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RDC: Mortes e tensão marcam eleições

AFP | EFE | Lusa | John Kanyunyu
31 de dezembro de 2018

RDC inicia nesta segunda-feira a tensa espera pelo resultado final das presidenciais, que deve ser divulgado em 15 de janeiro. Quatro pessoas, incluindo um policial e um agente eleitoral, foram mortas neste domingo.

Kongo Beni improvisierte Wahl
Em Beni, eleitores improvisaram votaçãoFoto: DW/Musubao Didon

Segundo o influente Conselho de Bispos Católicos da República Democrática do Congo (RDC), após dois anos de atrasos no país notoriamente instável, as eleições deste domingo (30.12) prosseguiram com "relativa calma". Mas há relatos de confrontos nas assembleias de voto no leste da província de Kivu do Sul, que custaram a vida de um policial, um funcionário eleitoral e dois civis.

Embora a votação possa resultar na primeira transição pacífica do líder desde que o país conquistou a independência da Bélgica em 1960, analistas alertaram que a ameaça de reviravolta foi grande - devido a problemas na organização e desconfiaças em relação ao atual Presidente do país, Joseph Kabila, que se recusou a deixar o poder em 2016, após dois mandatos expirados.

Em Beni, Butembo e Yumbi, no leste da RDC, as eleições haviam sido canceladas pelo Governo por causa da situação de insegurança e sob argumento de ameaça do vírus ébola. Mesmo assim, cidadãos improvisaram votação, confirmou o correspondente de DW no local, John Kanyunyu. 

Durante o período pré-eleitoral, a credibilidade da eleição também foi prejudicada por atrasos e acusações de que as máquinas de votação eletrónicas ajudariam a fraudar o resultado. Apesar das controvérsias, Kabila apareceu na televisão pública neste domingo para parabenizar os congoleses por terem votado "em paz e dignidade".

Contagem dos votos

Eleitor vota em KinshasaFoto: Reuters/B. Ratner

Os observadores da Igreja Católica, que estavam presentes em 78 por cento das seções eleitorais, devem reportar nesta segunda-feira (31.12) sobre o processo de contagem de votos. Os resultados provisórios devem ser anunciados em 6 de janeiro, os resultados finais em 15 de janeiro e o novo presidente em 18 de janeiro.

Na noite deste domingo (30.12), a violência irrompeu em uma assembleia de voto na área de Walungu, na província de Kivu do Sul, depois que um funcionário eleitoral foi acusado de tentar manipular a votação em favor do sucessor de Kabila, segundo informou o chefe de campanha da oposição.

"Uma multidão agitada entrou em confrontos com a polícia. Um policial foi morto, o que lamentamos profundamente", disse Vital Kamerhe, que fazia campanha por Felix Tshisekedi. O grupo "atacou a autoridade eleitoral, que morreu. Dois civis também foram mortos", disse ele à agência de notícias AFP sobre o incidente que as autoridades de Kivu do Sul já afirmaram estar a investigar.

O candidato de Kabila, Emmanuel Ramazani Shadary, mostrou-se otimisma em declarações ao site de notícias Actualite.cd neste domingo: "Vocês viram como eu fiz a minha campanha, e tudo o que aconteceu. Eu serei eleito. Serei presidente a partir desta noite".

Já o candidato da oposição, Félix Tshisekedi, um dos maiores rivais e chefe do veterano partido da oposição, a União para a Democracia e o Progresso Social (UDPS) previu: "A vitória é nossa".

Favorito

Martin FayuluFoto: picture-alliance/AP/J. Delay

Entretanto, as pesquisas de opinião fazem de Martin Fayulu - até recentemente um legislador pouco conhecido e ex-executivo do sector de petróleo - o claro favorito.

Fayulu obteve cerca de 44% das intenções de voto, seguido por Tshisekedi com 24% e Shadary com 18%, de acordo com Jason Stearns, do Centro de Estudos do Congo, com o sede em Nova Iorque. Se as eleições forem "livres e justas", um candidato da oposição certamente vencerá. No entanto, "o potencial de violência é extremamente alto", alertou Stearns.

Quase metade dos entrevistados disseram que rejeitariam o resultado se Shadary - um ex-ministro do Interior de Kabila, que está a enfrentar sanções da União Europeia por repressão a manifestantes - fosse declarado vencedor.

Muitos eleitores disseram que estavam empolgados em participar das primeiras eleições depois dos quase 18 anos da era Kabila. "Sinto-me libertado, libertado", disse Victor Balibwa, um funcionário público de 53 anos, votando em Lubumbashi, região de mineração, no sudeste do país.

Máquinas de votação

Máquinas de votação na RDCFoto: Reuters/K. Katombe

Apesar do otimismo de alguns cidadãos que foram às urnas neste domingo, houve relatos de problemas com as máquinas de votação. Uma comissão de monitoramento com 40 mil observadores criada pela Igreja Católica disse que recebeu 1.543 relatos de incidentes no início da tarde. Desses, 544 envolviam "falhas nas máquinas de votação".

Em alguns lugares, longas filas marcam o dia de votação devido à falta de registos eleitorais ou porque os eleitores não conseguiam encontrar seus nomes nas listas. Em Imara, em Lubumbashi, Diane Mumba, uma eleitora de 30 anos, disse: "As máquinas [de votação] quebraram repetidas vezes nas últimas duas horas. Não sei quando vou votar."

A eleição presidencial na RDC aconteceu juntamente com as eleições legislativas e municipais. O país, de dimensões geográficas aproximadas ao tamanho da Europa Ocidental continental, é rico em ouro, urânio, cobre, cobalto e outros minerais. Entretanto, trata-se de uma riqueza que não chega aos mais pobres do país.

Nos últimos 22 anos, o país foi duas vezes campo de batalha de conflitos armados da África Central e Austral. Um legado que perdura nas selvas do leste da RDC, onde as milícias realizaram centenas de assassinatos.

Instabilidade política e uma recente epidemia de ébola em parte da província de Kivu do Norte, além da violência comunal em Yumbi, no sudoeste do país, levaram as autoridades a adiar as eleições neste locais até março de 2019. Cerca de 1,25 milhão de pessoas, de aproximadamente 40 milhões de eleitores, são afetados.

 

     

 

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