Sem consenso entre Governo e oposição, situação na República Democrática do Congo pode piorar. Observadores internacionais fazem apelo para novas eleições.
Publicidade
Continua a faltar consenso na República Democrática do Congo (RDC) quanto à implementação de um acordo para a transição política no país. Esta segunda-feira (27.03) era apontada como o último dia dos trabalhos para a assinatura de um "regime especial” com vista à aplicação de um acordo de gestão conjunta do país, assinado em dezembro do ano passado pela maioria governamental e a oposição sob mediação da Igreja Católica.
O acordo, que prevê a formação de um Governo de coligação e a realização de eleições antes do final do ano, visa pôr fim à crise política provocada pela manutenção do poder do Presidente Joseph Kabila, cujo segundo mandato terminou a 20 de dezembro.
Após a derradeira ronda de conversações diretas desta segunda-feira, ainda não há sinais de consenso. Mantêm-se as divergências quanto à forma como devem ser nomeados o próximo chefe de Governo, o presidente do Comité Nacional de Acompanhamento da Transição e como deve ser feita a distribuição de pastas ministeriais.
As partes continuam a acusar-se mutuamente de má-fé e de bloqueios ao diálogo. Perante o impasse, a Igreja Católica dá sinais de impaciência.
Apelo para a estabilidade
O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque, lançou o apelo para que a Conferência Episcopal Nacional congolesa não abandone a mediação, insistindo na necessidade urgente de concluir as discussões.
28.03 Actualidade: Impasse na RDC - MP3-Mono
Segundo o representante de França na ONU, François Delattre, os dois objetivos prioritários são a proteção dos civis e a preparação das eleições e da transição política. "Em relação a estes dois objetivos, temos de ser intransigentes. A estabilidade é crucial para este enorme país no coração de África e para a região como um todo", afirmou.
A maioria do Governo mantém-se firme na sua posição de "respeitar o poder do chefe de Estado na nomeação do primeiro-ministro". A principal plataforma da oposição, o chamado "Rassemblement", também recusa abandonar a sua posição: defende que o primeiro-ministro deve ser Félix Tshisekedi, filho do líder histórico da oposição, Étienne Tshisekedi, que morreu em fevereiro, aos 84 anos.
Em Nova Iorque, o membro da Comissão Eleitoral Independente (CENI) na missão das Nações Unidas de apoio ao processo eleitoral na RDC, Elodie Ntamuzinda, pediu mais responsabilidade às partes em conflito.
"A CENI tem um desafio enorme. A vigilância deveria ser a principal preocupação de todas as partes envolvidas", ressaltou. De acordo com Ntamuzinda, os parceiros da ONU precisam acompanhar o processo de forma mais permanente e eficaz.
"Se temos parceiros que nos acompanham, mas que não o fazem de forma eficaz, que não resolvem os problemas financeiros, logísticos e de segurança, torna-se complicado. E tentamos falar disso aqui", pontuou.
Alerta contra a propagação da violência
Esta segunda-feira, a Federação Internacional para os Direitos Humanos alertou para o risco da propagação da violência generalizada na República Democrática do Congo.
O alerta foi lançado no mesmo dia em que a polícia congolesa acusou os rebeldes da milícia Kamwina Nsapu de matarem 39 polícias em Kasai, no centro do país, região assolada pela violência há mais de seis meses.
A milícia entrou em conflito com as autoridades da província e com o Governo central. Desde o início da rebelião, pelo menos 400 pessoas foram mortas.
O receio da violência aumenta numa altura em que o Conselho de Segurança da ONU se prepara para votar, esta quarta-feira (29.03), a renovação do mandato da MONUSCO, a maior força de paz da ONU no mundo.
Presente na RDC desde 1999, a missão conta com pelo menos 19 mil soldados, polícias e observadores militares em Kinshasa e no leste do país, palco de conflitos armados há duas décadas.
O eterno segundo lugar: uma vida na oposição em África
Não são apenas os presidentes que não mudam durante décadas nalguns países africanos. Também os chefes da oposição ocupam o cargo toda a vida, vedando o caminho às novas gerações. Conheça alguns eternos oposicionistas.
Foto: Reuters
O guerrilheiro moçambicano
Afonso Dhlakama é um veterano entre os oposicionistas africanos de longa duração. Em 1979 assumiu a liderança do movimento de guerrilha Resistência Nacional Moçambicana, RENAMO. Este tornou-se num partido democrático. Mas Dhlakama é famoso pelo seu tom combativo. Por vezes ameaça pegar em armas contra os seus inimigos. E concorreu cinco vezes sem sucesso à presidência do país.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Catueira
Morgan Tsvangirai - o resistente
O ex-mineiro tornou-se num símbolo da resistência contra o Presidente vitalício do Zimbabué, Robert Mugabe. Foi detido, torturado, sofreu fraturas do crânio e uma vez tentaram, sem sucesso, atirá-lo do décimo andar de um edifício. Após as controversas eleições de 2008, o líder do Movimento pela Mudança Democrática chegou a acordo com Mugabe sobre uma partilha do poder.
Foto: Getty Images/AFP/J. Njikizana
O primeiro jurista doutorado na RDC
Étienne Tshisekedi foi nomeado ministro da Justiça antes de terminar o curso. Só mais tarde se tornou no primeiro jurista doutorado da República Democrática do Congo. Teve vários cargos na presidência de Mobuto, mas tornou-se crítico do regime. Foi preso e obrigado a abandonar o país. Liderou a oposição de 2001 até a sua morte em fevereiro de 2017. Perdeu as eleições de 2011 contra Joseph Kabila.
Foto: picture alliance/dpa/D. Kurokawa
Raila Odinga: a política fica em família
Filho do primeiro vice-presidente do Quénia, Raila Odinga nunca escondeu a ambição de um dia assumir a presidência. Foi deputado ao mesmo tempo que o pai e o irmão. Mas não se pode dizer que seja um militante fiel de algum partido: já mudou de cor política por quatro vezes. Após a terceira derrota nas presidenciais de 2013, apresentou queixa em tribunal contra o resultado e ... perdeu.
Foto: Till Muellenmeister/AFP/Getty Images
O Dr. Col. Kizza Besigye do Uganda
Besigye já foi um íntimo de Museveni, para além do seu médico privado. Quando começou a ter ambições de poder, transformou-se no inimigo número um do Presidente do Uganda. Foi repetidas vezes acusado de vários delitos, preso e brutalmente espancado em público. Voltou a candidatar-se nas presidenciais de maio de 2016, durante as quais ocorreram novamente distúrbios violentos.
Foto: picture-alliance/dpa/D. Kurokawa
Juntos por um novo Chade
Saleh Kebzabo (esq.) e Ngarlejy Yorongar são os dois rostos mais importantes da oposição no Chade. Embora sejam de partidos diferentes, há muitos anos que lutam juntos pela mudança política no país. Mas desavenças no ano de eleições 2016 enfraqueceram a aliança. A situação beneficiou o Presidente perene Idriss Déby, que somou nova vitória eleitoral.
Foto: Getty Images/AFP/G. Cogne
O Presidente autoproclamado
Desde o início da sua atividade política que Jean-Pierre Fabre se encontra na oposição do Togo. O líder da “Aliança Nacional para a Mudança” concorreu por duas vezes à presidência. Após a mais recente derrota, em abril de 2015, rejeitou os resultados do escrutínio e autoproclamou-se Presidente. Sem sucesso.
O pai foi Presidente do Gana na década de 70. Nana Akufo-Addo demorou muitos anos até seguir-lhe as pisadas. Muitos ganeses não levam muito a sério as tentativas desesperadas para chegar à presidência, tendo dificuldades em identificar-se com este membro das elites. Mas em novembro de 2016, Akufo-Addo candidatou-se pela terceira vez e venceu as eleições. Desde janeiro de 2017 é Presidente do Gana.