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ConflitosEtiópia

Rebeldes de Tigray cada vez mais perto da capital da Etiópia

Martina Schwikowski | Ineke Mules | bd | com agências
3 de novembro de 2021

Um ano depois do início do conflito, rebeldes da Frente Popular de Libertação do Tigray em guerra com o Governo etíope aproximam-se da capital. ONU denuncia "crimes contra a humanidade" cometidos por ambas as partes.

Foto: Yasuyoshi Chiba/AFP/Getty Images

Os rebeldes da Frente Popular de Libertação do Tigray (TPLF) ganham terreno, intensificam os combates e estão agora cada vez mais perto da capital do país, Addis Abeba. A tomada, no último fim-de-semana, de Dessie e Kombolcha, duas cidades localidades a 400 quilómetros da capital, poderá mudar o rumo do conflito que começou há precisamente um ano.

Em resposta, o Governo liderado por Abiy Ahmed decretou ontem (02.11) o estado de emergência em todo o território nacional, com efeito imediato e por um período de seis meses para, segundo o Executivo, controlar as forças rebeldes e evitar a desintegração do país.

Os rebeldes da TPLF entendem o estado de emergência declarado pelas autoridades como uma forma "para prender ou matar tigreanos à vontade". "Como o regime do primeiro-ministro, Abiy Ahmed, está à beira do colapso, os seus tenentes estão a desencadear um reino de terror e vingança", disse o porta-voz dos rebeldes, Getachew Redá.

Crimes contra a humanidade

O conflito na região do Tigray é marcado por uma "brutalidade extrema", considerou hoje a Alta Comissária para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, na apresentação de um inquérito que pode indiciar "crimes contra a humanidade" cometidos por todas as partes. 

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"A gravidade das violações e dos abusos que identificamos ressaltam a necessidade de responsabilização dos responsáveis, independentemente do lado em que se encontrem", disse em Genebra. O inquérito foi elaborado conjuntamente com a Comissão dos Direitos Humanos da Etiópia, criada pelo governo de Addis Abeba.

"Existem razões para acreditar que todas as partes em conflito na região do Tigray cometeram, em vários níveis de gravidade, violações contra o direito internacional, direito humanitário e direito internacional dos refugiados, o que pode constituir crimes de guerra ou crimes contra a humanidade", indica o documento.   

"Este relatório é uma oportunidade para todas as partes reconhecerem responsabilidades, para se empenharem em medidas concretas sobre responsabilidades, na reparação (dos crimes) junto das vítimas, e de encontrarem uma solução duradoura para porem um fim ao sofrimento de milhões de pessoas", disse Daniel Bekele, da Comissão Etíope dos Direitos Humanos, citado no comunicado na Alta Comissária da ONU

A investigação também levantou dúvidas em relação à imparcialidade dos relatos porque um dos investigadores do Alto Comissariado foi expulso pelas autoridades juntamente com outros seis funcionários da ONU. 

"Conselho de Segurança falhou"

Em Addis Abeba, os habitantes preparam-se para o pior cenário possível de guerra. As autoridades pediram aos cinco milhões de residentes na capital que registem as suas armas de fogo no prazo de dois dias e que se preparem para defender a cidade. 

Mulugeta Gebregziabher, natural de Tigray e professor na Universidade de Medicina da Carolina do Sul nos EUA, disse à DW que ficou provado que o Conselho de Segurança da ONU falhou. Diz também que os Estados Unidos e a União Europeia (UE) nunca passaram das palavras à ação para resolver o problema no Tigray.

Guerra estalou a 4 de novembro de 2020 e já fez dois milhões de deslocados internosFoto: Eduardo Soteras/AFP

"Alguns Governos, o próprio Conselho de Segurança da ONU, também os EUA e a UE tentaram desanuviar o conflito para resolver este problema; Mas não foram além de meras palavras de preocupação. A ação ficou aquém das expetativas e ficou evidente que o Conselho de Segurança realmente falhou", critica.

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, já apelou a "uma cessação imediata das hostilidades” na Etiópia, expressando assim "grande preocupação” pela situação no terreno. Segundo a ONU, cerca de sete milhões de pessoas precisam de ajuda humanitária só em Tigray.

Maior envolvimento da União Africana

Yonas Adaye, diretor do Instituto de Estudos para a Paz e Segurança em Addis Abeba, defende que a União Africana (UA) deveria estar mais envolvida na procura de uma solução para o conflito - sem conflitos de interesses do Ocidente. "Neste momento, o melhor é que a Etiópia siga o seu caminho e trabalhe com a UA. E quando se vislumbre o fim dos combates, aí sim pode contar com a ajuda alimentar e de reconstrução por parte da comunidade internacional", argumenta.

As comunicações estão cortadas em grande parte do norte da Etiópia e o acesso é restrito. Há relatos de que foi cortado o fornecimento de água canalizada, eletricidade e bloqueado o fornecimento de ajuda humanitária, com fortes bombardeamentos na capital regional, Mekele.

Mulugeta Gebregziabher, que fundou uma organização que apoia a reconstrução de centros de saúde no norte do país, diz que a situação é catastrófica e exige que "o cerco de Tigray deve ser levantado por completo, com acesso sem entraves para os trabalhadores humanitário e todas as tropas devem retirar-se imediatamente das áreas de combate."

Os recentes bombardeamentos provocaram indignação internacional e perturbaram o acesso das Nações Unidas à região, que está sob um bloqueio à ajuda humanitária. Estima-se que mais de 400 mil pessoas em Tigray estão em risco de fome e mais de dois milhões já fugiram da região.

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