Analistas veem os problemas internos do segundo maior partido da oposição em Angola, CASA-CE, no contexto de um reajuste necessário da oposição política aos ventos de mudança que sopram no país.
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A imagem do líder da Convergência Ampla de Salvação de Angola – Coligação Eleitoral (CASA-CE), Abel Chivukuvuku, está abalada por divergências entre a oposição angolana. O político processou por difamação dois jornalistas da Rádio Despertar, órgão afeto ao principal partido da oposição, a União para a Independência Total de Angola (UNITA). António Festos e Queirós Chiluvia estão a ser acusados de crime de difamação por terem veiculado informação que revela alegado desvio de fundos da coligação por parte do líder da CASA-CE.
O analista e jornalista angolano Ilídio Manuel diz que Chivukuvuku está no seu direito: "Ele acha que precisa lavar a sua honra em praça pública. É natural que isso possa trazer algumas repercussões à própria coligação, uma vez que ela está bastante fragilizada nesta fase”.
Políticos abandonam CASA-CE
Por seu lado, David Mendes, deputado independente da UNITA e advogado dos partidos da coligação, também implicado no caso, ameaçou uma ação criminal contra Abel Chivukuvuku por crime de peculato.
A CASA-CE tem enfrentado várias dificuldades desde que os partidos políticos que a compõem negaram a transformação da coligação em partido político. Nos últimos tempos vários dirigentes têm vindo a abandonar o partido. Depois do regresso de Alexandre Dias dos Santos "Libertador”, responsável pela CASA-CE em Luanda, à UNITA na última quarta-feira (23.01), Francisco Viena, secretário-executivo da CASA em Benguela, também anunciou a sua desistência.
Encontro de independentes em fevereiro
"Os independentes que me estão a ouvir têm a plena consciência que a nossa sobrevivência política enquanto sobreviventes já não passa pela Convergência Ampla de Angola. Mesmo a sobrevivência política do próprio presidente Abel Chivukuvuku já não passa pela CASA-CE”, disse, na altura, Francisco Viana.
Reajuste político em Angola desafia partidos da oposição
A DW África tentou, sem sucesso, ouvir a propósito Abel Chivukuvuku, mas sem sucesso. Mas numa mensagem publicada pelo deputado Lindo Bernardo Tito na sua conta da plataforma social online Facebook e com autoria atribuída ao líder da coligação, apela-se à "serenidade, lucidez, firmeza e coragem" e anuncia-se um encontro dos independentes da coligação para o mês de fevereiro.
O analista Ilídio Manuel refere que quase todos os partidos políticos da oposição em Angola estão em crise. Os problemas beneficiam o Movimento pela Libertação de Angola (MPLA) no poder, que também atravessa um momento difícil, alerta: "É natural que esses tipos de clivagem façam com que o partido no poder consiga colher os seus dividendos e passar a ideia de que a crise não se verifica apenas no seio do MPLA, mas também nas outras formações políticas”.
Oposição deve assumir com seriedade o seu papel
Osvaldo Mboco outro analista político angolano diz que a oposição precisa adaptar-se aos novos ventos que sopram no país. A abordagem política do Presidente João Lourenço tirou força aos tradicionais argumentos da oposição de que "temos um país extremamente corrupto, que temos um país com bastante nepotismo e má governação”, disse Mboco à DW África.
É ainda necessário que a oposição assuma o seu papel, que é fiscalizar as ações do Executivo e reagir de imediato a determinadas posições tomadas pelo Governo de Luanda, acrescenta o professor universitário. E salienta: "Mas a função da oposição não é meramente opor-se à governação. É também a de contribuir com ideias”.
Eleições em Angola: Do combate à corrupção ao "Dubai africano"
A DW África analisou os principais factos que marcaram a campanha eleitoral angolana e as promessas mais faladas de cada partido concorrente às eleições gerais de 23 de agosto. Um resumo fotográfico.
Foto: privat
Pouco espaço para a oposição
Na pré-campanha, a oposição afirmou que nas ruas de Luanda só se viam cartazes do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA). Segundo a Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), as agências publicitárias recusavam-se a divulgar materiais da oposição, sob risco de perderem as licenças e os espaços publicitários atribuídos pelo Governo Provincial de Luanda.
Foto: DW/N. Sul de Angola
Propostas na rádio e televisão
Após a pré-campanha, a Comissão Nacional Eleitoral estabeleceu o período de 23 de julho a 21 de agosto para a campanha eleitoral. Além dos atos de massa, os partidos puderam apresentar as suas propostas nos meios de comunicação social do país. A oposição voltou a dizer que não teve o mesmo espaço que o partido no poder.
Foto: DW/B.Ndomba
Combate à corrupção
Combater a corrupção foi uma das metas apresentadas pelo MPLA. O partido no poder, que tem João Lourenço (foto) como cabeça-de-lista, reconheceu durante a campanha que o país "não pode mais sofrer com a corrupção". A ausência do candidato à vice-presidência, Bornito de Sousa, e do Presidente cessante José Eduardo dos Santos, que supostamente estavam doentes, também marcou a campanha eleitoral.
Foto: DW/ A. Cascais
"Interesse nacional"
Entre as propostas da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) está a gratuidade da educação até o ensino secundário. O maior partido da oposição também prometeu um Governo em que o "interesse nacional" esteja acima de "interesses partidários, setoriais ou pessoais". O partido liderado por Isaías Samakuva encerrou sua campanha eleitoral no Cazenga (foto), em Luanda.
Foto: DW/A. Cascais
Mudança depois de 42 anos
A CASA-CE, segundo maior partido da oposição, reuniu ao longo da campanha milhares de apoiantes em diferentes atos de massa nas províncias (foto em Benguela, a 29 de julho). No ato de encerramento, em Luanda, o candidato Abel Chivukuvuku pediu confiança dos angolanos para pôr fim aos "42 anos de sofrimento e má governação".
Foto: DW/N. S. D´Angola
Estados federados
A campanha do Partido de Renovação Social (PRS) foi marcada pela proposta de implantar um sistema federalista no país. O cabeça-de-lista Benedito Daniel (ao centro da foto) defendeu que só através dessa reforma as províncias angolanas – convertidas em estados – teriam autonomia para governar.
Foto: DW/M. Luamba
Angolano no "centro da governação"
A campanha da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) deu especial atenção à pobreza, saúde, educação e emprego. Liderado por Lucas Ngonda, o partido diz que é a "única formação partidária que tem o angolano como centro da sua governação". A abertura da campanha eleitoral aconteceu no Bié (foto), berço do antigo braço armado do partido, a União Para a Libertação de Angola (UPA).
Foto: DW/J. Adalberto
"Dubai africano"
A Aliança Patriótica Nacional (APN) é o partido com o candidato à Presidência mais jovem. Durante a sua campanha eleitoral, o ex-deputado Quintino Moreira (à esquerda na foto) prometeu criar um milhão de empregos – o dobro do que o MPLA prometeu nestas eleições. Além disso, disse que transformaria a província do Namibe num "Dubai africano".