RDC: Milhares em protesto contra chefe da Comissão Eleitoral
Lusa
13 de julho de 2020
Milhares de pessoas juntaram-se esta manhã em Kinshasa e noutras cidades congolesas para protestar contra a nomeação do presidente da Comissão Eleitoral. Polícia usou gás lacrimogéneo para dispersar manifestantes.
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De acordo com a agência de notícias francesa AFP, os manifestantes foram liderados por um dos chefes da oposição na República Democrática do Congo (RDC), Jean-Pierre Bemba, que se juntou aos protestos que acontecem quatro dias depois de outros confrontos que mataram cinco pessoas.
Esta manifestação, tal como outras, foi proibida pelas autoridades, que usaram gás lacrimogéneo para dispersar os manifestantes convocados pela coligação da oposição, Lamuka, em comícios realizados nas cidades de Bukavu, no leste do país, e em Kananga, no centro.
Em causa está a nomeação de Ronsard Malonda, atual secretário executivo da Comissão Eleitoral Nacional Independente (CENI), para a presidência deste órgão, encarregado de organizar as próximas eleições, previstas para 2023.
Após as eleições presidenciais de dezembro de 2018, a Lamuka reivindicou a vitória do seu candidato, Martin Fayulu. Os líderes da Lamuka acusam o candidato proposto, cujo nome foi aprovado pela Assembleia Nacional congolesa, de ter "contribuído para todos os bloqueios eleitorais desde 2006."
Por sua vez, o Comité Laico de Coordenação (CLC, próximo dos católicos) e movimentos civis pediram "uma grande marcha pacífica de protestos" em 19 de julho.
No sábado (11.07), a sua marcha, que reuniu centenas de pessoas, foi dispersada pelas forças de segurança à chegada ao parlamento. A União para a Democracia e o Progresso Social (UDPS), do Presidente do país, Félix Tshisekedi, já tinha convocado os seus apoiantes para uma manifestação na quinta-feira (09.07).
Após a aprovação pelo Parlamento congolês na passada quinta-feira, a decisão deve agora ser enviada ao chefe de Estado.
Malonda: Uma escolha polémica
A escolha de Malonda suscitou também algumas reações menos positivas entre duas das principais religiões do país - a católica Conferência Episcopal e a protestante Igreja do Cristo do Congo -, que se opõem publicamente à escolha.
"Estas duas igrejas, que representam 80% da população congolesa, disseram não à nomeação de uma figura que já deu provas de fraude eleitoral", afirmou o arcebispo de Kinshasa, o cardeal Fridolin Ambongo, na semana passada.
Entre as organizações não-governamentais pró-democracia, a nomeação de Malonda, que integrava a estrutura do presidente cessante, Corneille Nangaa, é vista como "uma provocação".
"A linha vermelha acabou de ser ultrapassada", afirmou o líder do movimento Filimbi, Carbone Beni, que esteve preso durante um ano por ter exigido eleições num momento em que o antigo Presidente Joseph Kabila se matinha no poder após o fim do seu mandato.
As eleições acabaram por se realizar em dezembro de 2018, após vários adiamentos e depois de Kabila ter sido sujeito a múltiplas pressões para deixar o cargo.
Apesar da vitória do candidato adversário Félix Tshisekedi, o partido de Kabila manteve uma maioria parlamentar, nuns resultados que foram contestados pela oposição e pela Igreja Católica. Desde então, a RDC tem sido governada por uma coligação entre as forças de Tshisekedi e de Kabila.
Cobalto no Congo: O preço da ganância
O Congo é o maior fornecedor mundial de cobalto, metal necessário para fabricar smartphones e carros elétricos. Mas o solo e a água já estão contaminados. A população está a adoecer e há casos de abortos e malformações.
Foto: Lena Mucha
O deserto contaminado de Kipushi
Perto da cidade de Kipushi, no sul do Congo, há um deserto artificial. Até à década de 1990 funcionava aqui uma mina. Vários quilómetros quadrados de solo estão contaminados: não cresce aqui nada há décadas. O rio também está poluído. Mas a mineradora canadiana Ivanhoe Kipushi quer explorar cobalto na região. Há casos frequentes de malformações congénitas em recém-nascidos, dizem médicos locais.
Foto: Lena Mucha
Malformações e nados-mortos
Nos hospitais locais, há cada vez mais casos de crianças que nascem com malformações, como lábio leporino e pé boto. Só no Hospital St. Charles Lwanga, em Kipushi, houve três casos de anencefalia em março. O feto não desenvolve o cérebro e geralmente o bebé morre logo após o nascimento. "Algo não está bem aqui, mas não temos dinheiro para pesquisas", conta Alain, que é ginecologista.
Foto: Lena Mucha
"É preciso educar as pessoas"
Um grupo de pesquisa interdisciplinar da Universidade congolesa de Lubumbashi está a trabalhar com a Universidade de Lovaina, na Bélgica, num projeto de investigação sobre a relação entre a exploração de cobalto e a saúde. "É preciso educar as pessoas para o que está a acontecer aqui. As toxinas tornam-nos doentes", diz Tony Kayembe, um dos membros do grupo de investigadores.
Foto: Lena Mucha
Partos prematuros
Dois bebés prematuros estão numa incubadora no Hospital St. Charles Lwanga, em Kipushi. "Suspeitamos que o elevado número de nascimentos prematuros nesta região está relacionado com a contaminação por metais como o cobalto," diz Tony Kayembe, investigador da Universidade de Lubumbashi e membro do grupo de pesquisa internacional. A maioria dos moradores de Kipushi trabalha nas minas de cobalto.
Foto: Lena Mucha
Crianças doentes
Adele Masengo tem cinco filhos. O marido trabalha numa mina de cobalto. A filha mais velha ficou cega aos 12 anos. Além de um aborto espontâneo, Adele teve um bebé com malformações, que morreu logo após o nascimento. Ainda não sabe se foi por causa do cobalto. "Quando os meus bebés nasceram, tiraram-lhes sangue, mas nunca conseguimos saber os resultados", diz.
Foto: Lena Mucha
Procura cada vez maior
O Congo é responsável por 60% da produção mundial de cobalto. Este metal raro é necessário para as baterias de lítio usadas em smartphones, computadores portáteis e carros elétricos. Por causa do rápido aumento da procura, os preços triplicaram nos últimos dois anos. Crianças, mulheres e homens que trabalham nas minas estão expostos a várias toxinas.
Foto: Lena Mucha
Em pleno "cinturão de cobre" africano
A GECAMINES é a maior empresa de mineração do Congo. Está localizada em Lubumbashi, a segunda maior cidade do país, no centro do chamado "cinturão de cobre" africano. Muitas grandes empresas internacionais instalaram-se aqui, na fronteira com a Zâmbia. Anualmente são produzidas 5000 toneladas de cobalto.
Foto: Lena Mucha
Água tóxica
Estes trabalhadores procuram cobalto e outras substâncias num rio contaminado. Para muitos, esta é a única fonte de rendimento. "Nós aqui quase não usamos a nossa água", diz um residente local. "A água deixa uma película estranha na pele. Quando lavo a minha roupa com esta água, ela depois desfaz-se. E até as batatas, que regamos com água, têm um sabor estranho."
Foto: Lena Mucha
Viver ao lado de uma refinaria
Mesmo ao lado da Congo Dongfang Mining (MDL) foi construída uma área residencial. A empresa chinesa está entre os maiores compradores de cobalto no Congo. Quando chove, os resíduos da refinaria da MDL em Lubumbashi chegam ao bairro vizinho de Kasapa. Os residentes queixam-se de graves problemas respiratórios e de pele, mas até agora a MDL ainda não respondeu às suas queixas.
Foto: Lena Mucha
Sem proteção
Um dermatologista examina um paciente no Hospital Universitário de Lubumbashi. A maioria dos mineiros no Congo trabalha sem roupas de proteção. Além de metais como cobalto, cobre e níquel, muitas vezes também há urânio nas rochas. E os moradores estão igualmente expostos ao pó.