RDC: Guardas-florestais mortos em ataque no Parque Virunga
tm | AFP
10 de janeiro de 2021
Pelo menos seis guardas-florestais foram mortos hoje (10.01) num ataque perpetrado por homens armados no Parque Nacional de Virunga, no leste da República Democrática do Congo, afirmaram o parque e as autoridades locais.
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"Seis guardas-florestais do parque morreram hoje às 9h30 da manhã [hora local]na sequência do ataque de um grupo armado na área entre Nyamitwitwi e Nyamilima (centro do parque)", disse Olivier Mukisya, oficial de comunicações do Parque Nacional de Virunga à agência de notícias AFP, numa mensagem de correio electrónico.
"Um guarda do parque também foi gravemente ferido", acrescentou ele. Segundo um funcionário administrativo local, os guardas-florestais tinham sido atacados por milícias Mayi-Mayi.
"Os Mayi-Mayi emboscaram os guardas-flroestais no parque, em direcção a Nyamitwitwitwi. O balanço provisório é de seis guardas mortos, e dois Mayi-Mayi caíram durante os confrontos", disse Alphonse Kambale, um funcionário do governo em Nyamilima.
O balanço inicial foi confirmado pelo deputado provincial Elie Nzaghani, um representante eleito da região de Rutshuru, onde se situa a aldeia de Nyamitwitwi.
"Santuário de gorilas"
Os guardas-florestais são regularmente atacados por homens armados neste santuário de gorilas na montanha.
Mayi-Mayi, entretanto, é um termo geral usado para designar milícias de base comunitária, cujas acções vão desde a defesa dos interesses de grupos, até à criminalidade grave.
Criado em 1925, o Parque Nacional de Virunga é um Património Mundial da UNESCO. Esta reserva estende-se por 7.769 km2, entre paisagens com o historial de conflitos na província do Kivu Norte, desde Goma até ao território do Beni, entre as montanhas e florestas.
Ao pé do vulcão Nyiragongo a área protegida é o refúgio dos gorilas de montanha. Uma jóia natural, turística e ameaçada, o Virunga é também o cenário da conturbada região, onde grupos armados lutam pelo controlo das riquezas naturais.
O parque é controlado por 689 guardas-florestais armados, dos quais pelo menos 200 foram mortos no cumprimento do seu dever, na recente história do parque.
Parque Nacional de Virunga ainda ameaçado
O Parque de Virunga no Congo é uma das reservas naturais mais lindas do mundo. Por enquanto, os planos para perfurações de petróleo na reserva foram canceladas, mas mesmo assim o futuro do parque continua inseguro.
Foto: WWF/Brent Stirton
Sem poços de petróleo
A reserva ecológica mais antiga de África pode respirar de alívio. Em junho deste ano, a empresa britânica Soco anunciou que não vai perfurar poços de petróleo no Parque Nacional de Virunga no leste da República Democrática do Congo. Uma vitória para a organização ambiental WWF. Ela tinha apresentado uma queixa à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).
Foto: WWF/Brent Stirton
Proteção do meio ambiente com história
As perfurações da exploração petrolífera estavam projetadas para este lago. O Lago Eduardo fica no Parque Nacional de Virunga na fronteira com o Uganda. Já em 1925, os colonos belgas declararam o território como reserva ecológica. O espaço é único: vulcões ativos, florestas tropicais, savanas e montanhas cobertas de neve. Em 1979, a UNESCO nomeou o parque Património da Humanidade.
Foto: WWF/Brent Stirton
Medo de marés negras
Aproximadamente 50.000 famílias dependem do Largo Eduardo na aldeia Kavanyongi: o lago fornece água para beber e para cozinhar. Os peixes são a fonte mais importante de alimentação. Muitos dos habitantes da aldeia estavam preocupados que o seu lago seria poluído pelas perfurações de petróleo da empresa Soco.
Foto: WWF/Brent Stirton
Uma vida nova
No mercado semanal de Vitshumbi na margem sul do Lago Eduardo, as mulheres das comunidades locais vendem peixe seco. Muitas mulheres são refugiadas de outras regiões do leste da República Democrática do Congo, onde reina uma guerra entre milícias e o exército do país. O parque também foi palco de conflitos sangrentos. Entretanto, os refugiados acabaram de construir uma nova vida.
Foto: WWF/Brent Stirton
As montanhas dos gorilas
Nas montanhas vulcânicas do Parque Nacional de Virunga vivem aproximadamente 200 gorilas das montanhas. Os animais estão ameaçados de extinção e foram uma das rações para a declaração da região como Património Natural da Humanidade. A caça furtiva ameaça os animais. A carne deles é um petisco cobiçado.
Foto: WWF/Brent Stirton
Florestas vulneráveis
O Parque Nacional de Virunga é o habitat de mais de 700 espécies de aves e de 2.000 espécies de plantas. A biodiversidade está ameaçada: anualmente os habitantes abatem uma vasta área da floresta nativa para fornecer Goma, a capital da província de Kivu Norte, com lenha. As milícias também destroem as florestas para financiar as suas armas e munições com a venda de carvão vegetal.
Foto: WWF/Brent Stirton
Inclusão da população local
"Temos que mostrar às pessoas que a preservação da natureza pode ser útil, se não Virunga não pode sobreviver", diz Emmanuel de Mérode, o diretor do parque. Por isso, o belga promove a produção local de combustíveis orgânicos para substituir o carvão vegetal. Em abril, Mérode, que se opôs à exploração de petróleo, sobreviveu uma tentativa de atentado.
Foto: Getty Images
Exploração sustentável
O Parque Nacional de Virunga tem um potencial enorme: de acordo com um estudo dos ambientalistas do WWF, até 45.000 empregos poderiam ser criados nas áreas de energia hídrica, pescas, turismo ecológico, medicina, pesquisa científica e educação. Segundo o estudo, proteção ambiental e negócios não se excluem. O uso sustentável do Parque Nacional de Virunga poderia render um milhão de euros por ano.
Foto: WWF/Brent Stirton
Suspensão da exploração petrolífera até...
A RDC é um dos países mais pobres de África. A tentação das petrolíferas é grande. Depois da descoberta de petróleo em 2010, o Governo vendeu uma concessão para a Soco. A empresa combinou com o WWF suspender as perfurações, exceto se o "Governo e a UNESCO estão de acordo que esse tipo de atividades não viola o status de Património Natural da Humanidade". O parque continua na mira da petrolífera.