RDC: Partido do ex-Presidente Kabila suspenso pelo Governo
20 de abril de 2025
As autoridades congolesas suspenderam as atividades do partido do antigo Presidente Joseph Kabila, acusado de um "silêncio cúmplice" face ao grupo armado M23, apoiado pelo Ruanda, no leste da República Democrática do Congo (RDC), anunciou hoje uma fonte governamental.
Esta decisão surge num contexto político muito tenso entre as autoridades de Kinshasa e o campo de Kabila, que anunciou recentemente o seu regresso ao leste da RDC, parcialmente controlado pelo M23 (Movimento 23 de Março), apoiado pelo Ruanda e pelo seu exército.
As atividades do Partido Popular para a Reconstrução e a Democracia (PPRD) "foram suspensas em todo o país", de acordo com um comunicado de imprensa do Ministério do Interior assinado no sábado.
"Esta decisão surge na sequência do ativismo comprovado" de Kabila, líder do PPRD, nesta "guerra de agressão ruandesa e do silêncio culpado e até cúmplice" do seu partido, segundo o comunicado.
"Atitude ambígua"
O Ministério do Interior denunciou igualmente a "atitude ambígua" de Kabila, que "nunca condenou" a rebelião do M23 nem o apoio do Ruanda a este grupo armado antigovernamental.
Condenou igualmente a "escolha deliberada" do antigo chefe de Estado de "regressar ao país através da cidade de Goma, que está sob controlo inimigo e que, curiosamente, garante a sua segurança".
Num outro comunicado de imprensa, o Ministério da Justiça declarou que tinha pedido ao procurador-geral do Tribunal de Cassação (Supremo Tribunal de Justiça) "que iniciasse um processo judicial" contra Joseph Kabila "pela sua participação direta" no M23.
O partido de Kabila ainda não reagiu.
Conflito no leste congolês
O conflito no Leste da RDC intensificou-se nos últimos meses com a tomada pelo grupo armado M23 das duas principais cidades da região: Goma, capital da província do Kivu do Norte, e Bukavu, capital do Kivu do Sul.
O Presidente Félix Tshisekedi, que até agora não conseguiu encontrar uma saída para a crise, acusou várias vezes nos últimos meses o seu antecessor Joseph Kabila de estar a preparar "uma insurreição" e de coordenar ou pertencer à Aliança Livre do Congo (AFC), o movimento político-militar a que pertence o M23.
Joseph Kabila governou a RDC durante 18 anos (2001-2019) antes de ceder o poder a Félix Tshisekedi à custa de um acordo de coligação que se desfez ao fim de dois anos.
Na semana passada, equipas dos serviços de informação civis e militares fizeram uma rusga a uma propriedade da família Kabila em Kinshasa, "em busca de objetos ou equipamentos militares que possam ter sido roubados ou escondidos".