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Rebeldes na Líbia estariam atirando com armas alemãs

1 de setembro de 2011

Soldados alemães não participaram dos confrontos entre insurgentes líbios e forças leais a Mouammar Kadhafi. Mas imagens mostram armas alemãs entre os líbios - fato relatado pelo ativista Jürgen Grässlin há meses.

Jürgen Grässlin apontou para o uso de armas alemas no conflito líbioFoto: picture-alliance/dpa

Já no dia 4/3, cerca de duas semanas depois do início da insurreição contra o regime do dirigente Mouammar Kadhafi na Líbia, Jürgen Grässlin, conhecido na Alemanha pelo ativismo anti-armas, apontou para o uso de fuzis do fabricante alemão Heckler & Koch no levante líbio.

Naquela altura, o comunicado de imprensa de Grässlin, que também é porta-voz da Associação Alemã pela Paz, passou praticamente despercebido.

Nesta quinta-feira (1/9), o ativista pela paz receberá o Prêmio da Paz de Aachen, na Alemanha, devido ao empenho contínuo contra as exportações de armamentos.

Agora, muita gente no país também está se perguntando por que os rebeldes líbios estão usando armas G36 fabricadas em Oberndorf, no sul da Alemanha.

Armas alemãs na Líbia

O fato é que depois da conquista da capital líbia Trípoli pelos rebeldes, jornalistas divulgaram fotos da tomada do complexo residencial de Kadhafi e as imagens mostram rebeldes carregando fuzis Heckler & Koch (H&K).

Jan Van Aken, ex-inspetor de armas das Nações Unidas e atual deputado do partido alemão Die Linke (A Esquerda), exige que se crie uma comissão de investigação no Bundestag (Câmara Baixa do Parlamento alemão).

Na opinião dele, só existem três possibilidades de como estas armas foram parar na Líbia: "a H&K pode ter fornecido armas ilegalmente, sem autorização. Ou então eles forneceram as armas a terceiros – que acabaram levando o armamento à Líbia. Ou ainda: o governo alemão está mentindo", explica Van Aken.

O ex-inspetor acredita que a primeira coisa a fazer é levar o caso à Promotoria pública para investigar a H&K. "Em segundo lugar, quero saber direitinho do governo alemão quem aprovou o que e quando”, acrescentou.

A empresa se defende

G36, da Heckler & KochFoto: picture-alliance/dpa

A Promotoria pública alemã já foi acionada. A própria empresa Heckler & Koch apresentou queixa contra desconhecidos – já que o fabricante nunca enviou armas à Líbia, segundo publica o website da organização. O fornecimento dos fuzis poderia, portanto, ter ocorrido de forma ilegal.

Na Alemanha, é a lei de controle de armas de guerra que regula a venda de armamentos. O ministério da Economia e da Tecnologia é o responsável por autorizar ou vetar as exportações.

Aparentemente, o ministério autoriza tantas vendas que a Alemanha acabou se tornando o terceiro maior exportador de armamentos do mundo, segundo o Instituto Internacional de Pesquisas para a Paz de Estocolmo (SIPRI), que tem apoio do governo sueco.

Envolvida em outros escândalos

Em janeiro deste ano, a Heckler & Koch já esteve envolvida em escândalo por ser acusada de exportar ilegalmente revólveres e rifles automáticos para regiões proibidas no México, dominadas pela guerra do narcotráfico.

Há quase trinta anos, o ativista Jürgen Grässlin investiga o fabricante H&K. Para ele, também o fuzil G36 é cobiçado internacionalmente por ser mais leve e mais preciso que o antecessor G3. Segundo a imprensa alemã, o G36 é o fuzil padrão da Bundeswehr, o Exército alemão.

Empresa Heckler & Koch em OberndorfFoto: picture alliance / dpa

Armas exportadas, armas registradas

Segundo Grässlin, as armas encontradas na Líbia foram fabricadas em 2003. Ele acredita que o material teria sido exportado ou pelo fabricante, H&K, ou por meio de um país-membro da NATO, a Organização do Tratado do Atlântico Norte.

De acordo com o ativista, qualquer arma produzida e exportada pela H&K precisaria ser registrada no chamado 'livro de controle de armas de guerra' da empresa. Desta maneira, seria possível identificar que países receberam armas G36 em 2003.

A corrupção

Também o especialista em armamentos no Centro Internacional para Conversão de Bonn (BICC), na Alemanha, Michael Ashkenazi, confirma que especialmente compradores "endinheirados" sempre encontram um meio de burlar as regras de exportações de armamentos – por exemplo em países em desenvolvimento.

"O grande problema é que quando as armas já foram fornecidas para alguém, e o sistema do país receptor é corrupto, ou acontece uma revolução – como na Líbia – então milhares de armas podem desaparecer de uma hora para a outra”, explica.

Para a Deutsche Welle, no entanto, Ashkenazi afirmou que, analisando as imagens de fuzis G36 existentes até agora, não haveria um grande número de armas da Heckler & Koch na Líbia.

Para além das armas

Não apenas armas chegaram ao governo de Mouammar Kadhafi vindas do exterior. Repórteres do jornal norte-americano The Wall Street Journal revelaram, no início da semana, que encontraram a central de vigilância das telecomunicações na Líbia em Trípoli. A central teria equipamentos ultramodernos vindos da França, da China e da África do Sul – incluindo unidades da chamada 'deep packet inspection'.

Com a minuciosa inspeção, seria possível identificar emissários e receptores de um pacote de dados e fazer buscas automáticas em conteúdos como mensagens de chat, e-mails e até a abertura de páginas de internet.

Autoras: Renate Krieger / Bettina Riffel
Edição: António Rocha

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