RDC: Oposição insiste em transição política sem Kabila
Maria João Pinto | Eric Topona | Fiacre Ndayiragije | Lusa
15 de novembro de 2016
O primeiro-ministro da República Democrática do Congo, Augustin Matata, anunciou a demissão, na segunda-feira. O caminho fica aberto para aplicação do acordo que adia presidenciais, rejeitado pela maioria da oposição.
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O plano acordado a 18 de outubro pelo Governo da República Democrática do Congo (RDC) e uma minoria da oposição, no chamado "diálogo nacional", prevê o adiamento das eleições para abril de 2018 e a formação de um Governo de união nacional dirigido por um opositor.
Mas a principal plataforma da oposição, o "Rassemblement", rejeita o acordo, acusando o Presidente Joseph Kabila de manipular o sistema eleitoral para se manter no poder após o fim do seu segundo mandato, que termina a 20 de dezembro.
Perante a crise política no país, o investigador Cyril Musila considera que a definição do processo eleitoral é agora a questão fundamental.
"É preciso saber como se vão organizar as eleições sem que haja grandes crises", afirma o analista do Programa para a África Subsaariana do Instituto Francês de Relações Internacionais. Mas as fações políticas estão bastante divididas quanto a esta questão, refere Musila.
Mediação difícil
Enquanto se aguarda a nomeação de um novo chefe do Executivo, o Presidente Kabila falará esta terça-feira (15.11) perante o Congresso, num discurso "sobre o estado da nação".
Ao mesmo tempo, a maioria da oposição que não participou no "diálogo nacional" continua a rejeitar qualquer ideia de transição política que inclua Kabila e pede-lhe que abandone o cargo em dezembro, altura em que termina o seu segundo e último mandato permitido pela Constituição.
15.11 Actualidade: RDC / Angola - MP3-Mono
Esta terça-feira, por recomendação do Conselho de Segurança das Nações Unidas, a Comissão Nacional dos Bispos do Congo (CENCO), vai reunir-se com os líderes da oposição para tentar convencê-los a juntar-se ao Acordo Político Global assinado em outubro.
Mas o trabalho de mediação não será fácil. O bloco da oposição não aceita a nomeação de um primeiro-ministro antes da conclusão do atual processo de resolução da crise política.
"A República Democrática do Congo não tem uma crise de primeiro-ministro, mas sim uma crise de organização de eleições", diz Jonas Tshiombela, da organização Nova Sociedade Civil Congolesa. "Um primeiro-ministro nomeado nestas condições, neste contexto, é um primeiro-ministro sem bases legítimas e que será contestado."
Apelo a transição pacífica
De visita a Kinshasa, no fim-de-semana, para ouvir as partes envolvidas no conflito, uma delegação do Conselho de Segurança das Nações Unidas, liderada pelos representantes de Angola e França, pediu aos responsáveis congoleses que trabalhem para "uma transição pacífica com vista a eleições apaziguadas."
A delegação partiu depois para Luanda, onde abordou junto das autoridades angolanas os esforços para a paz e a estabilidade na República Democrática do Congo. Angola preside atualmente à Conferência Internacional da Região dos Grandes Lagos.
"O Conselho de Segurança, como órgão principal de paz e segurança, vai assumir com Angola e com a região para encontrarmos as vias certas para a solução certa", afirmou o embaixador angolano junto da ONU, citado pela emissora da organização. Ismael Martins sublinhou que a saída para a instabilidade congolesa tem de passar pelo diálogo inclusivo.
O Conselho de Segurança das Nações Unidas defende que a República Democrática do Congo deve realizar eleições o mais brevemente possível.
A arte nas ruas da República Democrática do Congo
São jovens artistas congoleses e encaram a arte como um ato de equilíbrio. Aspiram à cena artística internacional e trabalham com as comunidades nunca esquecendo a sua identidade. A DW África foi conhecer alguns deles.
Foto: DW/S. Oneko
Tesouros escondidos de Kinshasa
Freddy Tsimba já mostrou as suas obras em vários países do mundo. Mora no bairro de Matonge, em Kinshasa, famoso pela vida noturna e perto do coração artístico da capital. É aqui que ele cria e armazena diversas obras. Na entrada está uma criação do artista de rua francês Goin intitulada "Peace unleashed', que numa tradução livre quer dizer algo como "paz libertada".
Foto: DW/S. Oneko
A sala de estar
A mulher gera a vida, então por que não dedicar a arte a ela, questiona Tsimba. As obras do artista estão por todos os cantos da casa e do pátio. Tsimba faz esculturas com colheres, chaves velhas e até invólucros de balas, recolhidas em regiões da RDC onde houve conflitos armados. Precisa de aproximadamente três meses para fazer uma escultura.
Foto: DW/S. Oneko
"Presas"
"Eu não interpreto a minha arte. São outros que fazem isso", diz o artista. As obras que faz não têm conotação política, insiste Tsimba, que garante não tencionar seguir esse rumo. Ainda assim, quase tudo o que faz é moldado pelos destroços da guerra. As esculturas de mulheres com as mãos para cima, na parede, como se estivessem à espera de serem revistadas, são um exemplo disso.
Foto: DW/S. Oneko
Bendita entre os homens
Posando para a foto junto à Academia de Belas Artes de Kinshasa, Julie Djikey até parece ser tímida. Mas é na rua que esta artista performativa mostra os seus trabalhos. No curso de arte de Djikey havia muitas mulheres mas poucas seguiram a carreira. Não é fácil sobreviver como artista. Djikey já andou pelas ruas da capital Kinshasa, de Yaoundé (Camarões) e de Hannover (Alemanha).
Foto: DW/S. Oneko
Sensibilizar é o objetivo principal
O trabalho de Djikey foca os problemas enfrentados pelas mulheres. Aqui, por exemplo, andiz pelas ruas como uma mulher sofredora, sem roupa, "vestida" com peças de carros. Fotos de Djikey foram publicadas em diversas revistas africanas, mas que a rotulavam como doente metal ou bruxa. Djikey acredita, no entanto, que se as pessoas olharem realmente para as suas performances entenderão a mensagem.
Foto: DW/S. Oneko
A cena artística de Kinshasa
Dolet Malalu é parceiro de Djikey nas performances. Ele acredita que a arte não deve ser exposta apenas em museus, mas deve confrontar as pessoas nas ruas. Foi ele que filmou Djikey enquanto ela caminhava pelas ruas de Kinshasa. As obras de Malalu refletem a cena artística da cidade. Por exemplo, quando retrata os "sapeurs", homens elegantes que andam bem vestidos pelas ruas.
Foto: DW/S. Oneko
A Kalashnikov dourada
Malalu mostra as suas obras do lado de fora da casa da mãe. Na parede estão os "sapeurs" e à frente uma instalação, em que Malalu está sentado. É um trono dourado, uma Kalashnikov de plástico e dois capacetes que representam as Nações Unidas e o exército. A instalação original estava cercada por arame farpado. Um trono de um ditador. Intocável.
Foto: DW/S. Oneko
O Inconvencional
O artista Kura Shomali desenhou uma imagem e agora pede às pessoas que preencham os espaços em branco. Shomali fez o desenho no seu bairro, nos arredores de Kinshasa. Uma grande obra feita por muitas mãos.
Foto: DW/S. Oneko
Aprender fora das salas de aula
As crianças desta pacata comunidade nos arredores de Kinshasa conhecem o artista como "aquele que foi à França e à Europa". Com Shomali, elas podem pintar e dar asas à sua criatividade. Afinal, não há aulas de arte nas escolas, apesar de a capital ter uma das melhores escolas de artes plásticas da região.
Foto: DW/S. Oneko
Rebelde?
Quando era estudante, Shomali rebelava-se contra a tradição de belas artes da Academia na capital da RDC. As suas obras costumam retratar pessoas famosas como o lutador de boxe Muhammad Ali, que veio a Kinshasa em 1974 para a luta histórica "Rumble in the Jungle". Outro tema recorrente nas pinturas de Shomali é o papagaio. Talvez seja a sua consciência?