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Escalada de tensões no leste do Congo: Como reage Angola?

3 de novembro de 2022

Angola observa com preocupação a escalada de tensões no leste da República Democrática do Congo. Segundo analistas, levar a paz à região dos Grandes Lagos é "uma missão quase impossível" para os mediadores angolanos.

Felix Tshisekedi (à esquerda), João Lourenço (ao meio), Paul Kagame (à direita)

Há pouco mais de uma semana, no Fórum Internacional de Dakar sobre a Paz e Segurança em África, o Presidente de Angola, João Lourenço, alegou haver luz ao fundo do túnel para o fim do conflito no leste da República Democrática do Congo (RDC), proferindo as seguintes palavras: "Permitam-me realçar os entendimentos em Nairóbi e em Luanda, pelos quais se criou um memorando, um mecanismo de verificação ad hoc, cuja missão poderá contribuir para o desanuviamento da tensão na fronteira entre a RDC e o Ruanda, e permitir assim que sejam feitos importantes progressos na normalização da situação no terreno e nas relações entre os dois países".

Mas apenas poucos dias após esse discurso, o M23 intensivou os seus ataques e conquistou mais territórios, e o Presidente da RDC, Félix Tshisekedi, decidiu expulsar o embaixador ruandês em Kinshasa, devido ao alegado apoio de Kigali aos rebeldes.

Nas últimas semanas, voltou a haver uma escalada de tensões entre o Exército da República Democrática do Congo e os rebeldes do M23. O Quénia anunciou o envio de tropas para o país, para ajudar combater os rebeldes, que voltaram a pegar nas armas há um ano. A União Europeia pediu esta semana a "cessação imediata das hostilidades". 

População de Goma, no leste do Congo, sauda a presença de soldados congoleses e acusa o Ruanda de apoiar as milícias do M23Foto: Aubin Mukoni/AFP

Secretário-geral da ONU aconselha-se com João Lourenço

Preocupado, o secretário-geral da ONU, António Guterres, contactou o Presidente angolano, que tem mediado o conflito, facto que não passou despercebido em toda a região, com destaque para Angola, que há anos tem encetado esforços no sentido de encontrar uma solução para o conflito nos Grandes Lagos.   

O especialista em Relações Internacionais Osvaldo Mboco afirma que o fim do conflito depende desses principais atores, salientando que Angola, como mediador, está fazer os esforços possíveis para pacificar a região: "Angola tem estado a empreender um grande esforço e dinâmica na busca de uma solução para o problema entre os dois países. Mas também, como se deve calcular, a solução não depende única e exclusivamente do Estado angolano. Depende da vontade política dos atores primários. Neste momento, os atores primários são a RDC e o Ruanda", afirma Osvaldo Mboco em entrevista à DW. 

Angola está a "cumprir bem" o papel de mediador?

Angola é um "interlocutor válido para os ambos os lados", acrescenta o analista Osvaldo Mboco, defendendo ainda a criação de um novo espaço de diálogo entre os países em conflito: "É fundamental reconstruir a confiança entre ambos os lados. A reconstrução desta confiança passa necessariamente pela criação de programas e projetos comuns ligados à segurança coletiva", sugere o especialista em relações internacionais. 

O Presidente angolano enviou para Kinshasa e Kigali uma comissão liderada pelo chefe da diplomacia de Angola, Teté António, que reuniu com Félix Tshisekedi e Paul Kagame, nos dias 30 e 31 de outubro deste ano de 2022.

Conflito com rebeldes do M23 levou moradores a fugirem de GomaFoto: Guerchom Ndebo/AFP/Getty Images

Tarefa muito difícil para a diplomacia angolana

Para o jornalista Jorge Nsimba, Angola e o seu Presidente têm em mãos uma missão "quase impossível", para pôr fim ao conflito na região, que se prolonga há mais de duas décadas.

"O Presidente José Eduardo dos Santos, na altura, tomou decisões fortes, mas, infelizmente, Paul Kagame foi sempre um homem teimoso e não respeitava as decisões. Portanto, o Presidente João Lourenço, apesar de estar a ser promovido pela comunidade internacional, terá uma tarefa muito difícil e não acredito muito na mediação dele neste conflito entre a RDC e o Ruanda. É quase uma missão impossível para ele, porque o conflito dura longos anos".

Jorge Nsimba diz que as afirmações de João Lourenço em Dakar não passaram de discurso político, de intenções. Ainda assim, o jornalista encoraja Angola a continuar a trabalhar para a paz no leste da RDC: "Na diplomacia não pode se falar de negatividade. Portanto, João Lourenço tem de ter sempre fé, tem de ter sempre vontade de continuar a colocar os dois países na mesa de negociações".

Rebeldes do grupo armado M23Foto: Melanie Gouby/AFP/GettyImages

Ruanda apoia os rebeldes do M23?

Por outro lado, o analista Osvaldo Mboco entende que é preciso esclarecer, de uma vez por todas, se o Ruanda tem apoiado, ou não, os rebeldes do M23. Para isso, os dois Estados devem trocar informações privilegiadas: "Se, de facto, o M23 encontra apoio por parte do Ruanda ou de alguns quadros das forças militares ligadas ao Ruanda, é uma questão que se deve ser esclarecida pelo próprio Ruanda. Kagame terá que provar, quer à Conferência Regional dos Grandes Lagos e especialmente à RDC, que nada tem a ver com as ofensivas militares que são desencadeadas por parte do M23, e que visam desestabilizar o leste da RDC".

Em entrevista à DW Áfica o jornalista Jorge Nsimba nota que a RDC está sem apoio internacional no conflito com o vizinho Ruanda: "São os próprios congoleses agora que têm que se empenhar, se consciencializar para acabar com o problema. Esperar essas medicações diplomáticas já não vai dar certo".

Mama Faida, miliciana na RDC, conta a sua história

02:22

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