Seis civis foram mortos no mais recente ataque na região onde o exército da RDC instalou o seu estado-maior para lutar contra grupos armados. Autoridades alertam para retrocessos no combate ao ébola devido à violência.
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Um bebé e uma mulher grávida estão entre as vítimas do mais recente ataque em Beni, que decorreu na noite passada e foi atribuído ao grupo armado Forças Democráticas Aliadas (ADF), indicaram fontes militares e testemunhas.
O grupo "atacou com catanas e balas. Registámos seis mortos, incluindo um bebé de um ano", declarou à agência de notícias France Presse o procurador militar, coronel Kumbu Ngoma.
Na sexta-feira (13.12) à noite foram ouvidas detonações de armas pesadas em Beni, uma região com mais de 200 mil habitantes.
O exército da RDC lançou no passado dia 30 de outubro uma operação contra o bastião das ADF e os 'capacetes azuis' presentes na região juntaram-se à operação no final de novembro. Em retaliação, membros do grupo, considerado dos mais violentos do leste do país, mataram pelo menos 150 civis.
As autoridades congolesas afirmaram ter "neutralizado" quatro dos 10 principais comandantes das ADF e ter dominado algumas bases do grupo nas imediações de Beni.
As autoridades congolesas afirmaram, entretanto, que o agravamento da violência na região abriu caminho ao alastramento do vírus – um novo retrocesso no surto que já conta 16 meses.
Este sábado, Jean-Jacques Muyembe, que lidera a resposta ao ébola na RDC, disse aos jornalistas que se observou nos últimos meses um novo pico no número de casos, na sequência da violência região. Registaram-se 34 novos casos entre 29 de novembro e 11 de dezembro, segundo Muyembe.
No mês passado, quatro profissionais de saúde a trabalhar no combate ao ébola foram mortos num ataque.
Na sexta-feira, o Presidente Felix Tshisekedi prometeu fazer tudo o que for possível para travar a ADF e outros grupos armados a operar na região há vários anos. "A nossa determinação para os erradicar é total e inabalável”, afirmou, no seu discurso sobre o Estado da Nação.
As cicatrizes invisíveis do ébola
O ébola já matou mais de 5 mil pessoas na África Ocidental, mais de metade delas na Libéria. Houve liberianos que perderam a família inteira.
Foto: DW/Julius Kanubah
Ausentes da fotografia
Faltam três pessoas nesta foto de família, diz Felicia Cocker, de 27 anos. O vírus do ébola matou o seu marido e dois dos seus cinco filhos: "A vida tem sido muito dura. Não tenho mais ninguém que me possa ajudar."
Foto: DW/Julius Kanubah
Autoridades falharam
Stephen Morrison perdeu sete irmãos e uma irmã. Ele diz que a culpa do alastramento da doença na Libéria é a falta de informação e os rituais fúnebres tradicionais. "Os meus familiares começaram a morrer depois do falecimento de um idoso", conta. "Na altura, não sabíamos que era ébola. Por todo o lado se negava o surto."
Foto: DW/Julius Kanubah
Um depois do outro
"Eu e três crianças – fomos os únicos a sobreviver", conta Ma-Massa Jakema. Antes da epidemia ela vivia com 13 familiares. O vírus matou a sua irmã mais velha e o seu irmão mais novo, seis sobrinhas e sobrinhos, além de outros parentes afastados. "Morreu tanta gente, é horrível", diz Jakema.
Foto: DW/Julius Kanubah
Futuro incerto
"Não sei como vai ser agora", diz Amy Jakayma. "Primeiro morreu a minha tia, depois o meu marido e os meus filhos. A minha vida está virada do avesso – perdi a família inteira."
Foto: DW/Julius Kanubah
Desespero
Massah S. Massaquoi chora ao lembrar os familiares que morreram infetados com o vírus do ébola. "É difícil viver assim. Eu sobrevivi – fui uma das únicas a sobreviver na minha família mais próxima. Agora estou a viver com o meu avô." Massah perdeu o filho, a mãe e o tio.
Foto: DW/Julius Kanubah
Discriminação
Princess S. Collins, de 11 anos, mora na capital liberiana, Monróvia. Sobreviveu ao ébola mas o vírus roubou-lhe a mãe, o tio e o irmão. Mas agora "os vizinhos começaram a apontar para nós e a chamar-nos de 'doentes com ébola'".
Foto: DW/Julius Kanubah
Ébola também destrói futuros
Mamie Swaray (esq.) tem 15 anos de idade. Na verdade, ela devia estar na escola, mas o tio morreu infetado com o vírus do ébola e, por isso, não tem mais ninguém que lhe possa pagar as propinas escolares. Swaray sobreviveu ao ébola mas agora o seu futuro é incerto.
Foto: DW/Julius Kanubah
"Vontade de Deus"
Oldlady Kamara vive no bairro de Virginia, na zona ocidental de Monróvia. 17 membros da sua família morreram infetados com o vírus do ébola, incluindo o seu marido. "É horrível mas não posso fazer nada contra. É a vontade de Deus", diz Kamara. Ela contraiu ébola mas está muito grata por ter sido tratada num centro de saúde.
Foto: DW/Julius Kanubah
Obrigada aos médicos
Bendu Toure acaba de ter alta do centro de tratamento. O seu corpo conseguiu combater o vírus. Ela contraiu o ébola a partir da sua irmã. Toure cuidou dela até ela morrer. O seu irmão também faleceu. Apesar de tudo, Toure está bastante grata aos médicos: "Estou tão contente por poder sair daqui. Todos os dias tinha de assistir a mortes."