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Desporto

Real Madrid despede Julen Lopetegui

Rui Almeida
31 de outubro de 2018

A goleada sofrida pelo Real Madrid frente ao eterno rival, Barcelona, foi a gota d´água para o clube tricampeão europeu. Lopetegui e madrilenos acordaram rescisão de contrato.

Julen Lopetegui é o treinador demitido que menos tempo esteve no Real Madrid.Foto: Reuters/P. Hanna

O Real Madrid rescindiu contrato com o treinador espanhol, Julen Lopetegui. Os tricampeões europeus chegaram à acordo com o antigo treinador do Futebol Clube do Porto e da seleção espanhola, para terminar uma relação contratual que não chegou a quatro meses. Lopetegui, de 52 anos, abandonou a seleção espanhola, dois dias antes da estreia no Mundial da Rússia, para assumir o comando do Real Madrid.

Julen Lopetegui, que orientou o FC Porto entre 2014 e 2016, será substituido por Santiago Solari, antiga estrela do Real Madrid e até à data, técnico da equipa B dos madrilenos. Lopetegui deixa o Real Madrid, a sete pontos do Barcelona no campeonato, com seis vitórias, dois empates e seis derrotas em todas as competições. 

Anunciado a 12 de junho, despedido a 29 de outubro. Ao todo, e desde o primeiro jogo oficial como treinador do Real Madrid, Julen Lopetegui esteve apenas onze semanas no banco, tornando-se no técnico com passagem mais curta no Santiago Bernabéu. Um registo negativo que pertencia ao brasileiro Vanderlei Luxemburgo, que conseguiu sobreviver até dezembro, antes de ser despedido, ao fim de quatro meses no comando técnico da equipa, no início da época 2005/06.

Mais curta foi a passagem de José Antonio Camacho, que esteve apenas 117 dias no cargo. Porém, ao contrário de Lopetegui ou Luxemburgo, não foi demitido: despediu-se.

Cristiano Ronaldo, o símbolo que o Real Madrid não esquece.Foto: Reuters/H. McKay

E depois de Cristiano Ronaldo?...

Quando Cristiano Ronaldo deixou o Real, duas dúvidas se levantavam: a da adaptação do jogador português a um novo emblema e a outro campeonato, e a da eficácia ofensiva dos "merengues". Foram rapidamente desfeitas pela eloquência dos números: Ronaldo está bem e recomenda-se na Juventus, onde já marcou sete golos e fez quatro assistências, e o Real Madrid é nono na liga espanhola, com quatro derrotas em dez jogos, e com 14 golos marcados (apenas o quinto melhor ataque da competição).

Os sinais de alarme têm-se intensificado, com a goleada sofrida na Catalunha a transformar-se na gota de água que transbordou a paciência de Florentino Perez. O líder do histórico emblema da capital espanhola já estará arrependido do "forcing" que protagonizou para a contratação de Lopetegui, antigo guarda-redes do clube e, até junho, selecionador espanhol, resgatando-o à equipa nacional a apenas dois dias do início da fase final do Mundial, na Rússia. Nessa altura, as relações entre Real e federação esfriaram e, quatro meses e meio volvidos, o técnico está já na porta de saída de um balneário difícil, com "estrelas" quanto-baste e órfão do seu verdadeiro "abono de família" dos últimos nove anos, Cristiano Ronaldo.

Pulso de ferro de Antonio Conte pode ser solução.Foto: Getty Images/AFP/M. Medina

Conte, os resultados antes das exibições

Antonio Conte será o senhor que se segue, interrompendo as férias prolongadas após a saída do Chelsea. O italiano de 49 anos é um vencedor por natureza: tricampeão italiano com a Juventus, campeão inglês no Chelsea. Como jogador, foi vice-campeão do mundo em 1994, nos Estados Unidos da América, e vice-campeão europeu em 2000, na Holanda e na Bélgica. É uma figura incontornável do futebol italiano e mundial que preenche os requisitos de Florentino Perez: espírito de conquista, disciplinador de balneário, orientado para os resultados, pulso forte e mão de ferro.

Para algumas das principais figuras do Real Madrid talvez Conte não seja uma excelente notícia. Confrontado com essa possibilidade, o "capitão" Sergio Ramos foi, no mínimo, enigmático na reação, logo após a derrota sofrida em Barcelona: "O respeito ganha-se, não se impõe", para concluir, em jeito de conselho ao novo técnico, que "a gestão do balneário é mais importante que os conhecimentos de um treinador." O defesa "internacional" espanhol é, após a saída de Cristiano, a maior referência de um Real Madrid refém da sua história recente. As três vitórias consecutivas alcançadas, nos últimos anos, na Liga dos Campeões não apagam, contudo, o pobre pecúlio doméstico: nos últimos seis anos, os "blancos" foram apenas uma vez (em 2016/2017) campeões espanhóis.

Diego Simeone, a estabilidade no rival Atlético.Foto: Getty Images/C. Rose

Atlético, um rival que não dá tréguas

Em Madrid, há um rival à espreita. O Atlético de perfil europeu, orientado por Diego Simeone, ganhou peso e músculo desde que, em 2014, chegou à final da Liga dos Campeões (perdida, em Lisboa, para o Real Madrid, após prolongamento). O palmarés dos "colchoneros" é rico, nos últimos dez anos: campeão nacional em 2014, duas vezes vice-campeão europeu, três vitórias na Liga Europa e outras tantas na Supertaça Europeia.

Enrique Cerezo é um presidente atento e ambicioso. À inauguração recente do estádio Wanda Metropolitano, quer juntar a Champions League, mas a vontade e a valia dos jogadores à disposição de Simeone podem não ser suficientes. Na última semana, por exemplo, o Atlético foi goleado em Dortmund, por 4-0, no pior resultado europeu desde que o argentino é responsável dos madrilenos. Um susto no Signal Iduna Park que até pode servir para relançar o maior sonho da época: jogar, no dia 3 de junho de 2019, a final da Liga milionária no seu estádio.

Sergio Ramos e Diego Costa: "luta de galos" na capital espanhola.Foto: Getty Images/AFP/J. Soriano

E quando comparamos o trabalho dos eternos rivais da capital espanhola, o que sobressai é a estabilidade da estrutura "colchonera", com o mesmo treinador há oito anos. Diego Simeone, antigo "internacional" argentino, chegou para ficar no Vicente Calderón, criou um espírito batalhador e de vitória, operário e muito eficaz. Assistiu à mudança de estádio e resistiu à mudança de ares. Propostas não lhe faltam todos os anos, mas Simeone é resiliente e obstinado. Agora, poderá ter no Paseo de la Castellana um adversário à altura. Da mesma idade, com o mesmo peso futebolístico enquanto jogador e treinador e, sobretudo, com a mesma característica fundamental: pulso forte para gerir balneários, o primeiro segredo para o sucesso no futebol.

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