RDC: Felix Tshisekedi anuncia candidatura às presidenciais
AP | AFP | Reuters | cvt
24 de novembro de 2018
Oposição da RDC vai às urnas dividida com seus dois principais partidos unindo forças para concorrer à presidência, depois de se retirarem de um acordo para apoiar Martin Fayulu contra o candidato do Presidente Kabila.
Felix TshisekediFoto: Getty Images/AFP/N. Maeterlinck
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Felix Tshisekedi, presidente da União para a Democracia e o Progresso Social (UDPS), o partido de oposição mais proeminente da República Democrática do Congo (RDC), anunciou esta sexta-feira (23.11) que representará seu partido, assim como a União para a Nação Congolesa (UNC), de Vital Kamerhe, nas pesidenciais de 23 de dezembro.
O candidato do partido governista é o ex-ministro do Interior, Emmanuel Ramazani Shadary. A oposição teme, entretanto, que o Presidente Joseph Kabila mantenha o poder nos bastidores, se Shadary vencer.
Tshisekedi, filho do falecido ícone oposicionista Etienne Tshisekedi, pediu esta sexta-feira a outros candidatos da oposição que se unam "para que possamos vencer esta eleição".
Martin FayuluFoto: Getty Images/AFP/T. Charlier
O anúncio de sua candidatura significa uma disputa principal entre o candidato apoiado por Kabila, a nova aliança de Tshisekedi e Fayulu, que teve o apoio de dois líderes da oposição barrados pelo Governo do Congo – nomeadamente o ex-vice-presidente Jean-Pierre Bemba e Moise Katumbi, ex-governador da região de Katanga, rica em cobre.
Cenário eleitoral
O anúncio anterior do apoio à candidatura de Fayulu provocou alvoroço entre os partidários do partido de Tshisekedi, levando alguns a incendiar pneus na capital, Kinshasa. Em poucas horas, Tshisekedi e Kamerhe, que ficaram em terceiro lugar na eleição presidencial de 2011, se retiraram do acordo.
Os partidos da oposição passaram meses tentando unir-se em torno de um candidato único.
Governos e investidores ocidentais consideram a eleição, que poderia levar à primeira transferência democrática de poder do país, como crucial para acabar com a instabilidade política no Congo.
As eleições presidenciais em 2006 e 2011 foram marcadas por acusações de fraude e violência depois que os resultados foram anunciados.
Joseph Kabila está no poder desde 2001 e seu mandato expirou no final de 2016. Mas ele permaneceu no poder devido a atrasos na organização de novas eleições.
Presidenciais estão marcadas para 23 de dezembroFoto: Getty Images/AFP/J. Wessels
Quem é Felix Tshisekedi
Pai de cinco filhos, Felix Tshisekedi, de 55 anos, possui um diploma belga em marketing e comunicação, mas seus oponentes sugerem que a qualificação não é válida e criticam o fato de ele nunca ter ocupado um alto cargo nem ter experiência gerencial.
Em 2008, Tshisekedi tornou-se secretário nacional de Relações Externas do partido e, em março passado, foi eleito chefe da UDPS, após a morte de seu pai.
Foi eleito para a Assembléia Nacional em 2011, representando Mbuji-Mayi na província de Kasai-Oriental, mas não tomou posse porque não reconheceu a derrota de seu pai para Kabila, no pleito de 2011.
Tshisekedi, que não goza do mesmo grau de popularidade de seu pai, disse à agência AFP no ano passado que, se chegasse à Presidência, criaria uma "comissão de verdade e reconciliação" para responsabilizar Kabila, mas permitiria que ele ficasse no país.
Presidentes africanos para sempre
Vários presidentes africanos governam há tanto tempo, que muitos cidadãos não conhecem outro líder do seu país. Teodoro Obiang Nguema é o líder africano há mais tempo no poder: governa a Guiné Equatorial desde 1979.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Alamba
Guiné Equatorial: Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo é atualmente o líder africano há mais tempo no poder, depois de, em 2017, José Eduardo dos Santos ter deixado o cargo de Presidente de Angola, que ocupava também desde 1979. Neste ano, Obiang chegou ao poder através de um golpe de estado contra o seu tio, Francisco Macías. Nas últimas eleições no país, em 2016, Obiang afirmou que não voltaria a concorrer em 2020.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Lecocq
Camarões: Paul Biya
Com o seu nascimento no ano de 1933, Paul Biya é o Presidente mais idoso do continente africano e apenas ultrapassado em anos no poder pelo líder da vizinha Guiné Equatorial. Biya chegou ao poder em 1982. Em 2008, uma revisão à Constituição retirou os limites aos mandatos. Em 2018, Biya, foi declarado vencedor das eleições. Os Camarões atravessam uma crise com a rebelião na parte anglófona.
Foto: picture-alliance/AA/J.-P. Kepseu
Uganda: Yoweri Museveni
Com mais de 30 anos no poder, Yoweri Museveni é, para uma grande parte dos ugandeses, o único Presidente que conhecem. 75% dos atuais 35 milhões de habitantes nasceram depois de Museveni ter subido ao poder em 1986. Em 2017, foi aprovada a lei que retira o limite de idade (75 anos) para concorrer à Presidência. Assim sendo, Museveni já pode concorrer ao sexto mandado, nas eleições de 2021.
Foto: picture alliance/AP Photo/B. Chol
República do Congo: Denis Sassou Nguesso
Foi também uma alteração à Constituição que permitiu que Denis Sassou Nguesso voltasse a candidatar-se e a vencer as eleições em 2016 na República do Congo (Brazzaville). Já são mais de 30 anos à frente do país, com uma pequena interrupção entre 1992 e 1997. Denis Sassou Nguesso nasceu no ano de 1943.
Foto: picture-alliance/AA/A. Landoulsi
Ruanda: Paul Kagame
Paul Kagame lidera o Ruanda desde 2000. Antes, já teve outros cargos influentes e foi líder da Frente Patrifótica Ruandesa (FPR), a força que venceu a guerra civil no Ruanda. Em 2017, Kagame ganhou as eleições com 98,8% dos votos. Assim poderá continuar no poder até, pelo menos, 2034. Assim ditou a consulta popular realizada em 2015 que acabou com o limite de dois mandatos presidenciais.
Foto: Imago/Zumapress/M. Brochstein
Burundi: Pierre Nkurunziza
Em 2005, Pierre Nkurunziza chegou ao poder no Burundi. Em 2015, o terceiro mandato de Nkurunziza gerou uma onda de protestos entre a população que, de acordo com o Tribunal Penal Internacional, terá causado cerca de 1.200 mortos e 400.000 refugiados. Em maio de 2018, teve lugar um referendo para alterar a Constituição, que permitiu ao Presidente continuar no cargo até 2034.
Foto: Reuters/E. Ngendakumana
Gabão: Ali Bongo Ondimba
Ali Bongo ainda está longe de quebrar o recorde do pai, que esteve 41 anos no poder, mas já vai no terceiro mandato, ganho em 2017, no meio de muita contestação. Em 2018, a Constituição do Gabão foi revista para acabar com o limite de mandatos. A nova versão da Constituição também aumentou os poderes do Presidente para tomar decisões unilateralmente.
Foto: Reuters/Reuters TV
Togo: Faure Gnassingbé
Em 2005, Faure Gnassingbé substituiu o pai, que liderou o país durante 38 anos. Ao contrário de outros países, o Togo não impunha um limite aos mandatos. Em 2017, após protestos da população contra a "dinastia" Gnassingbé, foi aprovada a lei que impõe um limite de mandatos. No entanto, a lei não tem efeitos retroativos, pelo que o ainda Presidente poderá disputar as próximas eleições, em 2020.
Foto: DW/N. Tadegnon
Argélia: Abdelaziz Bouteflika
Abdelaziz Bouteflika esteve 20 anos no poder na Argélia (1999-2019). Em 2013, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), mas nem a idade, nem o estado de saúde travaram o Presidente de anunciar que iria procurar um quinto mandato em 2019. Em abril de 2019, face a protestos públicos, anunciou a sua renúncia ao cargo. Nesta altura, já teve 82 anos de idade.