O Presidente da República Democrática do Congo, eleito em dezembro, assinala, este fim de semana, os seus primeiros cem dias de mandato. No entanto, Tshisekedi não nomeou ainda o primeiro-ministro do país.
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Passaram-se já cem dias desde que Felix Tshisekedi foi eleito Presidente da República Democrática do Congo. No entanto, o povo continua à espera, e cada vez mais impaciente, que o Presidente cumpra as muitas promessas que fez na sua tomada de posse, entre as quais se destacam o combate à corrupção no país, a implementação de um sistema judicial justo e melhores condições de vida para os 86 milhões de habitantes do país.
Os congoleses estão também ansiosos para saber o nome do primeiro-ministro e quem são as pessoas que vão integrar o Governo, após as eleições de 30 de dezembro, que marcaram a primeira transição pacífica do poder no país desde a independência da Bélgica, em 1960.
No início do passado mês de março, Felix Tshisekedi lançou um "programa de emergência", a ser aplicado nos cem dias seguintes, centrado na melhoria das infraestruturas rodoviárias, mas também na energia, educação, habitação, emprego, transportes, saúde, água e agricultura. A reparação de 40 por cento das estradas dentro e à volta da capital Kinshasa era um dos objetivos que, garante o escritório de planeamento urbano, foi cumprido em 80%.
RDC: Eleições e o contágio do vírus Ébola
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Novas escolas, hospitais e ruas?
"Estamos ainda à espera das escolas, hospitais e estradas que Tshisekedi prometeu", reivindica o ativista congolês de direitos humanos, Jean Bwasa.
Ouvidos pela DW, outros residentes da capital Kinshasa também disseram estar desapontados com Tshisekedi. "Ele não fez nada. A crise económica continua", considera Muyaya Luaba, residente do município de Lemba.
No entanto, Tshisekedi cumpriu um dos pontos que constavam deste "plano de emergência" e que estava relacionado com a libertação dos presos políticos. Foram libertados a 13 de março, Franck Diongo, Diomi Ndongala e Firmin Yangambi, presos no regime do ex-Presidente Joseph Kabila.
Na opinião de Wendy Bashi, correspondente da DW em Kinshasa, o país tem, neste momento, dois grandes desafios: o ébola, que continua a fazer mortes no país, é um grande desafio, assim como a corrupção. "Se houver corrupção, o desenvolvimento do país é muito díficil. Mas não se acaba com a corrupção em cem dias. Não há milgares", considerou.
Acordo entre Kabila e Tshisekedi?
De acordo com o Tribunal Constitucional, Felix Tshisekedi venceu, como candidato da oposição, as eleições de dezembro com 38,57% dos votos. No entanto, o outro candidato da oposição, Martin Fayulu, apontou o dedo à credibilidade do escrutínio, insistindo em vários momentos que a vitória era sua. As alegações de fraude eleitoral de Martin Fayulu foram, na altura, apoiadas por alguns observadores eleitorais e pela igreja católica, com um peso considerável no país.
Na RDC, existe ainda uma crença generalizada de que o resultado das eleições presidenciais foi fruto de um acordo que permitiu a Tshisekedi ganhar para que Kabila pudesse permanecer "com o poder”, uma vez que o ex-Presidente detém ainda uma maioria esmagadora no parlamento.
Aos olhos de vários analistas, o anúncio do novo primeiro-ministro, que ainda não aconteceu, indicaria até que ponto Tshisekedi é um Presidente livre.
No início de março, os partidos de Tshisekedi e Kabila, Mudança de Rumo (CACH na sigla francesa) e Frente Comum para o Congo (FCC), respetivamente, emitiram uma declaração conjunta confirmando "a sua vontade comum de governar juntos como parte de um governo de coligação". Neste mesmo documento, os dois explicavam que, com o intuito de fazer valer a vontade do povo, o partido de Tshisekedi e o de Kabila, que detém a maioria absoluta no Parlamento, iriam coligar-se.
Presidentes africanos para sempre
Vários presidentes africanos governam há tanto tempo, que muitos cidadãos não conhecem outro líder do seu país. Teodoro Obiang Nguema é o líder africano há mais tempo no poder: governa a Guiné Equatorial desde 1979.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Alamba
Guiné Equatorial: Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo é atualmente o líder africano há mais tempo no poder, depois de, em 2017, José Eduardo dos Santos ter deixado o cargo de Presidente de Angola, que ocupava também desde 1979. Neste ano, Obiang chegou ao poder através de um golpe de estado contra o seu tio, Francisco Macías. Nas últimas eleições no país, em 2016, Obiang afirmou que não voltaria a concorrer em 2020.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Lecocq
Camarões: Paul Biya
Com o seu nascimento no ano de 1933, Paul Biya é o Presidente mais idoso do continente africano e apenas ultrapassado em anos no poder pelo líder da vizinha Guiné Equatorial. Biya chegou ao poder em 1982. Em 2008, uma revisão à Constituição retirou os limites aos mandatos. Em 2018, Biya, foi declarado vencedor das eleições. Os Camarões atravessam uma crise com a rebelião na parte anglófona.
Foto: picture-alliance/AA/J.-P. Kepseu
Uganda: Yoweri Museveni
Com mais de 30 anos no poder, Yoweri Museveni é, para uma grande parte dos ugandeses, o único Presidente que conhecem. 75% dos atuais 35 milhões de habitantes nasceram depois de Museveni ter subido ao poder em 1986. Em 2017, foi aprovada a lei que retira o limite de idade (75 anos) para concorrer à Presidência. Assim sendo, Museveni já pode concorrer ao sexto mandado, nas eleições de 2021.
Foto: picture alliance/AP Photo/B. Chol
República do Congo: Denis Sassou Nguesso
Foi também uma alteração à Constituição que permitiu que Denis Sassou Nguesso voltasse a candidatar-se e a vencer as eleições em 2016 na República do Congo (Brazzaville). Já são mais de 30 anos à frente do país, com uma pequena interrupção entre 1992 e 1997. Denis Sassou Nguesso nasceu no ano de 1943.
Foto: picture-alliance/AA/A. Landoulsi
Ruanda: Paul Kagame
Paul Kagame lidera o Ruanda desde 2000. Antes, já teve outros cargos influentes e foi líder da Frente Patrifótica Ruandesa (FPR), a força que venceu a guerra civil no Ruanda. Em 2017, Kagame ganhou as eleições com 98,8% dos votos. Assim poderá continuar no poder até, pelo menos, 2034. Assim ditou a consulta popular realizada em 2015 que acabou com o limite de dois mandatos presidenciais.
Foto: Imago/Zumapress/M. Brochstein
Burundi: Pierre Nkurunziza
Em 2005, Pierre Nkurunziza chegou ao poder no Burundi. Em 2015, o terceiro mandato de Nkurunziza gerou uma onda de protestos entre a população que, de acordo com o Tribunal Penal Internacional, terá causado cerca de 1.200 mortos e 400.000 refugiados. Em maio de 2018, teve lugar um referendo para alterar a Constituição, que permitiu ao Presidente continuar no cargo até 2034.
Foto: Reuters/E. Ngendakumana
Gabão: Ali Bongo Ondimba
Ali Bongo ainda está longe de quebrar o recorde do pai, que esteve 41 anos no poder, mas já vai no terceiro mandato, ganho em 2017, no meio de muita contestação. Em 2018, a Constituição do Gabão foi revista para acabar com o limite de mandatos. A nova versão da Constituição também aumentou os poderes do Presidente para tomar decisões unilateralmente.
Foto: Reuters/Reuters TV
Togo: Faure Gnassingbé
Em 2005, Faure Gnassingbé substituiu o pai, que liderou o país durante 38 anos. Ao contrário de outros países, o Togo não impunha um limite aos mandatos. Em 2017, após protestos da população contra a "dinastia" Gnassingbé, foi aprovada a lei que impõe um limite de mandatos. No entanto, a lei não tem efeitos retroativos, pelo que o ainda Presidente poderá disputar as próximas eleições, em 2020.
Foto: DW/N. Tadegnon
Argélia: Abdelaziz Bouteflika
Abdelaziz Bouteflika esteve 20 anos no poder na Argélia (1999-2019). Em 2013, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), mas nem a idade, nem o estado de saúde travaram o Presidente de anunciar que iria procurar um quinto mandato em 2019. Em abril de 2019, face a protestos públicos, anunciou a sua renúncia ao cargo. Nesta altura, já teve 82 anos de idade.