um programa anunciado por Felix Tshisekedi, após a sua tomada de posse em Janeiro de 2019.
O caso marca a primeira vez que uma figura considerada intocável na vida política congolesa - Kamerhe era também um aliado fundamental do ex-Presidente Joseph Kabila - é julgada e condenada por corrupção.
"Não sou eu que estou a ser atacado, é o Presidente da República", disse Kamerhe ao procurador, que o reprovou pela sua "tendência para se esconder atrás do chefe de Estado".
Kamerhe afirmou que nada foi feito "sem o conhecimento" de Tshisekedi, acrescentando que não estava em funções quando o contrato no centro das acusações foi assinado, em 2018.
Ainda assim, recebeu uma pena de 20 anos de trabalhos forçados.
A sentença de Vital Kamerhe inclui outras sanções, como a desqualificação para o exercício de cargos públicos durante 10 anos.
O advogado francês de Vital Kamerhe, Pierre-Olivier Sur, denunciou aquilo a que chamou de um "julgamento show" e um "processo acelerado transmitido em direto na televisão".
Os advogados de Kamerhe disseram que iriam recorrer, uma vez que os trabalhos forçados são proibidos pela Constituição do país.
Outros condenados
Outro funcionário da Presidência, Jeannot Muhima, foi condenado a dois anos de trabalho forçado. Muhima, que supervisionava as importações, foi considerado culpados de desvio de mais de um milhão de dólares, destinado a desalfandegamento das casas pré-fabricadas.
Também Sammal Jamih, o diretor-geral da empresa contratada Samibo Congo, foi considerado culpado de branqueamento de capitais e de desvio de fundos do Estado destinados a financiar a compra de casas pré-fabricadas. Jamih, um nacional libanês, terá ainda de reembolsar 20 milhões de dólares, o dobro do montante pelo qual foi considerado culpado de branqueamento de capitais.
O juiz Pierrot Bakenge descreveu o contrato governamental relacionado com o desvio de fundos como "imaginário".
"Alguns dos principais protagonistas dos mecanismos de apropriação indevida parecem ter sido poupados. É difícil de compreender", afirmou Floribert Anzulini, do movimento de cidadãos Filimbi, referindo-se a um banco.
Maxixe: Obras sem qualidade são adjudicadas por milhões
Em Maxixe, Moçambique, somam-se os casos de obras públicas sobrefaturadas. A DW África juntou exemplos de obras cujo processo de adjudicação não foi transparente e nas quais os orçamentos foram inflacionados.
Foto: DW/L. da Conceição
Favorecimento na seleção das empresas
Em Maxixe, parte das obras de construção civil têm sido adjudicadas à empresa SGI Construções Lda. que não se encontra registada no Boletim da República e que apenas tem escritórios em Maputo. A empresa, com laços fortes com o Presidente do município, Simão Rafael, faturou, nos últimos dois anos, mais de 30 milhões de meticais (cerca de 427 mil euros) em obras que até hoje ainda não terminaram.
Foto: DW/L. da Conceição
Falta de transparência
Como se vê na imagem, para além de não se saber a data do início desta obra, não se conhece o fiscal nem a distância exata para a colocação de pavés. Sabe-se apenas que tem um prazo de execução de 90 dias.
Foto: DW/L. da Conceição
Figuras ligadas à FRELIMO criam empresa
Esta obra, orçada em mais de sete milhões de meticais, foi adjudicada à MACROLHO Lda, uma empresa com sede em Inhambane e que tem, segundo a imprensa local, participações de sócios ligados ao partido FRELIMO, como o ex-governador de Inhambane, Agostinho Trinta. Faturou, nos últimos dois anos, mais de 40 milhões de meticais em obras que, até agora, ainda não foram entregues. O prazo já expirou.
Foto: DW/L. da Conceição
Obras faturadas e abandonadas
Esta via é a entrada do bairro Eduardo Mondlane. Desde 2016, o munícipio já gastou na reparação desta estrada - com cerca de 200 metros -, mais de quatro milhões de meticais. Até à data, apenas foram executados 150 metros. Ao que a DW África apurou, o empreiteiro apenas trabalha nos dias de fiscalização dos membros da assembleia municipal. O dinheiro faturado dava para pavimentar mais de 1 km.
Foto: DW/L. da Conceição
Obras sobrefaturadas
Este é o estado atual de várias obras na cidade de Maxixe. Na imagem, a via do prolongamento da padaria Chambone, foi faturada em mais de cinco milhões de meticais (cerca de 71 mil euros) no ano de 2016. No entanto, esta mesma obra voltou a ser faturada este ano, não tendo o valor sido tornado público.
Foto: DW/L. da Conceição
Obras sem qualidade
Desde o ano de 2015, o conselho municipal da cidade de Maxixe já gastou mais de 10 milhões de meticais (cerca de 142 mil euros) com as obras de reparação de buracos nas avenidas e ruas do centro da cidade. No entanto, o trabalho não tem qualidade e os buracos continuam a danificar carros ligeiros. O empreiteiro desta obra é também a SGI Construções Lda.
Foto: DW/L. da Conceição
MDM denuncia corrupção
A bancada do MDM na assembleia municipal de Maxixe denunciou que as viaturas adquiridas pela edilidade não estão a ser compradas em agências, mas no mercado negro em África do Sul. Diz a oposição que as últimas duas viaturas adquiridas custaram mais de sete milhões de meticais. Um preço quatro vezes superior, quando comparado ao valor das duas viaturas no mercado em Moçambique.
Foto: DW/L. da Conceição
“Não interessa qualidade, queremos faturar”
Jacinto Chaúque, ex-vereador do município de Maxixe, está a ser investigado pelo Gabinete de Combate à Corrupção de Moçambique. Da investigação consta, entre outros, uma gravação telefónica entre Chaúque e o empreiteiro desta obra, na avenida Ngungunhane, e em que o ex-vereador afirma que “não interessa a qualidade. Queremos faturar nestas obras”. Chaúque está a aguardar julgamento.
Foto: DW/L. da Conceição
Preços altos nas construções de edifícios
Em 2015, o conselho municipal de Maxixe construiu um posto policial no bairro de Mabil. Esta infraestrutura - com apenas dois quartos, uma sala comum e uma cela com capacidade para cinco pessoas – custou mais de 1,3 milhões de meticais, não contando com a aquisição de material como mesas ou cadeiras. Ao que a DW África apurou junto do mercado, esta obra não custaria mais de 300 mil meticais.
Foto: DW/L. da Conceição
Um milhão de meticais por cada sede do bairro
As sedes dos bairros são outro exemplo. Todas as sedes dos bairros construídas pelo conselho municipal contam com a mesma planta. Cada uma custou cerca de um milhão de meticais (cerca de 14 mil euros). O preço real de mercado para uma casa tipo dois, sem mobília de escritório, é de cerca de 300 meticais.
Foto: DW/L. da Conceição
Empreiteiro exige dinheiro de volta
O empreiteiro Ricardo António José reclamou, em 2015, a devolução do dinheiro que foi exigido pelo ex-chefe da Unidade Gestora Executora e Aquisições, Rodolfo Tambanjane. O montante pago por Ricardo José era referente ao valor da comissão de Tambanjane por ter selecionado esta empresa e não outra. Rodolfo Tambanjane foi preso, tendo saído depois de pagar caução. O caso continua em tribunal.